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ESPECIAL: Como a crise da Gol se mistura à da Boeing – e o plano de voo da brasileira para sair dela

Spoiler: Um M&A não está descartado, mas não deve acontecer tão cedo, dizem fontes

Gol: expectativa é de acordo definitivo com arrendadores em até três meses

Foto: Germano Luders/ EXAME (Germano Luders/Exame)
Gol: expectativa é de acordo definitivo com arrendadores em até três meses Foto: Germano Luders/ EXAME (Germano Luders/Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 20 de março de 2024 às 07:02.

Última atualização em 20 de março de 2024 às 07:45.

Na recuperação judicial da Gol, a crise da Boeing não é mero detalhe – e é ponto fundamental para o avanço nas negociações com os arrendadores de aeronaves, principal fonte de pressão financeira da companhia.

Pessoas próximas às negociações ouvidas pelo INSIGHT afirmam que a Gol e os arrendadores devem apresentar à Justiça dos Estados Unidos acordos preliminares em até duas semanas.  

As conversas estão mais avançadas justamente com um de seus maiores arrendadores, a AirCap, que chegou a estender o ‘stay period’ para não entrar com nenhum pedido de execução de garantia na corte americana.

 “As negociações estão muito produtivas e bem-sucedidas com os 23 arrendadores e já há um número muito significativo de aeronaves envolvidos nesses acordos preliminares, considerando termos e condições para manter essas aeronaves”, diz uma pessoa com conhecimento das conversas.

A Boeing deixou de entregar para a companhia aérea 25 MAX, com 50 motores novos, nos últimos cinco anos. O ponto mais crítico foi em 2023, quando 15 aeronaves e 30 motores deixaram de ser entregues. Entre as três maiores companhias do mercado brasileiro, a Gol é a mais exposta à Boeing. A Latam também opera aeronaves da fabricante americana, mas tem parte da frota composta por Airbus, e a Azul tem a frota composta pelos modelos da francesa e da Embraer

Os problemas da Boeing vêm desde 2018, quando o modelo 737 MAX da Lion Air sofreu um acidente. Pouco depois, em 2019, mais uma aeronave do modelo, dessa vez da Ethiopian Airlines caiu, sinalizando falhas no sistema de segurança de voo. Os dois acidentes aumentaram o escrutínio das autoridades e afetaram a empresa, que vive, agora, uma nova crise com sequelas da pandemia e um novo acidente: um MAX 9 da Alaska Airlines perdeu uma porta em pleno voo.

Esses atrasos aumentaram a idade da frota de 7 para 13 anos e deixaram um passivo de mais de US$ 500 milhões, por causa de 25 aeronaves 737 Next Generation e 50 motores velhos que estão no chão precisando de manutenção — um processo que pode levar cerca de seis meses e custar US$ 10 milhões por equipamento.

 A situação se somou aos cerca de US$ 10 bilhões de perdas em 2021 e 2022, ainda com sequelas da Covid-19, e terminou de dragar a liquidez da companhia. A dívida total da empresa soma R$ 20 bilhões.

LEIA MAIS: O fim da era Boeing-Airbus: Embraer decola com mega upgrade do Morgan Stanley

A expectativa é de que os acordos definitivos com os lessores (jargão usado no setor para os arrendadores de aeronaves) sejam apresentados entre dois e três meses. Uma das tentativas da Gol, desde antes de entrar no Chapter 11, é aprovar com os lessores US$ 1 bilhão para a manutenção desses equipamentos, com pagamento entre três e cinco anos.  

A partir daí a companhia aérea avançaria nos acordos com os arrendadores e traçaria um plano para os próximos cinco anos de operação, o que deve começar a ser desenhado em abril. O passo seguinte seria levantar um financiamento para dar fôlego operacional e sair processo de recuperação judicial nos Estados Unidos.

Um dos caminhos a ser seguido pelos assessores financeiros, Seabury e Skywork, e a empresa pode, sim, ser a busca de um novo sócio para o negócio, controlado pela Abra, holding que também controla a Avianca Colômbia.

Nos últimos dias, rumores de mercado apontaram interesse da Azul em comprar a concorrente, repetindo um movimento de 2021, quando a empresa de David Neeleman declarou o interesse em levar a Latam, que também estava em Chapter 11.

A Azul contratou o Citigroup e a gestora Guggenheim Partners para avaliar uma oferta pela Gol.   

Em nota, a Azul não negou o interesse, embora afirme que não há transição aprovada ou alguma negociação. “A Azul está sempre atenta às dinâmicas estratégicas do setor aéreo e a possíveis oportunidades de parcerias, podendo como prática regular contratar consultores para apoiar a empresa nesses esforços. Até o momento, a Azul não negociou nem aprovou nenhuma transação específica.” 

Fontes próximas a Gol afirmam não há um processo ativo para fusão com a Azul. Outra pessoa próxima aos credores diz que nenhuma conversa com arrendadores aconteceu ainda. Há, no entanto, outros interessados em se associar com a Gol, "players estratégicos", o que inclui companhias aéreas estrangeiras.

A previsão é que esse tipo de negociação só comece a avançar na fase de estruturação da saída da Gol do Chapter 11 – o que, em tudo caminhando como o esperado, deve começar a acontecer entre julho e agosto.

A expectativa da Gol e seus assessores é de que o processo de Chapter 11 acabe em 15 meses.  

No fim de fevereiro, a Gol chegou a um acordo com os detentores dos bonds com vencimento em 2026, o que evitou uma disputa de propostas entre credores no financiamento com quitação prioritária (DIP), usados para empresas em recuperação judicial.

O empréstimo passou de US$ 950 milhões para US$ 1 bilhão, trazendo um pouco mais de alívio para a empresa no período inicial de negociação com os credores.  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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