Economia

Quem deve ganhar o Nobel de Economia em 2020?

Costumam ser laureados aqueles que desenvolveram teorias com aplicações práticas e que foram amplamente citadas na literatura econômica

Esther Duflo: professora do MIT que desenvolveu trabalhos sobre desigualdade e redução da pobreza foi a segunda mulher laureada com o Nobel de Economia, em 2019 (Scott Eisen/Getty Images)

Esther Duflo: professora do MIT que desenvolveu trabalhos sobre desigualdade e redução da pobreza foi a segunda mulher laureada com o Nobel de Economia, em 2019 (Scott Eisen/Getty Images)

FS

Fabiane Stefano

Publicado em 11 de outubro de 2020 às 09h00.

O mundo deve conhecer nesta segunda-feira, 12, os laureados com o Nobel de Economia, o último dos seis prêmios que, anualmente, reconhecem contribuições notáveis da ciência para a humanidade. É fato que a premiação de Economia não é um verdadeiro Nobel. Trata-se do "Prêmio em Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel", criado em 1969 pelo Banco Central da Suécia para celebrar os 300 anos da instituição. Mas assim como os prêmios de Química, Física, Medicina, Literatura e da Paz, o de Economia se popularizou como Nobel.

Mesmo sendo promovido de maneira independente pelo Banco Central sueco, a premiação segue à risca os processos e critérios dos outros prêmios, que são de responsabilidade da Academia Real de Ciências da Suécia. Diferentemente da maioria das premiações pelo mundo, o Nobel não revela seus indicados - apenas o vencedor, que muitas vezes fica sabendo pela imprensa que ganhou as 10 milhões de coroas suecas, o equivalente a 1,1 milhão de dólares.

Uma das regras prevê, inclusive, que a lista de indicados seja mantida em sigilo por 50 anos. Por isso, é quase impossível dar um palpite certeiro de quem será o vencedor. Mas, olhando para as últimas premiações, é possível ter uma ideia.

Nos últimos 20 anos, três quartos dos vencedores foram homens, brancos, americanos e maiores de 55 anos. A média etária dos laureados com o prêmio de economia é de 67 anos, a maior entre todos os prêmios Nobel. No ano passado, a economista francesa Esther Duflo, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), foi a pessoa mais jovem, aos 46 anos, e a segunda mulher a ganhar o prêmio, que recebeu junto com o indiano Abhijit Banerjee e o americano Michael Kremer pelos estudos experimentais para aliviar a pobreza global. 

Antes mesmo de ganhar, Duflo frequentou por alguns anos as listas de apostas para o Nobel de Economia. Professor na Universidade Stanford, o economista Paul Milgron, de 72 anos, é um dos economistas que figuram já há algum tempo a relação de possíveis ganhadores. O americano é famoso por seus trabalhos acerca da teoria dos leilões, amplamente utilizados na definição de estratégias de precificação em diversos mercados. Milgron também trouxe relevantes contribuições para o mercado financeiro, estudando como os atores interagem com trades mais ou menos informados.

Os laureados com o Nobel costuma ser divididos em dois tipos: aqueles que se aprofundaram em uma única grande questão e são premiados por uma única grande ideia, e aqueles que transitam entre as diversos áreas da economia, contribuindo um pouco com cada uma delas. Apenas mais recentemente o Comitê do Nobel tem olhado com mais atenção para este último perfil.

Em 2014, por exemplo, o prêmio foi para o francês Jean Tirole, pelo seu trabalho acerca da regulação e do poder dos mercados e indústrias. Mas sua influência em outros campos da economia, como o setor bancário, finanças e teoria dos jogos é significativa.

Autor do livro "Por Que as Nações Fracassam", o economista turco-americano Daron Acemoglu, 53, também se encaixa nesse segundo tipo de perfil e, ano após ano, costuma estar na lista de merecedores do Nobel. Investigando a influência de fatos sociais e políticos no desenvolvimento dos países, Acemogulu concluiu que as nações que desenvolveram instituições fortes e inclusivas são mais bem-sucedidas do que aquelas que se baseiam na exploração do trabalho e na extração de recursos. Ele também estuda os impactos da tecnologia na economia. 

"Eu busco entender quando a automação leva ao aumenta a produtividade e quando ela aumenta os preços, e como isso impacta a força de trabalho", explicou Acemoglu em 2017 ao receber a Medalha Rahmi M. Koç de Ciências da Koç University, na Turquia. “Também pesquiso como as instituições, os sistemas de ensino e outros fatores devem se transformar para usar a tecnologia de forma mais eficiente."

Outros dois critérios parecem ser bastante importantes na hora de decidir quem será premiado. Em geral, o Comitê do Nobel busca por contribuições que tenham aplicações práticas - como em 2019, quando o prêmio foi para estudos que propunham uma nova abordagem para o combate à pobreza - e, principalmente, por trabalhos que sejam frequentemente citados na literatura econômica.

"Em 2005, eu fiz uma lista de artigos econômicos que tinham mais de 500 citações naquela época. Apenas 11 autores tinham mais de três artigos nessa lista", explicou o professor Luigi Zingales, da Universidade de Chicago, em um episódio do podcast Capitalisn't . "Desde então, desses onze autores, um infelizmente faleceu e sete foram premiados. Ou seja: apenas 3 deles ainda não receberam o Nobel."

De acordo com o estatuto do Nobel, os prêmios não podem ser concedidos de maneira póstuma - a não ser que o vencedor venha a falecer entre o anúncio do seu nome e a cerimônia de premiação, que normalmente acontece em dezembro.

O Comitê do Nobel também se preocupa em premiar diferentes áreas de estudo ao longo dos anos. Em 2016, o Comitê premiou contribuições à Teoria dos Contratos. No ano seguinte, foi a vez da economia comportamental. E em 2018, para estudos macroeconômicos que contemplavam as mudanças climáticas.

Nesse sentido, é possível arriscar o palpite em relação a qual área da economia deve receber o prêmio em 2020. À luz da pandemia do coronavírus, a microeconomia aplicada, com estudos relacionados à economia política e economia do trabalho, por exemplo, tem potencial de ser laureada neste ano.

Um dos economistas de mais destaque nesse campo é o canadense David Card, 64. Professor da Universidade da Califórnia, do campus de Berkeley, ele comparou as políticas de imigração e seus impactos no emprego e no salário de americanos e canadenses - descobrindo assim que esses impactos são praticamente nulos.

Em 2018, um simpósio promovido pelo Comitê do Nobel discutiu "os insights da recente convergência das literaturas sobre o dinheiro e o sistema bancário", o que pode - veja bem, pode - indicar um interesse da instituição pelo assunto.

 

 

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