Investidores dizem não temer eleições na América Latina
Para os participantes do Fórum Econômico Mundial sobre a América Latina, maior risco não é um candidato, e sim alguém que já ocupa o cargo de presidente: o venezuelano Hugo Chávez
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h34.
A América Latina vive um ciclo de eleições que terá levado às urnas, entre os anos de 2005 e 2006, a população de doze países. Mas ao contrário de 2002 - quando os brasileiros puderam acompanhar o nervosismo dos investidores pela oscilação do dólar -, este não é um tempo de preocupação para os empresários, que vêem o desenvolvimento dos latinos com bons olhos. Pelo menos essa é a opinião dos participantes do Fórum Econômico Mundial para a América Latina, realizado nestas quarta (05/04) e quinta-feiras (06/04) em São Paulo.
O maior voto daqueles que esperam pelos novos rumos da economia latina é para que as atuais diretrizes sejam preservadas. "O melhor que os candidatos e futuros presidentes têm a fazer é manter a política de desenvolvimento", diz Donna Hrinak, ex-embaixadora dos Estados Unidos no Brasil. Anne Newman, vice-presidente do Grupo de serviços WPP para a América Latina, afirma que hoje a América Latina ganhou a confiança de grupos como o dela, uma companhia de serviços de comunicação com bases em países como Venezuela, Colômbia, Peru e Argentina. "Há dois países que dominam a América Latina: Brasil e México. Muito da atenção internacional se concentra neles e há uma sensação de que as instituições vêm se fortalecendo e que o avanço vai continuar, independentemente de qual candidato ganhar", diz Anne.
As reclamações dos participantes do fórum se concentraram justamente em um presidente, e não em um candidato. Nas rodas de discussão, Hugo Chávez, líder venezuelano, apareceu como maior risco aos investimentos externos na América Latina. "O temor é de que ele tome alguma medida de nacionalização, o que poderia levar as empresas a tirarem recursos de lá", diz Newman.
Néstor Carbonell, vice-presidente de relações internacionais da Pepsico, afirma que o "chavismo" representa tudo o que as empresas não gostariam de ver em um governo: despotismo, repressão à liberdade de discurso e cerceamento de informação. "Um governo deve governar democraticamente. Há um perigo e ele está se espalhando na Venezuela", diz. O discurso anti-Chávez, no entanto, foi minimizado pelo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, José Miguel Insulza. "Os empresários não estão com medo. Se estivessem, já teriam gritado antes, Chávez está no poder há sete anos", afirma.
As oscilações na estabilidade política da região, no entanto, foram apontadas como fator que poderia preocupar os investidores. Segundo o historiador Boris Fausto, a América Latina vive hoje uma crise de democracia, o que pode estabelecer tempos de incerteza e desviar recursos de empresários a outros países. "Em certos países, você tem uma crise dos partidos políticos. Na Bolívia, por exemplo, o povo foi às ruas tirar um presidente", diz. "E se você tiver instabilidade, os negócios não vêm", conclui.