Dólar;fecha maio com;alta de 8,8%, a maior;desde setembro de 2002

A moeda americana encerrou o mês cotada a 3,19 reais para a venda. O valor representou alta de 3,17% nesta segunda-feira (31/5) e de 8,8% no acumulado de maio maior alta desde setembro de 2002, às vésperas das eleições presidenciais. O comportamento da moeda está mais ligada aos fatores externos, sobretudo à expectativa de aumento da taxa básica de juros americana no final de junho, que a razões internas, na avaliação do economista Alex Agostini, da consultoria Global Invest.

"Com a possibilidade de os Estados Unidos aumentarem sua taxa de juros, as expectativas ficaram pessimistas para o Brasil", afirmou Agostini. Entre outras implicações, ficaria mais difícil a rolagem de dívidas brasileiras, já que os investidores exigiriam maiores prêmios para aceitar as operações. Para o economista, os fatores internos têm pouco peso sobre o movimento do dólar. "Nada mudou no cenário interno. Continuamos com superávit primário e saldos comerciais positivos", disse.

Agostini afirma que o setor produtivo e o setor financeiro apresentam, neste momento, visões distintas sobre a situação. A indústria acredita que as turbulências são passageiras e que o dólar se acalmará a partir de 30 de junho, quando o Fed poderá anunciar a revisão dos juros nos EUA. A maior prova dessa interpretação dos industriais, conforme Agostini, é a curva do estoque de hedge cambial, divulgada pelo Banco Central (BC). Em julho de 2002, a curva atingiu seu pico, com cerca de 41 bilhões de dólares em estoque. A cifra baixou sistematicamente desde entrão, até atingir 23,2 bilhões em meados de maio de 2004 último dado disponível no BC. "Se olharmos apenas para os fatores internos, eu diria que hoje há mais oferta de câmbio do que demanda", afirmou Agostini.

Expectativas

A Global Invest reviu, na semana passada, a previsão para o fechamento do ano. Antes, a consultoria apostava num dólar a 3,15 reais no final de dezembro. A previsão, agora, é de 3,25 reais. Para junho, Agostini acredita que ainda haverá muita volatilidade, sendo difícil uma projeção. "Mas a moeda continuará pressionada", disse.

O principal parâmetro para entender o rumo da moeda americana, nos próximos meses, será a valorização dos títulos dos EUA, os treasures. Se, após um eventual reajuste dos juros pelo Fed, os papéis continuarem subindo, o mercado estará assinalando que ainda há margem para mais aumento nas taxas de juros americanas. A implicação será mais pressão sobre o câmbio brasileiro. Do contrário, a cotação do dólar poderá se estabilizar, ainda que em patamar mais alto.