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Aplicativo promove “match” entre indústria e mercados de bairro

O app Souk permite que empresas como Seara, Nestlé e Tirolez vendam produtos a pequenos comerciantes utilizando um sistema de “leilão”, sem necessitar de intermediários

Souk: app se torna atrativo aos comerciantes por causa dos descontos (Souk/Divulgação)
KS

Karina Souza

Publicado em 2 de abril de 2021 às 10h00.

Aproximar alimentos próximos do vencimento dos comerciantes: foi com essa missão que nasceu o aplicativo Souk, criado em 2018. Por meio de um modelo de leilão holandês (aquele em que o preço é reduzido progressivamente até que o menor vença), o app cadastrava indústrias e minimercados, fazendo com que os pequenos empresários conseguissem comprar produtos de seu interesse -- e com tempo suficiente para vendê-los -- a preços atrativos.

“Para a indústria, ter um produto com data de validade dali duas semanas é um prejuízo significativo, pois as grandes redes de supermercados não têm tempo suficiente para vendê-los e, portanto, não compram. Uma das alternativas mais populares que eles tinham era a de vender para as redes de atacado, com preços em média 70% menores do que o original. Nosso objetivo foi o de mudar essa realidade”, diz Roberto Angelino Filho, CEO do Souk.

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O modelo inicial trouxe um crescimento consistente da base de comerciantes cadastrados. E, com isso, a empresa decidiu ampliar a gama de produtos ofertados: passou, também, a vender produtos que não estavam com o fim da data de validade próximo. Como resultado, a plataforma conta hoje com 22 mil comerciantes cadastrados e, entre na outra ponta, com fornecedores como Seara, Nestlé e Tirolez.

Para rentabilizar a operação, a plataforma cobra um percentual variável da indústria por cada venda realizada -- se não vender nada, também não terá custos com a plataforma. A empresa não divulga valores absolutos de faturamento, mas afirma que, em 2020, cresceu 30% em relação a 2019 e R$ 240 milhões em transações foram feitos usando a plataforma, o que corresponde à venda de 2,5 mil toneladas de alimentos por mês.

Em relação aos fatores que trouxeram esse crescimento, o CEO afirma que a pandemia tem seu papel -- com o distanciamento social, menos vendedores nas ruas e mais tempo diante do computador, comerciantes ingressaram com fôlego no aplicativo -- mas também destaca o papel que o sortimento diversificado desempenhou.

“Comerciantes fora das grandes redes de supermercados têm, geralmente, a visita de vendedores a cada 15 dias. Pode não parecer, mas para eles esse é um prazo longo. Sair desse cenário para uma plataforma em que eles podem fazer pedidos todos os dias, a qualquer horário, é um ponto positivo para nós. Hoje, 27% dos lances dados na plataforma acontecem fora do horário comercial, por exemplo”, diz Roberto.

Para os mercados

Em um momento econômico no qual a alimentação do paulistano tem alta de 29%, a possibilidade de vender mais produtos -- obtendo margens melhores -- vem a calhar.

É o caso do supermercado Vovó Zuzu, localizado no centro de São Paulo. Presente desde 1999 na região, o estabelecimento sentiu o baque nas vendas e procurou alternativas para comprar um sortimento variado e em poucas quantidades. Daí, conheceu o Souk.

“A gente fica online na plataforma o dia todo. Achei interessante ter acesso a esse tipo de operação por conta própria e, desde o ano passado, fazemos uso frequente do aplicativo. Continuo comprando os produtos do dia a dia com o vendedor, mas uso o Souk para encontrar oportunidades de produtos mais caros, que geralmente não compraria”, afirma Francisco Pinheiro Barbosa, gerente de compras do supermercado.

Também é o caso de Dionizio Barreto, responsável pelas compras da Lojinha Outlet, em Itanhaém. “Eu trabalho com produtos refrigerados, não congelados, e com tíquete médio baixo porque vendo para as classes C e D. Uso o Souk principalmente pelo preço. Por exemplo, hoje de manhã a mortadela era vendida a R$ 2,20 e, agora, está a R$ 1,42. Seria muito difícil que eu conseguisse um preço como esse”, afirma.

Entregas

Um ponto importante no modelo de operação do Souk é que o app não faz a logística das entregas -- sendo essas de responsabilidade da indústria responsável pela venda.

Questionado a respeito do quanto isso “compensa”, Renato Ottati, gerente de pricing da Seara, responde que o custo-benefício existe, sim, porque a empresa fixa um pedido mínimo a ser realizado pela plataforma. “A gente concentrava a venda de produtos próximos da validade em poucos clientes, mas queria melhorar a rentabilidade. Conseguimos isso e, ao mesmo tempo, incentivamos um mix de produtos mais variado dentro da plataforma”, afirma.

A oferta do Souk se soma à de outras empresas que buscam reduzir o desperdício de alimentos e melhorar preços. De olho nos consumidores finais, o app SuperOpa permite queclientes comprem produtos direto das distribuidoras com 5% a 10% de desconto sobre os preços praticados no varejo

Ainda assim, o desperdício de alimentos é um problema global. Estimativas da ONU divulgadas recentemente apontam que cerca de 20% dos alimentos, ou quase 1 bilhão de toneladas, é despediçada anualmente."Se o desperdício e a perda de alimentos fossem um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do mundo", observa Richard Swannel, diretor de desenvolvimento da ONG britânica Wrap e co-autor do estudo publicado pela ONU

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