Menor entrada de investimento estrangeiro preocupa mais que saldo
Para analistas, saldo líquido de investimentos estrangeiros diretos, que atingiu o menor nível em dez anos, é pontual. O preocupante é a desaceleração da entrada de novos recursos
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.
O saldo líquido dos investimentos estrangeiros diretos (IED) fechou setembro em 43,1 milhões de dólares. Trata-se do menor nível desde março de 1995, quando o indicador ficou negativo em 22,1 milhões, devido à saída de 259,3 milhões de dólares e à entrada no país de 237,2 milhões. Mas não é o saldo do IED que preocupa os economistas, que consideram o resultado um ponto fora da curva. As atenções estão concentradas na tendência de queda da entrada de recursos no país, detectada desde julho.
"O saldo de setembro tende a ser pontual, já que as condicionantes de investimento de médio prazo continuam positivas", afirma Zeina Latif, economista do ABN Amro Real. Jason Vieira, economista da consultoria GRC Visão, concorda. "Estatisticamente, é preciso cuidado com dados tão discrepantes da média como este", afirma.
Segundo os economistas, o saldo líquido de setembro desviou o foco do ponto que realmente interessa: desde julho, a entrada de investimentos estrangeiros está caindo. Após atingir um volume de 4,007 bilhões de dólares naquele mês o recorde do ano o aporte de novos recursos baixou para 3,6 bilhões em agosto. No mês passado, a cifra caiu acentuadamente para 1,773 bilhão.
Ao mesmo tempo, a saída de investimentos estrangeiros, representada pela repatriação de lucros e venda de participações, entre outros, se mantém em um nível relativamente alto. Em julho, as empresas remeteram para o exterior 1,972 bilhão de dólares. No mês seguinte, foram mais 2,457 bilhões. Em setembro, ficou em 1,730 bilhão.
Para os economistas, ainda não estão claros os motivos dessa desaceleração de aportes. A primeira hipótese é que as empresas estão reduzindo o ritmo, à espera do próximo ano. A segunda é que seja um ruído da crise política que já afeta as decisões de investimentos. Outra explicação seria que os investimentos estão se acomodando em um patamar inferior ao de outros anos, devido à própria acomodação geral da economia.
Outros resultados
O balanço de pagamentos de setembro, divulgado nesta sexta-feira (28/10) pelo Banco Central, mostra um superávit de 2,5 bilhões de dólares. Contribuíram para o desempenho o superávit em conta corrente de 2,4 bilhões, além do superávit comercial de 4,3 bilhões. Já as reservas internacionais cresceram 1,9 bilhão, para 57 bilhões de dólares.
A dívida externa total em julho os dados são divulgados com defasagem de dois meses pelo BC foi de 182 bilhões de dólares. O valor é 9,7 bilhões menor que o registrado no mesmo mês do ano passado. É, também, o menor endividamento do país desde dezembro de 1996, quando a dívida era de 173 bilhões de dólares.