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Inflação domina debate econômico

A inflação dominou boa parte do seminário "Os desafios da economia brasileira para os próximos quatro anos", realizado nesta tarde na sede da Serasa S/A, em São Paulo, com o patrocínio de EXAME. Apesar de posições divergentes, economistas e consultores foram unânimes em manifestar preocupação com o tema. Na opinião do consultor Luís Paulo Rosemberg, […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h43.

A inflação dominou boa parte do seminário "Os desafios da economia brasileira para os próximos quatro anos", realizado nesta tarde na sede da Serasa S/A, em São Paulo, com o patrocínio de EXAME. Apesar de posições divergentes, economistas e consultores foram unânimes em manifestar preocupação com o tema.

Na opinião do consultor Luís Paulo Rosemberg, ao contrário do que vem sendo dito, os índices já apontam reflexo de um crescimento do consumo. A inflação, diz ele, não é apenas conseqüência do aumento no câmbio registrado ao longo deste ano: "É possível verificar isso olhando o número das carteiras dos bancos e da demanda por crédito".

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Para Rosemberg, "o brasileiro entende tudo de inflação". Ele aponta como prova disso a estratégia de se defender da desvalorização da moeda correndo para a compra de ativos reais. Hoje, diz o economista, o reajuste pela inflação já está presente nas tarifas públicas e também já foi usado pelas maiores categorias de trabalhadores para reposição salarial.

O economista Ricardo Carneiro, professor da Unicamp e um dos colaboradores do programa econômico do PT, discorda. Ele acha que o câmbio ainda é responsável pela maior parte da alta dos preços. Carneiro questionou a eficiência do sistema atual de usar o aumento dos juros como meio para conter a inflação. Segundo ele, dois terços dos preços acompanham a moeda americana, e apenas para 22% uma elevação da taxa de juros surte o efeito desejado de brecar a alta.

O economista Luciano Coutinho, da Unicamp, também acha que o câmbio é o principal responsável pela inflação atual. Por isso, ele tem expectativa positiva com relação à taxa de juros no próximo ano. Coutinho acredita que ela possa encerrar 2003 a 17,5%, contra os 22% atuais. Mesmo assim, ele estima que o IPCA, o índice oficial de inflação adotado pelo governo, vá estourar a meta máxima traçada para 2003, de 6,5%. Coutinho acredita em uma inflação de 8,5% no ano que vem.

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola afirmou que a credibilidade do sistema de metas de inflação está arranhada, já que há dois anos todas as metas traçadas têm de ser revistas. Ele afirmou, porém, não acreditar que haja alternativa melhor. "É preciso tomar cuidado para que o sistema não fique desfigurado", disse Loyola. A vantagem do regime de metas, afirma o ex-presidente do BC, é que ele permite que haja convergência das expectativas da inflação e dá um certo rumo ao mercado.

Loyola disse ainda estar otimista com relação ao risco Brasil, hoje em torno de 1.700 pontos. Ele acredita que, com o anúncio da nova equipe do governo, há boa chance de recuo para algo em torno de 900 pontos. "Depois, a manutenção desse patamar, ou mesmo a queda para a média dos outros países, de 600 pontos, vai depender da gestão do governo eleito", diz Loyola. Para ele, o risco-país só subiu muito por causa das perspectivas de mercado internacional com relação a um eventual calote do Brasil.

Mas o grande desafio para o governo Lula, além de conter a inflação e manter a estabilidade da moeda, será garantir o crescimento econômico, afirmou o consultor Paulo Rabello da Costa: "O presidente Fernando Henrique foi o presidente da moeda. Ficou só na estabilidade, mas sem crescimento".

Para isso, será fundamental melhorar os índices de produtividade da economia. Claudio Adilson Gonçalez, da MCM Consultores, apresentou números mostrando quão baixos eles têm sido nos últimos anos. Enquanto o Brasil cresceu a uma taxa de 3,1% ao ano entre 1950 e 1980, nas décadas de 80 e 90, a taxa foi negativa em 0,7%. A carga tributária foi apontada como um dos principais entraves. No Brasil, hoje ela representa 35,6% do PIB, percentual equivalente ao de países desenvolvidos. Nos EUA, é de 32,9%. Na Inglaterra, 39%. Mas em outros países emergentes, comparáveis ao Brasil, é muito menor. Na Argentina, é de 21,7%. No México, 18,3%. Na Coréia do Sul, 17,9%. "Cobramos sobre a capacidade de produzir o dobro do que é cobrado em outros países pobres", afirmou Gonçalez. A saída, na sua avaliação, depende da redução do tamanho do Estado.

Mas o consultor Antoninho Marmo Trevisan, que ontem passou

a integrar oficialmente a equipe de transição do governo Lula e será responsável por traçar um mapa da situação das empresas estatais, defendeu a necessidade de a reforma da Previdência anteceder a tributária. "Sem resolver a questão da Previdência, é impossível saber quanto o governo pode cortar de impostos", afirmou Trevisan. Ele também descartou a possibilidade de assumir a secretaria da Receita Federal. Disse que, por sempre ter trabalhado em defesa da diminuição dos impostos cobrados no país, não poderia assumir uma pasta onde teria que trabalhar para aumentar a arrecadação.

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