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Novo ministro da Fazenda, Guido Mantega, está longe do consenso

Fortalecimento da facção heterodoxa do governo desagrada os profissionais do mercado financeiro

Guido Mantega, o novo ministro da Fazenda (--- [])
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h31.

A indicação do economista e atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, para o lugar de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda foi recebida com ceticismo pelo mercado financeiro. Apesar de a notícia ter sido divulgada perto do fim dos negócios, a incerteza dos últimos dias vinha causando turbulência no mercado.

"A queda já era esperada, e a demora gerava instabilidade", diz Elói Dantas do Santos, economista da corretora de câmbio paulista Intercam. A grande questão, agora, é saber qual postura será adotada pelo novo ministro. "Mantega vai manter a agenda do Palocci ou fará mudanças heterodoxas? É preciso esperar algum tempo para dizer.", diz Santos. As expectativas dos últimos dias já tinham elevado as cotações do dólar para 2,20 reais. Segundo ele, não se descarta a hipótese de o dólar subir um pouco mais até haver alguma definição sobre a política econômica.

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Outros profissionais de mercado demonstram mais ceticismo. Um premiado administrador de fundos paulista, que não quer ter seu nome divulgado, diz que a ascensão de Mantega eleva o risco de o governo ser mais permeável a sugestões heterodoxas. "Palocci sempre atuou como uma voz moderada dentro do governo e barrou propostas de aumento de gastos e redução do superávit primário", diz ele. "Com sua saída, imagina-se que essa vertente técnica vai perder força dentro do governo, o que é ruim para o mercado."

Não por acaso, os números mostraram uma forte piora nos últimos dias devido à incerteza do mercado. A taxa de juros para janeiro de 2010 negociada na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) subiu de 13,90% para 14,70% ao ano. "Na ponta do lápis, é uma alta de 3,5 pontos percentuais nos juros, o que é muito para um cenário de inflação estável", diz o administrador. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou com uma leve alta de 0,17%, bem abaixo dos níveis máximos do dia, e o risco-país subiu 0,4%, para 233 pontos-base.

O que esperar para os próximos dias? A grande questão é política, porque o fluxo de dólares para o país continua positivo, diz Santos, da Intercam. Há ainda um fator que pode influenciar o câmbio, que é a decisão do Fed sobre os juros americanos amanhã. Há consenso no mercado de que haverá uma elevação de 0,25 ponto percentual. Mas o Fed dará alguma indicação se fará ou não novos aumentos, o que pode pressionar ainda mais o câmbio.

Assessor de Lula desde 1993

Nascido em Gênova, na Itália, em 7 de abril de 1949, Guido Mantega assumirá mais uma vez o papel de bombeiro no governo Lula ao substituir Antonio Palocci na Fazenda. Em novembro de 2004, Mantega entrou na presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para suceder Carlos Lessa, que vinha batendo de frente com alguns dos principais ministros da administração petista.

Economista formado pela Faculdade de Economia e Administração de São Paulo, Mantega atuou como professor universitário na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas e no curso de mestrado e doutorado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP.

Na carreira acadêmica, fez doutorado em Sociologia do Desenvolvimento na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, com especialização no Institute of Development Countries (IDS) da Universidade de Sussex, Inglaterra em 1977.

Na vida pública, participou do governo municipal de São Paulo de 1989 a 1992, como diretor de orçamento e chefe de gabinete da secretaria municipal de planejamento de São Paulo. Em 1993, torna-se assessor econômico de Lula, papel que viria a exercer até a campanha presidencial que deu a vitória ao PT, em 2002. Com a posse de Lula, recebeu a pasta do Planejamento, Orçamento e Gestão, onde atuou até assumir o BNDES.

Confiança na recuperação da economia

Em recentes eventos, Guido Mantega demonstrou estar confiante no fortalecimento da economia brasileira, citando a redução nas taxas de juros, a queda do desemprego e o aumento no salário real médio como fatores que deverão impulsionar o crescimento nos próximos anos.

No dia 22 de março, durante um seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Mantega previu crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de até 4% em 2006, e afirmou contar com um aumento na taxa de investimento da economia superior a 20%. "A expectativa do BNDES para 2006 é uma continuação do crescimento, chegando a 21% ao final de 2006", disse.

Colaborou Larissa Santana

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