O que o erro de US$ 4,3 bilhões de Buffet pode ensinar a investidores
O chamado "oráculo de Omaha" assumiu que pagou demais pela fusão da Kraft e a Heinz após perder 4,3 bilhões de dólares em apenas um dia
Marília Almeida
Publicado em 27 de fevereiro de 2019 às 05h00.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2019 às 09h41.
São Paulo - Um dos maiores investidores do mundo, Warren Buffett não escapa de dar umas "escorregadas". A diferença é que uma escorregada do "oráculo de Omaha" pode custar muito dinheiro, e em pouquíssimo tempo.
Em entrevista à rede de televisão americana CNBC, Buffett , assumiu nesta segunda-feira (25) que pagou "caro" pela fusão entre as gigantes de alimentos processados Kraft e Heinz, realizada em 2015. O mega investidor disse isso após perder 4,3 bilhões de dólares em um único dia, por conta da queda de 27,5% das ações da companhia na bolsa americana.
A Kraft Heinz reportou um prejuízo de 12,5 milhões de dólares no quarto trimestre do ano passado, reduziu o valor de seus ativos em 15 bilhões de dólares, cortou dividendos e anunciou que suas práticas contábeis estão sendo investigada pela CVM americana, a SEC.
A empresa de investimentos de Buffett, a Berkshire Hathaway, é dona de quase um terço do negócio, no qual entrou em parceria com a 3G Capital, do empresário brasileiro Jorge Paulo Lehmann. Além da gigante de alimentos, a empresa também tem fatias em cerca de 50 negócios. Entre eles, estão empresas do segmento de energia, de logística e seguros. Buffett é conhecido como o mestre do investimento de valor: ele busca aplicar em negócios com avaliação razoável e grande potencial de crescimento.
Na entrevista, Buffett não entra em detalhes sobre o quanto pagou a mais pelo negócio. Mas dá sinais do que deu errado na sua avaliação da empresa. O mega investidor comenta, por exemplo, que subestimou o poder de grandes varejistas, como Walmart, e suas crescentes marcas próprias.
O consultor especialista em varejo Juracy Parente explica que, se o produto não for líder em seu segmento, a fabricante costuma ser pressionado pelos varejistas a reduzir o seu preço. "Essa é uma tendência global. E se a fabricante não concorda, pode ficar fora da rede por algum tempo".
Outro erro na avaliação de Buffett, de acordo com o analista Clodoir Vieira, parece ter sido confiar muito na solidez e tradição das marcas nas quais estava investindo, sem levar em conta o aumento da concorrência e inovações no mercado. "As novas marcas vê, com mais tecnologia e, portanto, custo menor. Ter uma boa marca é importante, mas ter uma planta de fábrica ultrapassada deixa o produto mais caro".
A cada ida ao supermercado é possível se deparar com produtos diferentes. "Eles vêm com sabores diferentes. Acompanham mudanças de hábitos dos consumidores, que estão propensos a experimentar", complementa Parente. Ele cita que os snacks, como barras de cereais, mais saudáveis, vêm ganhando espaço de guloseimas, como gelatinas vendidas pela empresa, nas prateleiras.
Vieira conclui que essa falha na avaliação da empresa poderia ter acontecido em outros segmentos, que passam por maior e menos grau por transformações tecnológica e exigem inovação. "Mas na indústria, que fornece produtos para o varejo, essas mudanças acontecem mais rápido e podem pegar muita gente de surpresa". Aparentemente, até Warren Buffett.
Para o professor de finanças do Insper, Alexandre Chaia, a companhia também errou ao buscar crescer a qualquer custo. "Enquanto marcas se reinventam criando produtos mais sustentáveis e socialmente corretos, faz sentido concentrar?".
Mas, segundo o professor, a maior lição que se pode tirar da história, além da maior cautela ao investir em qualquer empresa em uma era de inovações tecnológicas, é reconhecer o erro rapidamente. "E é sempre bom lembrar de não colocar todos os ovos em uma mesma cesta. Saber gerenciar o risco".
Apesar de registrar prejuízo de 25,3 bilhões de dólares no quarto trimestre do ano passado, a empresa de Buffett registrou um recorde de 24,8 bilhões de ganhos operacionais em 2018. Buffett, ao comentar o resultado em sua carta anual a investidores, pediu aos acionistas que foquem no lucro operacional, e prestem apenas um pouco de atenção a ganhos e perdas de qualquer variedade. Fica a dica para olhar sempre para o ganho de sua carteira de ações, e não entrar em pânico quando um determinado papel não tiver um desempenho tão bom.