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Generosidade de países emergentes é questionada pelo G-8

Novos países entram no seleto clube de credores e causam preocupação em seus companheiros mais antigos

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2010 às 18h38.

Demonstrações de generosidade são uma das maneiras de os ricos e poderosos se distinguirem da plebe. Atualmente no comando do G8, que reúne as nações ricas e poderosas do planeta, a Rússia vem se esforçando para provar que realmente pertence a esse grupo. Na semana passada, enquanto os ministros de Economia do G8 chegavam a São Petersburgo para uma reunião, o governo russo confirmava o perdão a uma dívida de cerca de 700 milhões de dólares de países pobres.

Esse novo comportamento não é exclusividade da Rússia. Segundo reportagem da revista The Economist, o Brasil e outras três nações aspirantes - China, Índia e Coréia do Sul - mereceram um convite para o encontro em São Petersburgo graças a seu crescente papel como benfeitores de países menos afortunados.

Esses novatos no mercado de assistência costumam ter abordagens conservadoras. O Brasil dá lições de luta contra a AIDS a seus vizinhos latino-americanos, mas é uma exceção. Em geral esses novos doadores dão mais importância à construção de infra-estrutura física (mesmo que seja apenas para tornar mais fácil o escoamento de commodities para fora dos países que estão ajudando) do que à promoção de desenvolvimento humano. Eles tendem a emprestar dinheiro barato em vez de doar, e gostam de ver seus recursos gastos em bens e serviços que eles mesmos oferecem. A China, de longe o maior desses novos doadores, disse recentemente que destinaria 10 bilhões de dólares em três anos sob forma de empréstimos baratos e créditos de exportação.

O G8 recebeu bem os novos doadores, mas já demonstrou preocupação de que esses países venham a repetir erros que os mais antigos levaram anos para corrigir. Entre as décadas de 1970 e 1980, muitos governos, especialmente africanos, contraíram dívidas impagáveis de múltiplos credores, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Os líderes do G8 concordaram em sanar essas dívidas. Agora, temem que dinheiro chinês, por exemplo, coloque esse círculo vicioso novamente em operação. Um estudo do economista William Easterly, da Universidade de Nova York, mostra que governos altamente endividados tendem a substituir rapidamente dívidas perdoadas por novos empréstimos, para os quais também esperam perdão. A opinião do Banco Mundial é a de que, se os endividados não sabem dizer não, os credores terão de aprender a negar-lhes empréstimos, para seu próprio bem.

A preocupação do G8 talvez tenha também uma ponta de ressentimento. Os emprésgtimos contraídos de novos credores serão pagos (se forem) somente porque os antigos não foram. Ao perdoar as dívidas dos países pobres, os cidadãos dos países do G8 poderão estar, na verdade, subsidiando as aventuras mercantilistas da China na África.

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