Maia, Leal Neto, Binotto e Coutinho Filho, finalistas da etapa brasileira do prêmio The Venture, iniciativa global para estimular o empreendedorismo social (DivulgaçãoClaudio Roberto Silva/DivulgaçãoRenato Parada/Divulgação)
Cada vez mais jovens empreendedores se dedicam a negócios que geram lucros com produtos e serviços capazes de transformar o mundo – para melhor. No Brasil, a onda já é bem visível. Por aqui, um total de 3,2 bilhões de reais foi investido em empreendimentos desse tipo em 2014, segundo os dados mais recentes do Censo GIFE, principal pesquisa sobre investimentos sociais, realizada a cada dois anos.
“Dinheiro: se não for para fazer o bem, que bem ele pode fazer? E quanto bem ao mundo os empreendedores podem fazer com 1 milhão de dólares para investir em negócios transformadores?” Foi com essa provocação que o Whisky Chivas, de olho nessa tendência crescente, desenhou parceria com o prêmio The Venture, iniciativa global para garimpar e apoiar startups com grande potencial de sucesso financeiro e de impacto positivo para a sociedade.
Um representante de cada país participante – o Brasil está incluído no grupo – disputará a final global, que acontecerá no início de 2016. Ali será distribuído 1 milhão de dólares em prêmios para que os vencedores invistam em suas ideias e aumentem seu impacto.
O empreendedor social que irá representar o país será selecionado entre os quatro finalistas já escolhidos por voto popular e pela avaliação de um júri especializado. Gustavo Maia, da Colab, estimula as pessoas a sugerir melhorias para sua cidade e a participar das decisões políticas. Alécio Binotto, da I9Access, leva medicina especializada para quem tem dificuldades de acesso. Já Onicio Leal Neto, da Epitrack, busca criar na população novos hábitos capazes de prevenir epidemias, enquanto Sérgio de Andrade Coutinho Filho, da Sayyou, oferece uma tecnologia criativa que pode eliminar o uso de agrotóxicos.
Enquanto o vencedor da etapa brasileira não é anunciado, o que acontecerá no dia 17, convidamos dois especialistas no assunto para falar sobre o movimento do empreendedorismo social no Brasil – e dar um bom conselho para quem pretende ter sucesso nessa área.
Aos 31 anos, o psicólogo Lucas Foster, um dos curadores e um dos jurados do The Venture Brasil, faz parte de uma geração ávida por dedicar seu tempo de trabalho para realmente influenciar pessoas e mudar o mundo. Ele criou a Project Hub, rede que conecta empreendedores sociais com investidores.
O que motivou você a se tornar um empreendedor social?
Em 2009, fui fazer um curso na Dinamarca e, lá, conheci o urbanista Jang Gehl, que é referência mundial com seu trabalho de planejamento de centros urbanos com foco nos pedestres e ciclistas, ou seja, que pensa na dimensão humana das cidades. Ele me ajudou a descobrir que há muitos jovens profissionais criativos, como arquitetos, designers, artistas, pensando em soluções para melhorar a vida de todos. São profissionais que colocam as pessoas em primeiro plano, diferentemente do que fizemos por anos, priorizando a economia industrial, máquinas e produção em grande escala. Então, ficou martelando na cabeça: quanto a criatividade humana tem a contribuir com o desenvolvimento humano e o bem-estar? Na volta ao Brasil, vi que não havia uma empresa que já tivesse esse propósito específico e comecei a Project Hub para ajudar profissionais criativos a estruturar negócios e a conquistar investidores e clientes.
Quais foram as maiores dificuldades que você enfrentou como empreendedor social?
Principalmente no começo, eu não tinha experiência em conquistar clientes. Antes da Project Hub, trabalhava na Prefeitura de São Paulo, onde atuava principalmente como um intermediador, ajudando pessoas a acessar recursos, a elaborar editais e a conseguir financiamentos. No início da Project Hub meu trabalho era parecido, mas as pessoas não vinham até mim como antes, e eu também não sabia colocar preço no serviço. Fiz muito trabalho de graça até acertar o modelo de negócio.
Quais são seus conselhos para quem pensa em se tornar um empreendedor social, como já fazem os quatro finalistas do The Venture?
Primeiro, conheça seu propósito de vida, seus valores pessoais. Então olhe para o mercado e descubra quem já está trabalhando pelas mesmas coisas que você acredita. Se já existem projetos bacanas com os quais se identifica, tente se juntar a eles, para que todos se fortaleçam juntos, em vez de virarem concorrentes com negócios semelhantes. Talvez até não seja necessário começar uma empresa do zero, dependendo do problema que pretende resolver. Outro conselho fundamental: o verdadeiro investidor é o cliente – assim, saiba vender e ganhar dinheiro ao resolver um problema. Muitas startups levantaram recursos de investidores, mas acabaram não encontrando um modelo de negócio sustentável. E a dica mais importante é: jamais abra mão dos seus valores em nome de um contrato. Se você quer fazer o bem, seja coerente e não se corrompa com a desculpa de conseguir ganhar escala ou levantar recursos financeiros.
O site Projeto Draft está sempre garimpando e divulgando histórias interessantes de empreendedorismo social. Seu publisher, Adriano Silva, é um dos parceiros na iniciativa da marca Chivas.
Que histórias de empreendedorismo social no Brasil você citaria como bons exemplos?
Aqui, o movimento é muito forte. O Projeto Draft tem retratado bem esse ecossistema e é uma alegria que uma marca como Chivas eleja a bandeira do empreendedorismo social como sua também. Costumo citar os casos da Vivenda (que faz reformas a preços acessíveis, atuando para melhorar a qualidade de moradia da população de baixa renda) e da Avante (que leva microcrédito e outros serviços financeiros exclusivamente a favelas). Mas há muitos outros negócios sociais inspiradores em curso por aqui. É a sociedade tomando para si a responsabilidade por mudanças. E o melhor: operando as transformações de modo sustentável.
Quais são os fatores-chave para ser bem-sucedido em negócios sociais?
Entender que não faz sentido lucrar se esse lucro não vier do impacto positivo gerado por sua iniciativa é a primeira metade do caminho. A outra metade é compreender que não é possível causar impacto positivo se a iniciativa não tiver lucro. Talvez a maior armadilha para um empreendedor dessa área seja se considerar uma ONG, uma instituição sem fins lucrativos. Antes de serem sociais, negócios sociais são negócios.
Qual é seu principal conselho para quem pensa em atuar nessa área?
Nunca deixe de acreditar em si e no seu poder de mudar o mundo para melhor.
Saiba mais sobre o projeto em www.theventure.com