Economia

Mais de 80% dos municípios terão ganhos com a reforma tributária, aponta Ipea

No total, aproximadamente R$ 50 bilhões - 21% das receitas municipais- trocariam de mãos, segundo as estimativas

 (Leandro Fonseca/Exame)

(Leandro Fonseca/Exame)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 28 de agosto de 2023 às 12h21.

Caso a reforma tributária, da maneira como foi aprovada na Câmara dos Deputados, entrasse em vigor de uma vez, 82% dos municípios brasileiros ganhariam receitas, mostra estudo publicado nesta segunda-feira, 28, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No total, aproximadamente R$ 50 bilhões - ou 21% das receitas municipais - trocariam de mãos, segundo as estimativas. Cerca de 67% da população vive nas cidades que seriam favorecidas. Ao considerar os estados, 60% teriam ganhos.

O estudo é uma revisão da Carta de Conjuntura divulgada pelo Ipea em maio. O economista Sérgio Gobetti, pesquisador do Ipea cedido à Secretaria de Estado de Fazenda do Rio Grande do Sul, onde atua como assessor econômico, e a Priscila Kaiser Monteiro, economista graduada pela UFRGS com mestrado pela PUC-RS, assinam o texto.

Os cálculos levam em conta a divisão da arrecadação fiscal de 2022. A nota técnica aponta que os valores não dependem das taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) consideradas para projetar o crescimento das receitas durante os anos de transição.

"Quando analisamos quem são os ganhadores, constatamos que são, em geral, estados menos desenvolvidos e municípios mais pobres – 98% dos que possuem PIB per capita inferior à média brasileira e 98% das 108 cidades populosas e pobres que compõem o G100 (criado pela Frente Nacional dos Prefeitos – FNP). Entre as grandes cidades, registram-se ganhos para 59% das capitais e 72% das que possuem população superior a 80 mil habitantes", aponta o estudo.

Os economistas explicam que o calculo é um resultado da combinação de três mudanças da reforma:

  • Substituição do ICMS por um imposto estadual no destino;
  • Redistribuição da cota-parte municipal do imposto estadual com base em novos critérios (população é o principal deles);
  • Substituição do ISS por um imposto municipal de base ampla e também cobrado no destino.

"Um volume total de R$ 36 bilhões (um terço da receita de R$ 107 bilhões) mudaria de mãos com a substituição do ISS na origem por um IBS no destino. E dois terços dessa migração de recursos têm origem em 45 cidades muito ricas de São Paulo (grandes e pequenas), a qual é redistribuída para os demais municípios paulistas e do restante do país”, aponta o relatório.

O estudo explica que as cidades e governos estaduais que saem perdendo poderão ter ganhos a longo prazo. E como a reforma não será implementada de uma vez, mas passará por uma longa transição, as perdas serão menores do que a projeção do levantamento.

A nota reforça que um sistema tributário mais simples e eficiente, com menos distorções e burocracia, deverá elevar o crescimento econômico do Brasil, além de reduzir a desigualdade.

"Por sua vez, a redução gradual de desigualdade, principalmente pela ampliação das receitas dos municípios mais pobres, em todos os cantos do Brasil, deve ter impacto ainda imensurável sobre o bem-estar de suas populações, com possíveis desdobramentos sobre o ambiente econômico a serem detectados nas próximas décadas", afirma o estudo.

ES, MT e MS terão mais perdedores do que ganhadores

Nos cálculos do estudo, apenas três estados teriam mais municípios perdedores do que ganhadores: Espírito Santo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Eles são considerados estados “exportadores”, que produzem mais do que consomem. Por isso, sairão perdendo om a mudança da cobrança de impostos da origem (ou seja, da produção) para o destino (ou seja, para o consumo).

No Rio de Janeiro, 62% das prefeituras sairão ganhando. Em São Paulo, apesar das perdas das “45% muito ricas”, 74% dos municípios sairão ganhando com a reforma.

O que é a reforma tributária

O objetivo da Reforma Tributária é simplificar o sistema de impostos no Brasil. Mas, como o país tem uma dívida pública elevada, precisa manter gastos sociais – como em Saúde, Educação e transferência de renda – e retomar investimentos em obras de infraestrutura, não há espaço, na avaliação do governo e dos parlamentares, para reduzir a carga tributária brasileira.

Acompanhe tudo sobre:Reforma tributáriacidades-brasileirasEstados brasileiros

Mais de Economia

IPCA de maio acelera e sobe 0,46%; inflação acumulada de 12 meses fica em 3,93%

Vazamento de dados expõe informações cadastrais de quase 20 mil chaves Pix

Empresas afetadas pela tragédia no RS podem solicitar crédito em linha do BNDES nesta terça

Relator da LDO de 2025 procura ministros e diz que apresentará parecer preliminar nesta quarta

Mais na Exame