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Não espere o mesmo frisson do IPO da Visanet na oferta da Perdigão

Brasil Foods (Perdigão) também fará uma oferta de ações gigantesca; mercado, porém, só prevê fortes ganhos a longo prazo

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

A oferta inicial de ações (IPO) da Visanet realizada no mês passado marcou não apenas a volta das aberturas de capital na BM&FBovespa após um período de um ano sem esse tipo de operação. Ao captar 8,4 bilhões de reais, a Visanet fez nada menos do que o maior IPO do mundo no primeiro semestre e a maior oferta inicial da história da bolsa brasileira. Além disso, quem comprou os papéis e não vendeu até agora tem um lucro de mais de 20% em poucos dias.

Dando sequência a esse retorno das ofertas gigantes vem a Brasil Foods (Perdigão), que planeja levantar ao menos 4,5 bilhões de reais com a venda de ações ao mercado. Segundo analistas consultados pelo Portal EXAME, no entanto, as semelhanças entre as ofertas são apenas de tamanho.

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Ao contrário da Visanet, a Brasil Foods é uma empresa muito mais madura, que atua em um mercado bastante competitivo como o de alimentos, trabalha com margens bem apertadas e tem um endividamento bastante alto. Mas todos esses fatores não vão impedir que a empresa consiga ter sucesso em sua oferta, dizem os analistas.

O que deve atrair os investidores, afirmam eles, são as expectativas de longo prazo da empresa. Ao comprar a Sadia e formar a Brasil Foods, a Perdigão terá a oportunidade de acabar com os problemas de gestão da empresa adquirida. Nos últimos anos, o mercado reconheceu a eficiência operacional da Perdigão com uma forte valorização dos papéis da empresa.

Assim que começar a integração operacional entre as duas, o mercado também acredita que haverá ganhos com sinergia superiores a 2 bilhões de reais. Por último, os investidores veem uma clara tendência de recuperação das exportações de frango e outros alimentos com a amenização da crise. O problema é que todas essas melhorias só serão observadas no médio e longo prazo - e, portanto, não há motivos para os novos papeis da Brasil Foods dispararem logo na estreia.

Cade

Ainda não é possível estimar quando os ganhos de sinergia começarão a ser observados porque a operação foi “congelada” pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Somente após a aprovação do órgão regulador da concorrência as duas empresas começarão a integrar suas operações.

Não que haja alguma expectativa de que a fusão possa ser bloqueada. Segundo Leila Almeida, gerente de análise da consultoria Lopes Filho, o Cade vai aprovar a operação. Caso contrário a Sadia quebra, resultando em um custo muito maior para o país.

Ainda há, no entanto, dúvidas sobre quais condições poderiam ser estabelecidas em troca do sinal verde do órgão regulador. A empresa detém a maioria esmagadora do mercado de diversos produtos, como massas congeladas, pizzas prontas, frango e margarinas, entre outros.

Além disso, após a aprovação do Cade, ainda restará o desafio de integrar duas empresas gigantescas. Juntas elas terão mais de 60 fábricas, dezenas de milhares de funcionários e culturas completamente distintas.

Dívidas para sanar

De imediato a oferta da Brasil Foods, se bem-sucedida, deve sanar ao menos o principal problema da Sadia: a pesada dívida. Desde que se meteu na enrascada dos derivativos de câmbio, que lhe impingiu pesadas, a Sadia busca um jeito de reduzir sua dívida.

Com a união com a Perdigão, as duas empresas passaram a carregar débitos superiores a 10 bilhões de reais, algo pesado demais até mesmo para a maior empresa de alimentos do Brasil e maior exportadora de frango do mundo.

Conforme o prospecto da oferta da Brasil Foods, cerca de 3,5 bilhões de reais dos 4,5 bilhões que se espera captar serão destinados ao pagamento de dívidas de curto prazo, com vencimento até 2010.

A oferta de ações, na opinião dos analistas, foi a melhor e mais barata saída para angariar recursos destinados à quitação da dívida com derivativos. E a expectativa é de que a operação consiga arrecadar o suficiente para tanto.

"Não há chances de a Perdigão não levantar o dinheiro pretendido com a oferta. Se não houver demanda, o que é pouco provável, o BNDES entrará na operação comprando as ações", afirmou Leila.

Riscos e oportunidades

A demanda esperada para os papéis é alta. Especialistas destacam que é grande a probabilidade de não sobrarem papéis para serem ofertados ao varejo, já que os atuais acionistas de Sadia e Perdigão têm preferência na compra. "O preço projetado de 40 reais por ação é bastante razoável. Para os atuais acionistas, é interessante comprar os papéis para evitar uma diluição de participação na empresa", diz Leila.

Mas a gerente da Lopes Filho só considera o investimento atraente para quem já é acionista de Sadia ou Perdigão. Para aqueles que não aplicam nas duas empresas, Leila acredita que há no mercado opções com uma melhor relação risco-retorno.

Huang Kuo Seen, gestor de Investimentos da Grau Gestão de Ativos, lembra que os papeis das duas empresas subiram bastante nos últimos meses – e daqui para frente os ganhos dos investidores deverão ser mais modestos. Ele destaca, porém, que há uma grande chance de que as atenções dos estrangeiros se voltem à Brasil Foods à medida que a empresa se torne global. Um aumento de investimentos poderia provocar uma reprecificação das ações e, nesse caso, os acionistas seriam beneficiados.

Seen ressaltou que os estrangeiros cada vez mais se voltam aos mercados emergentes. Por isso, há a possibilidade de que a demanda dos investidores de fora do Brasil pelas ações na oferta da Perdigão seja grande, assim como aconteceu com a Visanet.

O perfil desses investidores, entretanto, deve ser diferente. Ao contrário de grande parte dos investidores de Visanet, que entraram na oferta para vender o papel nos primeiros dias de operação, os investidores da Brasil Foods devem ter foco no longo prazo, acreditando no potencial de crescimento da companhia.

A nova empresa

O maior potencial de valorização da Brasil Foods advém da sinergia que a união da Sadia com a Perdigão vai proporcionar. Se em um primeiro momento a margem de lucro pode cair com o provável corte de redundâncias, a expectativa é de que a empresa se recupere aos poucos, conforme a união das operações se concretize.

Unindo centros de distribuição da Sadia e o avanço na eficiência operacional da Perdigão, a Brasil Foods possuirá diversas vantagens competitivas, terá maior poder de negociação com fornecedores, menores custos administrativos e capacidade de se tornar uma empresa global de produtos de alta qualidade.

Potencial do mercado

Apesar de o setor de alimentos não apresentar oportunidades de crescimento e desenvolvimento tão grandes quanto o de cartões no Brasil, tomando a Visanet como comparação novamente, a expectativa é de que o mercado asiático ainda permita um bom crescimento no comércio de carnes ao exterior.

"Se houver um aumento acentuado de produção de carne, a maior parte terá de ser destinada à exportação. Rússia, Ásia, Oriente Médio e África são mercados potenciais. Há desafios, como barreiras sanitárias e costumes locais, mas é possível crescer mesmo assim", disse Amaryllis Romano, economista e sócia da consultoria Tendências.

A economista explica ainda que são poucos os países que têm tanto potencial para crescimento na produção de alimentos quanto o Brasil. Devido a seu grande território, o país tem espaço para a produção interna de alimentos e animais. O que ainda falta ao país é um maior cuidado com a certificação dos produtos e com a sustentabilidade.

Para André Mello, analista sênior da TOV Corretora, o mercado interno também possui potencial de crescimento no segmento de alimentos com valor agregado, como nuggets, embutidos, alimentos preparados e massas. Segundo ele, esse mercado vinha crescendo muito no Brasil, mas freou com a crise. Agora, porém, a expectativa é de que o crescimento volte.

Leila Almeida, da Lopes Filho, concorda. Ela diz que a tendência é de que cada vez mais os produtos industrializados ganhem importância na mesa dos consumidores, tanto no Brasil como no exterior. Se os analistas estiverem corretos, a Brasil Foods será uma excelente opção para os investidores que têm paciência.

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