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Temores de contágio da crise grega empurram Europa às reformas

Bruxelas - Os temores de contágio da crise grega para outros países da zona do euro que também enfrentam grandes déficits como Portugal e Espanha empurram a Europa a acelerar as reformas econômicas e a preparar o reforço de suas regras de vigilância orçamentária. As inquietações acentuaram-se nesta terça-feira à tarde, quando a agência de […]

Funcionários do setor de transportes públicos realizam uma manifestação em Atenas (.)
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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

Bruxelas - Os temores de contágio da crise grega para outros países da zona do euro que também enfrentam grandes déficits como Portugal e Espanha empurram a Europa a acelerar as reformas econômicas e a preparar o reforço de suas regras de vigilância orçamentária.

As inquietações acentuaram-se nesta terça-feira à tarde, quando a agência de classificação de risco Standard and Poor's rebaixou a nota da dívida soberana de longo prazo de Portugal em dois níveis (de A+ para A-) e a da Grécia em três (de BBB+ para BB+). A classificação da dívida de curto prazo de ambos os países também foi reduzida.

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Portugal deve "responder" ao "ataque dos mercados", reagiu o ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos.

"É um momento decisivo. O país deve responder a isto", declarou, em comunicado.

"Devemos manter a calma e levar os mercados à serenidade", acrescentou. "Como no passado, faremos o necessário para reduzir o déficit e promover a competitividade da economia portuguesa".

Pela manhã, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), o grego Lucas Papademos, demonstrou preocupação ao afirmar que alguns países da zona do euro enfrentam "problemas similares" aos de Atenas, mas "em graus diferentes".

Paralelamente, os juros que Portugal e Irlanda devem pagar para tomar dinheiro emprestado nos mercados no longo prazo mantinham-se acima da média europeia nesta terça-feira, acima dos 5%, enquanto a taxa superava 4% na Espanha.

Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha, batizados pelos operadores anglo-saxões com o acrônimo de PIGS ("porco" em português), enfrentam profundos déficits públicos de 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB), 14,3%, 13,6% e 11,2%, respectivamente, em 2009.

As bolsas desses países fecharam com fortes quedas nesta terça-feira, por conta do temor de que a crise da dívida grega se estenda.


Madri caiu 4,19% e Lisboa, 5,36%. A Bolsa de Atenas fechou com queda de 6%, a maior desde outubro do ano passado.

Os economistas, no entanto, diferenciam claramente a situação de cada um desses países da zona do euro.

"Há efeitos de contágio, mas a situação grega é realmente de uma natureza diferente", explica Jean Pisani-Ferri, do Instituto Bruegel de estudos europeus.

Além disso, "o problema central da Grécia é orçamentário", enquanto o da Espanha, por exemplo, "afeta principalmente a competitividade" de sua economia e procede diretamente à explosão da bolha imobiliária.

Portugal, por outro lado, enfrenta problemas tanto orçamentários como de competitividade, enquanto a Irlanda "correu riscos importantes ao desenvolver sua esfera financeira" antes da crise econômica mundial.

No entanto, esses países também estão vinculados de certa forma: as decisões "para gerir a crise grega terá efeito nos outros países", segundo esse especialista.

Para Jesus Castillo, economista do banco francês Natixis, os "mercados questionam atualmente a reestruturação da dívida grega", ou seja, a possibilidade de modificação de seus vencimentos, suscitando "questões sobre os países que poderão vir depois".

Contudo, a deflagração grega tem também efeitos virtuosos sobre os países mais afetados pela crise econômica da zona do euro, ao empurrá-los - assim como Atenas - a tomar medidas para reduzir seus déficits e realizar reformas para resolver problemas estruturais de sua economia.

"Até agora, desde o lançamento do euro, não se tinha feito uma diferenciação significativa no mercado entre bons e maus alunos (na zona do euro). Mas a partir do momento em que se estabelece" uma primeira comparação, cada país "se vê forçado a empreender esforços", observa Pisani-Ferry.

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