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Entre vagas e talentos: o gap das oportunidades

O abismo entre o que é ensinado na graduação e o que o mercado de trabalho exige na hora da contratação cresce a cada momento

Paulo Bonucci, vice-presidente e general manager da Red Hat para América Latina (Red Hat/Divulgação)

Paulo Bonucci, vice-presidente e general manager da Red Hat para América Latina (Red Hat/Divulgação)

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Publicado em 24 de agosto de 2021 às 11h56.

Ao longo de bons anos no mercado da tecnologia, pude perceber que o Brasil é um celeiro de talentos. Durante toda a minha trajetória, conheci profissionais de alto gabarito, com noções técnicas, práticas e inteligência emocional, capacitados para as mais diversas funções. Mais do que isso, apaixonados pelo trabalho, engajados e sempre buscando a melhoria contínua, interessados em seguir aprendendo e evoluindo. Ao mesmo tempo, cruzei com muita gente boa que estava longe de conquistar seus sonhos, buscando uma oportunidade para mostrar seu valor. Grande parte deles, jovens lutando pela primeira vaga, com sede de conhecimento e vontade de crescer, mas sem espaço para adquirir conhecimento e poder chegar mais longe.

Esse movimento da economia que parece fechar a porta para os mais jovens se tornou ainda mais grave em razão da pandemia. Dados do Atlas da Juventude, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aponta que entre 2020 e 2021, 70% da população entre 15 e 29 anos alegou dificuldade de encontrar trabalho. Segundo o levantamento, essa faixa etária está decepcionada em níveis recordes, sem perspectiva de trabalho. Na comparação com outros países da América Latina, é aqui no Brasil que a juventude vê menos chances de progredir trabalhando.

O cenário desafiador fica ainda mais complexo quando falamos especificamente da tecnologia. O abismo entre o que é ensinado na graduação e o que o mercado de trabalho exige na hora da contratação cresce a cada momento. O avanço de novas tecnologias e a acelerada transformação digital abre novas áreas de atuação e novas vagas em diversos mercados, mas não há profissionais disponíveis capazes de atender a essa demanda. Pelo menos não na visão das corporações.

Quebrando o código

Não é de hoje que o setor de Tecnologia da Informação (TI) enfrenta um déficit de profissionais e os números chamam atenção para a importância da formação de mão de obra. Um levantamento realizado pela GeekHunter, startup de consultoria, referência em recrutamento de profissionais de TI, mostrou que o total de vagas abertas no setor de tecnologia da informação em 2020 teve um aumento de 310%.

Nos próximos dois anos, a demanda será de 401 mil profissionais, porém só haverá 106 mil disponíveis, o que representa uma lacuna de 74%, aponta uma pesquisa feita pelo Núcleo de Engenharia Organizacional (NEO) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Agência Alemã de Cooperação Internacional GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH). Até 2024, a área deverá demandar cerca de 420 mil profissionais, de acordo com relatório da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), em linha com as perspectivas do Banco Mundial.

Enxergar esses números, no entanto, como apenas números é a principal problemática do mercado. Esses dados apontam muito mais do que uma simples questão matemática. Reforçam importantes temas em pauta, como a diversidade e inclusão. Hoje, não se trata mais de abrir uma vaga, fazer mil exigências e esperar que apareça o profissional ideal para ela. É preciso desenhar uma estratégia que ofereça muito mais do que um emprego, mas uma oportunidade, com capacitação e formação continuada. O candidato ideal, na maior parte dos casos, não vai estar pronto para ser buscado no mercado. Vai precisar ser forjado dentro da organização, principalmente naquelas que trabalham por um espaço mais plural de ideias e experiências.

Inserindo novas linhas

Para endereçar o gap entre oportunidades e mão de obra qualificada, é necessário primeiro reconhecê-lo. Ou seja, quando pensamos em abrir vagas e em como preencher essa lacuna existente, temos que levar em conta o desenvolvimento de talentos. No lugar da riqueza de experiências e de um longo currículo, ganha destaque o brilho no olho, a vontade de crescer e a disposição para o aprendizado na prática. As companhas precisam reciclar sua cultura, deixando de ser receptoras de novos talentos para provedoras de profissionais de ponta. Pessoas que, ao serem reconhecidas, também vão saber reconhecer, vestindo a camisa da empresa e batalhando pelos mesmos propósitos.

Em um paralelo com o próprio universo da tecnologia, é hora de romper paradigmas como, há décadas a comunidade open source fez. Derrubar tradições e mostrar que o caminho conjunto e colaborativo é o futuro em todas as pontas do mercado. Precisamos, mais uma vez, quebrar os códigos e inserir novas linhas. Comandos que permitam a interação, a integração e a inclusão de todos. Uma nova programação que só traz ganhos para todos os participantes do ecossistema.

Segundo o estudo Workforce of the future feito pela a PwC, que entrevistou mais de 10 mil colaboradores em todo o mundo, 70% deles dizem que querem trabalhar para uma organização com uma “consciência social poderosa”. Oferecer oportunidades atreladas a cursos preparatórios atrai novos talentos ajuda a posicionar melhor a companhia no mercado, melhora a performance da marca empregadora e tem um papel social enorme, diminuindo o gap entre talentos e oportunidades.

*Paulo Bonucci é vice-presidente e general manager da Red Hat para América Latina

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