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Fed e ata do Copom derrubam otimismo do mercado

Medo da inflação fez BC manter juros; Fed insinua que pode elevar taxa

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h26.

Duas notícias reverteram o quadro de otimismo que vivia o mercado brasileiro. A primeira foi a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), divulgada nesta quinta-feira (29/1). O Copom informou que manteve a taxa de juros inalterada por receio de pressões inflacionárias. A segunda foi a leitura atenta do comunicado do Fed, o Banco Central americano, emitido na quarta-feira (28/1) para justificar a manutenção dos juros americanos em 1%.

Em seu comunicado, o Fed omitiu a expressão "por um período considerável", que costumava constar desse tipo de declaração. Os investidores interpretaram a omissão como um sinal que que a taxa de juros deve subir em breve nos Estados Unidos. Para os investidores internacionais, o sinal do Fed significa um alerta para a retirada dos mercados emergentes.

No fim do dia, o mercado financeiro contabilizava suas perdas. O risco Brasil disparou, e subiu 19,2%, voltando a superar a marca de 500 pontos-base. Os C-Bonds, principais títulos da dívida externa brasileiras, fecharam a 98,25% do valor de face, abaixo dos 100% pela primeira vez desde 13 de janeiro. O dólar comercial avançou para um máximo de 2,97 reais e fechou a 2,93, uma alta de 1,2% em relação à véspera. Segundo operadores, o fato de nenhuma empresa ter anunciado a emissão de bônus no mercado internacional impediu que a alta do dólar fosse mitigada por alguma notícia positiva. O dia também foi muito ruim no mercado acionário. A Bolsa de Valores de São Paulo fechou com uma queda de 6,14% a 22 386 pontos. Foi o primeiro fechamento abaixo de 23 000 pontos desde o dia 2 de janeiro. O volume de negócios foi muito expressivo, com um giro financeiro de 1,5 bilhão de reais.

As más notícias não ficaram por aí. A ata do Copom traduz o receio de que a alta dos índices de inflação registrada em dezembro se mantenha nos próximos meses o que levaria, no médio prazo, a um aumento na taxa de juros. A decisão de manter a taxa de juros em 16,5% foi tomada por oito votos a um. Segundo a ata, o aumento do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) - de 0,34% em novembro para 0,52% em dezembro - ficou acima do esperado e não foi causado exclusivamente por aumentos sazonais de preços. O núcleo do IPCA, calculado pela exclusão dos preços dos alimentos, subiu para 0,63%. Nos cinco meses anteriores, o núcleo do IPCA variava entre 0,35% e 0,40%.

Outros índices tiveram crescimento acima da média em dezembro, informa a ata do Copom. O Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI) subiu de 0,48% em novembro para 0,6% no último mês do ano, influenciado pelo aumento de 0,74% no Índice de Preços no Atacado (IPA). De acordo com o Copom, em janeiro, os índices de preços no atacado e ao consumidor deverão continuar registrando aceleração. A ata informa que o ambiente de retomada da atividade econômica é mais propício a que movimentos de reacomodação de preços relativos tenham como repercussão aumentos do nível geral de preços.

Esse prognóstico foi confirmado com a divulgação do primeiro índice de inflação fechado em 2004. O IGP-M de janeiro indicou uma inflação de 0,88% no primeiro mês do ano, acima das previsões do mercado, de 0,80%. A inflação deverá ser mais elevada nos índices que contemplam os preços de atacado, como os calculados pela Fundação Getulio Vargas (IGP-M, IGP-DI e IGP-10). As principais indústrias contam com o aquecimento da economia para recompor suas margens de lucro, o que deverá pressionar os preços de atacado ao longo dos próximos meses. Essa pressão que pode contaminar os índices de preços de varejo é o que deverá ser combatido pelo Copom ao longo das próximas reuniões.

A ata do Copom ressalta que não há, ainda, informações suficientes para determinar os fatores que levaram ao crescimento da inflação, embora haja evidências capazes de corroborar a interpretação de que pode se tratar de um movimento persistente. Um dos principais receios do Copom, expresso no ata, é que o aumento dos índices de preços ao atacado contamine a inflação ao consumidor nos próximos meses. Para o mercado financeiro, esse é um sinal claro de maior conservadorismo monetário, daí a fuga da Bolsa.

Segundo Alexandre Póvoa, estrategista de investimentos do banco carioca Modal, a ata do Copom veio em tom pior do que o esperado pelo mercado. Ele não descarta a hipótese de que o Banco Central tenha colocado mais ênfase no discurso com o objetivo de convencer o mercado de que não desejava ver a continuidade de queda do juro real, pelo menos no curto prazo. Era o único instrumento que restava , diz Póvoa. A maioria dos analistas esperava uma maior certeza de que a autoridade monetária havia feito uma parada técnica por causa de uma inflação sazonal. Não é isso que está transcrito na ata.

"Se fosse membro do Copom, teria votado como o dissidente, que queria uma queda de 0,25 p.p.", disse Alexandre Mathias, economista-chefe do Unibanco Asset Management. Segundo ele, o aumento nos núcleos de inflação e o aquecimento da economia levaram o Copom a atuar preventivamente. De acordo com o que se lê na ata, novas quedas nos juros só deverão acontecer na reunião de abril.

A valorização do real em relação ao dólar não terá efeitos tão intensos no arrefecimento da inflação, de acordo com a ata do Copom. Os motivos: o dólar se desvaloriza diante de outras moedas, como o iene e o euro. A desvalorização do dólar no mercado internacional estaria levando a um aumento nos preços das commodities, o que pode pressionar a inflação no Brasil. Para Mathias, a inflação deve permanecer pressionada por janeiro e fevereiro. Os primeiros sinais de arrefecimento deverão ser percebidos apenas em março.

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