"Irã deve evitar dar partida a uma escalada dos EUA", diz Eurasia
Referência em risco geopolítico, consultoria aposta em resposta mais contida de Teerã e não acredita em fechamento do estreito de Ormuz: “O Irã provavelmente vai retaliar as bases americanas no Iraque”


Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 22 de junho de 2025 às 10:26.
Última atualização em 22 de junho de 2025 às 11:19.
O Irã deve trazer uma resposta aos ataques dos Estados Unidos a suas instalações nucleares na noite de ontem – mas ela será um tanto quanto comedida por ora, aposta a Eurasia. Em nota enviada hoje a clientes, a consultoria disse que não acredita que o Irã deva fechar o estreito de Ormuz, crucial para o comércio internacional de petróleo e gás natural.
“O Irã provavelmente vai retaliar as bases americanas no Iraque, mas vai evitar dar partida a uma escalada dos Estados Unidos. O Irã precisa responder ao ataque americano, mas a resposta vai ser calibrada para evitar causar danos significativos ou causalidades, na medida em que isso com certeza provocaria Trump para uma campanha maior e mais forte”, escreveu a equipe.
Segundo a Reuters, o Parlamento do Irã aprovou um eventual fechamento do canal hoje, mas a decisão final cabe ao Conselho Supremo do país – ou seja, por ora, o aval da Câmara ainda pode ser apenas um instrumento de pressão.
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A leitura da Eurasia é de que o presidente americano pensou os ataques de ontem como uma ação ‘pontual e definitiva’, uma mensagem que o Pentágono reforçou durante sua coletiva na manhã de hoje. A intenção da ofensiva a Fordow foi uma amostra de poderio militar para remover a ameaça do programa nuclear americana e não um envolvimento maior na guerra entre Israel e Irã.
“Os Estados Unidos colocaram um grande número de ativos militares no Oriente Médio, mas vão manter uma postura defensiva, para prevenir uma retaliação substantiva iraniana”, diz a consultoria.
O problema são as consequências inesperadas: “Ao atacar o Irã em suporte a Israel, Trump deixou pouco espaço para si próprio caso queria se descolar do primeiro ministro Benjamin Netanyahu se ele quiser continuar a guerra.”
E quais serão os próximos passos do Irã?
Para a Eurasia, o alvo provável de Teerã será a presença dos Estados Unidos no Iraque, onde as bases americanas estão mais vulneráveis a mísseis balísticos de curto alcance. Além disso, o Irã deve fazer uso da sua rede de mílicas, oferecendo algum grau de margem para negar seu envolvimento, apontam os analistas.
“A base dos Estados Unidos em Djibouti está particularmente vulnerável a ataques de mísseis pelos houthis do Iemen a uma curta distância pelo canal do Mar Vermelho”, diz.
Ainda assim, a consultoria acredita que esses ataques devam provocar respostas mais focadas nessas milícias do que uma ofensiva no Irã em si, limitando as perspectivas de escalada adicional.
Nesse sentido, um movimento perto do estreito de Hormuz é improvável, assim como os ataques a infraestrutura de energia no Golfo Pérsico. A Eurasia coloca esse risco como relativamente baixo, de apenas 20%.
“Os Estados Unidos tem uma presença militar massiva no Golfo e nas regiões adjacentes, e um movimento pelo Irã contra o estreito traria certamente uma resposta militar significativa”, pontuam os consultores. “O Irã não deve escalar contra os alvos de energia enquanto suas próprias unidades de exportação de energia estiverem intactas.”
Contudo, é provável que aumente, nos próximos dias, o assédio iraniano a navios petroleiros.
A Eurasia acredita ainda que Israel deve seguir a liderança de Trump neste momento, mas novos ataques ao Irã são ‘prováveis’, ao menos por ora e afirma que a continuidade das ações militares israelenses funcionará como “fonte útil de pressão”.
“Se a instalação nuclear de Fordow tiver sido destruída, o principal objetivo de guerra de Israel terá sido alcançado. Ainda assim, é improvável que o país encerre sua campanha contra o Irã de forma tão abrupta, já que o próximo passo deve ser uma pressão dos EUA para trazer Teerã de volta à mesa de negociações.”
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Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.