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Indicadores apontam um 1º trimestre difícil em 2015

Indicadores como baixa expansão do crédito, elevados estoques da indústria e queda na confiança de consumidores e empresas apontam para um 1º trimestre fraco

Indústria brasileira: indicadores mostram que o primeiro trimestre de 2015 será difícil para o Brasil (Wilson Dias/Agência Brasil)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2014 às 10h32.

São Paulo - A cada dado econômico divulgado, as perspectivas para o começo de 2015 se tornam mais difíceis. Indicadores como a baixa expansão do crédito, os elevados estoques da indústria, a perda de dinamismo do mercado de trabalho e a queda na confiança de consumidores e empresas apontam para um primeiro trimestre fraco em 2015, a despeito da base de comparação deprimida.

Nos primeiros três meses deste ano, o Brasil registrou retração de 0,2% e o crescimento anual do PIB está estimado em 0,21% (pesquisa Focus). Para 2015, a expansão está projetada em 0,80% (Focus) e poucos arriscam estimativa para os primeiros três meses do ano após o IBGE confirmar, na semana passada, mudança de metodologia para medir a atividade.

Estimativa do Itaú Unibanco, por exemplo, é até mais otimista ao indicar crescimento de 0,4% para o PIB dos primeiros três meses de 2015, ano em que a expansão seria de 1,1%. Já a LCA vê um avanço de 0,2% para o primeiro trimestre.

Segundo os dados mais recentes, o estoque de operações de crédito do sistema financeiro subiu apenas 1,3% em setembro ante agosto, chegando a R$ 2,900 trilhões. Já a média diária de concessões de crédito livre subiu 2,5% em setembro em relação a agosto, para R$ 12,7 bilhões.

Além disso, todos os grandes bancos reduziram, nas últimas semanas, suas projeções para a expansão das carteiras, priorizando segmentos de menor risco, como crédito imobiliário e consignado, para manter a inadimplência em baixa. Bradesco, por exemplo, reviu a faixa prevista de 10%-14% para 7%-11%.

Além de mais caro, o crédito para a pessoa jurídica está com prazo mais curto. Ao analisar os dados mais recentes do mercado de crédito disponibilizados pelo Banco Central, o pesquisador do Instituto Assaf, Fabiano Guasti Lima, observa que as taxas de juros para as empresas fecharam agosto na média de 15,8% ao ano.

Em agosto do ano passado, a taxa média era de 14,7% ao ano. Na mesma base de comparação, o prazo dos financiamentos caiu de 69,5 meses para 58,5 meses. "Para a pessoa jurídica, o crédito de curto prazo não atende as necessidades de investimento, o que inviabiliza a concretização de novas oportunidades", diz.

Essa redução na expansão do crédito não é um problema só de oferta, mas de demanda. De acordo com pesquisa da Serasa Experian, a procura dos consumidores por crédito acumula queda de 2,5% nos dez primeiros meses deste ano. A FGV aponta que a confiança do consumidor caiu 1,5% em outubro em relação a setembro e atingiu o menor nível desde abril de 2009.

Além da desaceleração da economia e da elevação de juros, que encarece o crédito e desestimula o consumo, a queda na confiança do consumidor é explicada também pelas preocupações em relação ao mercado de trabalho. Apesar de a taxa de desemprego do IBGE continuar em queda, o fenômeno é explicado pelo contingente menor de pessoas procurando emprego.

Os dados mais recentes do Caged mostram que a geração de vagas formais em outubro foi a menor para o mês desde o início da série histórica, em 1999, com fechamento de 30.283 postos. Na indústria, que concentra os cargos mais qualificados, com salários melhores, o emprego acumula quedas consecutivas na comparação anual há 36 meses.

Essas demissões na indústria resultam em grande medida de estoques elevados. Um dos setores que enfrenta maiores dificuldades este ano é o automobilístico, cujos estoques, segundo a Anfavea, somavam 413,4 mil unidades em outubro, o equivalente a 40 dias de vendas.

Diante do cenário atual, as perspectivas do segmento para 2015 são de um ano um pouco melhor do que 2014, muito mais pela base fraca de comparação. Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan, as vendas melhoraram na primeira quinzena de novembro, mas o consenso entre executivos de montadoras ouvidos pelo Broadcast no 28º Salão do Automóvel de São Paulo é de retomada de fato do setor apenas a partir de 2016.

As vendas do setor, que já amargam queda de 8,9% no acumulado deste ano, podem ser impactadas pelo fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no próximo dia 31 de dezembro. Caso o benefício não seja renovado ou outros estímulos ao setor sejam dados, a regularização dos estoques deve continuar acontecendo por meio de cortes na produção.

Com esse cenário pouco otimista no curto e médio prazo, o setor segue tentando com o governo ampliar de cinco meses para pelo menos um ano o período de layoff. Em 2014, o setor já acumula 4 mil pessoas com contratos de trabalho suspensos em todo o Brasil.

Com uma visão um pouco menos pessimista, o diretor de políticas e estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, diz que os dados mais recentes apontam para certa estabilidade no setor como um todo, embora em nível bastante baixo. "Estamos em um momento de alerta. Ainda não é possível dizer que o fundo do poço já passou". Segundo ele, as incertezas com a nova política econômica afetam principalmente o segmento de construção e outros com necessidade elevada de capital.

Construção

No setor de construção, que assim como o automobilístico é uma área intensiva em mão de obra, o cenário não é diferente. Segundo levantamento feito pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, com dados de oito das maiores companhias do País listadas na Bolsa, os estoques elevados fizeram com que as construtoras reduzissem em 23% os lançamentos no terceiro trimestre.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto, afirma que o setor aguarda uma sinalização principalmente da nova equipe econômica para fazer projeções.

Ferraz Neto ponderou, contudo, que, no caso da construção civil, a influência de ajustes é mais lenta, uma vez que os investimentos são de médio e longo prazo, mas lembrou que alguns indicadores antecedentes já mostram uma redução de lançamentos em 2015.

"Temos visto ultimamente uma diminuição do material de construção em geral e aumento do material de acabamento. Isso quer dizer que estamos produzindo, mas no acabamento", afirmou.

Ao considerar que 2015 deve ser um ano de reajustes, o dirigente diz já pensar no cenário para 2016. Ele defendeu que, para o setor, é importante que o governo amplie o programa "Minha Casa, Minha Vida", assim como promova grandes obras de infraestrutura.

Ferraz afirma que somente com essas medidas será possível manter o nível de emprego, que tem se mantido estável em cerca de 3,5 milhões de trabalhadores. "Está na mão da presidente Dilma Rousseff", disse.

Confiança

Com essas perspectivas nada otimistas, a confiança das empresas tem registrado quedas muito acentuadas. No segmento de construção, segundo a FGV, a confiança despencou 19,9% em outubro, na comparação anual, o pior resultado da série histórica.

Na indústria, houve queda de 15,8%, enquanto nos serviços a retração foi de 13,0%. Um dos principais fatores que colaboram para as incertezas das empresas é a indefinição sobre a equipe econômica no segundo mandato de Dilma Rousseff.

A expectativa é que as indicações, principalmente do ministro da Fazenda, apontem o caminho a ser seguido, ou seja, se a presidente dobrará as apostas em políticas não convencionais ou procurará promover ajustes em direção a ações mais ortodoxas.

A Randon é uma das companhias que disse aguardar sinalizações do governo para avaliar a necessidade de ajustes em 2015. "Vamos tomar atitudes em função do que vier agora do governo, que ritmo vai ser dado para o ano de 2015. Tem muita incerteza ainda", afirmou em entrevista ao Broadcast o diretor da divisão ferroviária da empresa, Cesar Alencar Pissetti.

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São Paulo - A cada dado econômico divulgado, as perspectivas para o começo de 2015 se tornam mais difíceis. Indicadores como a baixa expansão do crédito, os elevados estoques da indústria, a perda de dinamismo do mercado de trabalho e a queda na confiança de consumidores e empresas apontam para um primeiro trimestre fraco em 2015, a despeito da base de comparação deprimida.

Nos primeiros três meses deste ano, o Brasil registrou retração de 0,2% e o crescimento anual do PIB está estimado em 0,21% (pesquisa Focus). Para 2015, a expansão está projetada em 0,80% (Focus) e poucos arriscam estimativa para os primeiros três meses do ano após o IBGE confirmar, na semana passada, mudança de metodologia para medir a atividade.

Estimativa do Itaú Unibanco, por exemplo, é até mais otimista ao indicar crescimento de 0,4% para o PIB dos primeiros três meses de 2015, ano em que a expansão seria de 1,1%. Já a LCA vê um avanço de 0,2% para o primeiro trimestre.

Segundo os dados mais recentes, o estoque de operações de crédito do sistema financeiro subiu apenas 1,3% em setembro ante agosto, chegando a R$ 2,900 trilhões. Já a média diária de concessões de crédito livre subiu 2,5% em setembro em relação a agosto, para R$ 12,7 bilhões.

Além disso, todos os grandes bancos reduziram, nas últimas semanas, suas projeções para a expansão das carteiras, priorizando segmentos de menor risco, como crédito imobiliário e consignado, para manter a inadimplência em baixa. Bradesco, por exemplo, reviu a faixa prevista de 10%-14% para 7%-11%.

Além de mais caro, o crédito para a pessoa jurídica está com prazo mais curto. Ao analisar os dados mais recentes do mercado de crédito disponibilizados pelo Banco Central, o pesquisador do Instituto Assaf, Fabiano Guasti Lima, observa que as taxas de juros para as empresas fecharam agosto na média de 15,8% ao ano.

Em agosto do ano passado, a taxa média era de 14,7% ao ano. Na mesma base de comparação, o prazo dos financiamentos caiu de 69,5 meses para 58,5 meses. "Para a pessoa jurídica, o crédito de curto prazo não atende as necessidades de investimento, o que inviabiliza a concretização de novas oportunidades", diz.

Essa redução na expansão do crédito não é um problema só de oferta, mas de demanda. De acordo com pesquisa da Serasa Experian, a procura dos consumidores por crédito acumula queda de 2,5% nos dez primeiros meses deste ano. A FGV aponta que a confiança do consumidor caiu 1,5% em outubro em relação a setembro e atingiu o menor nível desde abril de 2009.

Além da desaceleração da economia e da elevação de juros, que encarece o crédito e desestimula o consumo, a queda na confiança do consumidor é explicada também pelas preocupações em relação ao mercado de trabalho. Apesar de a taxa de desemprego do IBGE continuar em queda, o fenômeno é explicado pelo contingente menor de pessoas procurando emprego.

Os dados mais recentes do Caged mostram que a geração de vagas formais em outubro foi a menor para o mês desde o início da série histórica, em 1999, com fechamento de 30.283 postos. Na indústria, que concentra os cargos mais qualificados, com salários melhores, o emprego acumula quedas consecutivas na comparação anual há 36 meses.

Essas demissões na indústria resultam em grande medida de estoques elevados. Um dos setores que enfrenta maiores dificuldades este ano é o automobilístico, cujos estoques, segundo a Anfavea, somavam 413,4 mil unidades em outubro, o equivalente a 40 dias de vendas.

Diante do cenário atual, as perspectivas do segmento para 2015 são de um ano um pouco melhor do que 2014, muito mais pela base fraca de comparação. Segundo o presidente da Anfavea, Luiz Moan, as vendas melhoraram na primeira quinzena de novembro, mas o consenso entre executivos de montadoras ouvidos pelo Broadcast no 28º Salão do Automóvel de São Paulo é de retomada de fato do setor apenas a partir de 2016.

As vendas do setor, que já amargam queda de 8,9% no acumulado deste ano, podem ser impactadas pelo fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) no próximo dia 31 de dezembro. Caso o benefício não seja renovado ou outros estímulos ao setor sejam dados, a regularização dos estoques deve continuar acontecendo por meio de cortes na produção.

Com esse cenário pouco otimista no curto e médio prazo, o setor segue tentando com o governo ampliar de cinco meses para pelo menos um ano o período de layoff. Em 2014, o setor já acumula 4 mil pessoas com contratos de trabalho suspensos em todo o Brasil.

Com uma visão um pouco menos pessimista, o diretor de políticas e estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, diz que os dados mais recentes apontam para certa estabilidade no setor como um todo, embora em nível bastante baixo. "Estamos em um momento de alerta. Ainda não é possível dizer que o fundo do poço já passou". Segundo ele, as incertezas com a nova política econômica afetam principalmente o segmento de construção e outros com necessidade elevada de capital.

Construção

No setor de construção, que assim como o automobilístico é uma área intensiva em mão de obra, o cenário não é diferente. Segundo levantamento feito pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, com dados de oito das maiores companhias do País listadas na Bolsa, os estoques elevados fizeram com que as construtoras reduzissem em 23% os lançamentos no terceiro trimestre.

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), José Romeu Ferraz Neto, afirma que o setor aguarda uma sinalização principalmente da nova equipe econômica para fazer projeções.

Ferraz Neto ponderou, contudo, que, no caso da construção civil, a influência de ajustes é mais lenta, uma vez que os investimentos são de médio e longo prazo, mas lembrou que alguns indicadores antecedentes já mostram uma redução de lançamentos em 2015.

"Temos visto ultimamente uma diminuição do material de construção em geral e aumento do material de acabamento. Isso quer dizer que estamos produzindo, mas no acabamento", afirmou.

Ao considerar que 2015 deve ser um ano de reajustes, o dirigente diz já pensar no cenário para 2016. Ele defendeu que, para o setor, é importante que o governo amplie o programa "Minha Casa, Minha Vida", assim como promova grandes obras de infraestrutura.

Ferraz afirma que somente com essas medidas será possível manter o nível de emprego, que tem se mantido estável em cerca de 3,5 milhões de trabalhadores. "Está na mão da presidente Dilma Rousseff", disse.

Confiança

Com essas perspectivas nada otimistas, a confiança das empresas tem registrado quedas muito acentuadas. No segmento de construção, segundo a FGV, a confiança despencou 19,9% em outubro, na comparação anual, o pior resultado da série histórica.

Na indústria, houve queda de 15,8%, enquanto nos serviços a retração foi de 13,0%. Um dos principais fatores que colaboram para as incertezas das empresas é a indefinição sobre a equipe econômica no segundo mandato de Dilma Rousseff.

A expectativa é que as indicações, principalmente do ministro da Fazenda, apontem o caminho a ser seguido, ou seja, se a presidente dobrará as apostas em políticas não convencionais ou procurará promover ajustes em direção a ações mais ortodoxas.

A Randon é uma das companhias que disse aguardar sinalizações do governo para avaliar a necessidade de ajustes em 2015. "Vamos tomar atitudes em função do que vier agora do governo, que ritmo vai ser dado para o ano de 2015. Tem muita incerteza ainda", afirmou em entrevista ao Broadcast o diretor da divisão ferroviária da empresa, Cesar Alencar Pissetti.

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