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Um mês depois, nacionalização não gera resultados para a Bolívia

Suspensão de investimentos e indefinição do preço do gás preocupam empresários do país vizinho

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h38.

Anunciada com estardalhaço pelo presidente boliviano Evo Morales há exato um mês, a nacionalização do setor petrolífero ainda não rendeu resultados concretos ao país. Ou melhor: os resultados não foram os esperados, pelo menos até agora. A medida já é criticada pelos próprios empresários bolivianos, preocupados com a desarticulação do setor desde o anúncio das medidas.

Para Enrique Menacho, ex-presidente da Cámara Boliviana de Hidrocarburos (CBH) e atual membro da diretoria da instituição, o país enfrentou vários problemas durante o primeiro mês de vigência do decreto. A venda de gás não apresentou o mesmo desempenho, não foram assinados novos contratos de exportação, e o ambicionado reajuste de preços não saiu do papel. Segundo o jornal boliviano El Deber, os empresários bolivianos estão preocupados com o "virtual congelamento do processo" de negociação entre seu governo e os demais países afetados pela nacionalização - entre eles, o Brasil, cujos investimentos de sua petroleira estatal, a Petrobras, somam 1,5 bilhão de dólares no país.

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De acordo com Menacho, as companhias estrangeiras que atuam no país suspenderam os investimentos no setor petrolífero, diante das incertezas geradas pelas medidas de Morales. Outra apreensão dos empresários é de que essa situação se arraste por mais tempo, já que, no decreto de 1º de maio, ficou determinado um prazo de seis meses para que as petroleiras estrangeiras renegociem seus contratos com a Bolívia. Menacho também fez ressalvas sobre os fiscais designados pelo governo para acompanhar a operação das plantas de extração e refino nacionalizadas. Para o empresário, as pessoas indicadas não têm qualificação técnica para supervisionar esses trabalhos.

Rebatendo as críticas do setor privado, o presidente da Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Jorge Alvarado, afirmou que as negociações estão em curso e que a formulação de novos contratos é lenta, devido aos detalhes que devem ser observados. "Não se pode esquecer que se passou apenas um mês desde a nacionalização, e é preciso cumprir as regulamentações para fechar novos acordos. Isso toma tempo", declarou.

O governo boliviano, porém, parece concentrar suas ações na mídia e não no diálogo com as companhias estrangeiras. Apesar de o ministro dos Hidrocarbonos, Andrés Soliz, afirmar, nesta quarta-feira (31/5), que espera dobrar o valor do gás natural vendido ao Brasil para 7,5 dólares por milhão de BTU (unidade térmica britânica, referência internacional para a venda de gás), a Petrobras declarou que nenhuma proposta formal foi encaminhada até o momento. A informação é de outro jornal boliviano, o La Razón. "Existe um contrato em vigor, que está sendo perfeitamente cumprido. Até agora, a Petrobras não recebeu nenhum pedido formal", afirmou à publicação o diretor de Gás e Energia da estatal brasileira, Ildo Sauer.

A falta de resultados práticos já divide também a população boliviana. Em uma pesquisa realizada pelo La Razón em seu site, 35,38% dos participantes afirmaram que a nacionalização enfrentará problemas; outros 32,53% disseram que ela não irá adiante; e 32,09% apostam que as medidas serão implantadas sem nenhum problema. A pesquisa contou com 17 978 respondentes.

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