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Sucessão presidencial no Peru deve fortalecer relações com Brasil

Para analistas, interesse do país vizinho pode trazer lucro para empresas brasileiras

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h38.

Quando Alan Garcia suceder Alejandro Toledo na presidência do Peru, no dia 28 de julho, o Brasil ganhará um aliado na América do Sul. Declaradamente interessado em uma aproximação com o maior vizinho da América do Sul, a ponto de realizar visita a Brasília nesta semana, o presidente eleito peruano representa, segundo analistas, a chance de um fortalecimento das relações entre os dois países que pode trazer ganhos em dólares nas contas brasileiras.

Não que brasileiros e peruanos vivam em inimizade. Alejandro Toledo, o atual presidente do Peru, nunca rejeitou a cooperação com o Brasil. Mas o fato é que, como explica Roberto Romano,  professor de filosofia política da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Toledo teve de se concentrar em consertar um país deixado em frangalhos pela corrupção e violência contra a guerrilha maoísta promovida durante o governo de Alberto Fujimori. Garcia, por sua vez, venceu as eleições no Peru como o candidato anti-Chávez, ou seja, contrário à ideologia nacionalista pregada pelo presidente venezuelano e adotada pelo segundo colocado no pleito peruano, Ollanta Humala. Seu mandato na presidência tem significado importante na geopolítica da América Latina. E é consciente disso que Garcia  recorrerá ao Brasil.

"As tensões diplomáticas com Hugo Chávez têm sido muito fortes, e o Brasil é um país que foge da retórica anti-americana, não mantém uma hostilidade profunda em relação aos Estados Unidos", diz Romano. Para o professor, Garcia busca no governo brasileiro um aliado neutro no cone sul das Américas, coisa cada vez mais rara em meio à disseminação da política nacionalista de Chávez em países como Bolívia e Equador, que recentemente rescindiram contratos de exploração de petróleo com companhias estrangeiras. O alinhamento a uma política nacionalista como a do líder venezuelano poderia arriscar as relações do Peru com os Estados Unidos, com quem possui um acordo de livre comércio.

Se o Peru está prevenido contra a difusão do "chavismo", é o Brasil quem pode ganhar, afirma Romano. O professor prevê o florescimento da cooperação entre os dois vizinhos não só na área comercial, mas também na tecnológica, por meio de parcerias na exploração de petróleo e gás. A opinião é confirmada pelas recentes declarações de Garcia, que afirmou ter interesse em ampliar a atuação da Petrobras no Peru, por meio de uma associação com a estatal petrolífera daquele país.

Impacto nas exportações

O fluxo comercial também deve aumentar. Em 2005, as exportações brasileiras para o Peru cresceram 47%, somando quase 1 bilhão de dólares - uma participação pequena, que coloca o vizinho como o 27º comprador dos nossos produtos. As vendas podem aumentar com a sucessão presidencial, acredita Alberto Pfeifer, diretor-executivo do Conselho de Empresários da América Latina (CEAL). "Acho que esse é o momento de aproveitar para renegociar ou expandir os acordos comerciais nos próximos três meses e estabelecer um marco muito claro de cooperação", afirma. Hoje Brasil e Peru possuem acordo no âmbito da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) , que concede preferências tarifárias aos membros. Pfeifer acredita que o desejo de aliança de García com o Brasil abre um caminho fácil para derrubar ainda mais as tarifas existentes e ampliar o total de produtos brasileiros comprados pelo vizinho.

Baratear o preço dos produtos comercializados entre os dois países também é o interesse de Garcia, mas por enquanto o presidente eleito só se manifestou a respeito daqueles que vêm de lá para cá - um volume de 458 milhões de dólares no ano passado. Durante sua visita ao Brasil, que incluiu um encontro com o presidente Lula, Garcia afirmou que investimentos em infra-estrutura rodoviária podem fazer a produção agrícola do Peru chegar ao Amazonas com preço mais baixo.

Mas esses investimentos também são promissores para o Brasil. É na área dos transportes que se desenvolve o projeto mais ambicioso - e que se promete o mais lucrativo - de cooperação entre Brasil e Peru: a rodovia Interoceânica. Com 2.600 quilômetros de extensão, ela será para os exportadores brasileiros uma rota de escoamento de produtos para o continente asiático pelos portos peruanos do Oceano Pacífico, com custo total de 810 milhões de dólares. Uma atenção maior do dirigente peruano pode acelerar as obras naquele país, que se iniciariam em setembro de 2005 e devem ser concluídas em 2009. "Hoje nosso grande campo de comércio internacional é o Atlântico. A saída para o Pacífico é fundamental do ponto de vista estratégico, basta imaginar como seria mais fácil chegar a um mercado como o da China", diz o professor Romano, da Unicamp.

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