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Juros altos dificultam expansão do crédito bancário para as indústrias

Nos últimos 12 meses, o volume de crédito para o setor industrial cresceu 11%, apenas a metade da expansão da carteira total de crédito do sistema financeiro. A reportagem é a terceira e última da série Onde captar publicada no Portal EXA

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 03h34.

O Brasil detém uma liderança nada invejável na economia mundial. É o país com os maiores juros reais do planeta. Após o último ajuste da taxa Selic, em março, a taxa real bateu em 12,7% ao ano, quase o dobro dos 6,7% da Turquia, a segunda colocada. Essa distorção encarece o crédito bancário e dificulta os investimentos produtivos. Como as fontes externas de financiamento são acessíveis apenas aos grandes exportadores, e o mercado de capitais ainda é pouco procurado pelas empresas, resta aos industriais suportarem o ônus dos pesados encargos financeiros e investirem menos do que poderiam.

O peso dos juros reduz o ritmo de expansão do crédito bancário para as indústrias. Em fevereiro, o estoque total de créditos do Brasil era de 498,3 bilhões de reais, segundo o Banco Central. Deste montante, 126,7 bilhões foram dirigidos para o setor industrial. No mesmo mês de 2004, o estoque total era de 413,6 bilhões, sendo que indústria respondia por 114,3 bilhões. A conclusão: enquanto o crédito total cresceu 20,5% no período, os financiamentos para a produção avançaram apenas 10,8% - praticamente a metade.

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O problema é que o sistema financeiro é a principal fonte de recursos para a maiorias das empresas. Uma opção é o mercado de capitais. Mas o pouco hábito dos brasileiros em operar nesse mercado, as exigências de transparência corporativa para atrair investidores e o prazo elevado para estruturar uma abertura de capital acabam afastando muitas empresas dessas fontes de recursos. "O mercado de capitais sempre foi bastante restritivo, embora esteja começando a mudar", afirma a economista Rachel Fleury, da Tendências Consultoria.

Captações externas

Os agentes internacionais de financiamento também são uma opção para poucos. "Quem depende do mercado interno dificilmente vai captar dinheiro no exterior", diz Rachel. Até o final de fevereiro (últimos dados disponíveis), as companhias brasileiras haviam captado 1,075 bilhão de dólares no exterior. A cifra reflete o interesse que ainda existe dos investidores internacionais pelos mercados emergentes, mas o perfil das operações não deixa dúvidas sobre quem está acessando o mercado internacional.

Das 12 operações registradas, apenas uma foi de uma empresa não-financeira: a Companhia Siderúrgica Nacional, que levantou 200 milhões de dólares com papéis de 120 meses. O restante foi captados por bancos, com papéis de menor prazo, interessados em aproveitar as taxas de juros menores no exterior para financiar suas operações no Brasil, como o crédito ao consumidor final modalidade que vem crescendo após a regulamentação dos empréstimos consignados.

O mercado internacional está aberto, mas concentra sua atenção nos grandes exportadores. De acordo com Rachel, da Tendências, as exportações recordes do ano passado deixaram os exportadores bastante capitalizados, o que reduziu a necessidade de tomar dinheiro emprestado no exterior. Isso explica, de acordo com a economista, a presença de apenas uma empresa não-financeira nas captações deste ano. Como o desempenho da balança comercial continua positivo neste ano, a expectativa é que o comportamento se repita.

Crédito barato

No início de março, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) iniciou uma campanha para reduzir os custos de financiamento para a produção. Seu alvo principal é baixar a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), a principal referência para as operações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Atualmente, a TJLP está em 9,75% ao ano. Com os spreads cobrados pelo banco estatal e pelos agentes de repasse desses recursos, o custo total do financiamento para a indústria varia de 13,75% a 19,75% ao ano.

De acordo com a Fiesp, se os encargos baixassem apenas um ponto percentual, as operações com o crédito direcionado do BNDES aumentariam 1,1 bilhão de reais, para 95,4 bilhões de reais. Os custos de financiamento, porém, caminham na direção contrária. Em fevereiro, os encargos para operações de pessoas jurídicas, com recursos livres, subiram 0,2 ponto percentual sobre o mês anterior, de acordo com o Banco Central (BC), para uma média de 32,4% ao ano.

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