Dirigível nacional estreia nos ares
A brasileira Airship, empresa do grupo Bertolini, fez o voo inaugural do primeiro dirigível tripulado fabricado na América Latina
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de julho de 2017 às 14h55.
Última atualização em 25 de julho de 2017 às 14h56.
São Carlos - Dirigíveis parecidos com o famoso Zeppelin vão voltar aos céus de várias regiões do país, desta vez transportando cargas como celulares, pás eólicas e torres de energia. A brasileira Airship, empresa do grupo Bertolini, um dos maiores do ramo de transporte , fez na segunda-feira, 24, em São Carlos (SP), o voo inaugural do primeiro dirigível tripulado fabricado na América Latina.
Ainda um protótipo, o ADB 3-X01, como é chamado o balão de 50 metros, foi concebido para transportar seis pessoas e cargas de até 1,5 tonelada. Em um ano, a empresa pretende lançar uma versão comercial, que terá a capacidade ampliada para carregar 3 toneladas.
Em meados de 2019, será a vez do ADB-3-30, que terá 120 metros e poderá carregar até 30 toneladas - como comparação, o Boeing 747-8 mede 76 metros. Pelo menos cinco empresas privadas e duas estatais já estão negociando a compra ou locação das aeronaves, diz Paulo Caleffi, presidente da Airship.
Já há carta de intenção de parceria com a estatal Eletronorte, que entregou à Airship mais de R$ 3 milhões para apoiar o desenvolvimento de um dirigível para inspeção de linhas de alta tensão em locais de difícil acesso, como montanhas e florestas. Os Correios também pretendem utilizar as aeronaves para entregar encomendas.
Caleffi não revela nomes das empresas privadas interessadas no projeto, mas adianta o uso que elas pretendem dar ao dirigível, como retirada de madeira degradada das florestas, transporte e instalação de pás eólicas e transporte de produtos de tecnologia produzidos na Zona Franca de Manaus.
As Forças Armadas também poderão adaptar os dirigíveis para patrulhamento em fronteiras, por exemplo. O grupo não descarta usá-los em turismo e ações de marketing - a exemplo do que fez a Goodyear entre 1998 e 2006, quando seu blimp sobrevoava a capital paulista.
"Mas o maior objetivo é o transporte de cargas, principalmente na Região Amazônica, que carece de estradas", diz Irani Bertolini, dono do Grupo Bertolini. A empresa, com sede em Manaus (AM), atua na área de transporte rodoviário de soja e milho com mais de 2 mil caminhões e no fluvial com cerca de 230 balsas. O grupo também tem um estaleiro e uma fábrica de semirreboques, entre outros negócios, e emprega cerca de 5 mil funcionários.
Trajetória
Resultado de um projeto que começou a ser desenvolvido há 12 anos, a Airship inicialmente tinha a empreiteira Engevix como sócia. A empresa vendeu sua fatia de 50% aos Bertolinis em 2016, após ser envolvida na Operação Lava Jato.
O desenvolvimento do dirigível consumiu R$ 150 milhões, segundo Bertolini, sendo parte financiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O executivo não informa os investimentos nos próximos passos do projeto. Segundo Caleffi, o grupo tem 71 fornecedores brasileiros, mas boa parte dos componentes ainda será importada.
O grupo aguarda homologação dos dirigíveis que serão comercializados pela Agência Nacional de Aviação (Anac), o que deve ocorrer em um ano. O protótipo será utilizado na escola de pilotos de dirigíveis criada pela empresa.
Brasil será 5º país a fabricar aeronave
A Airship adquiriu tecnologia de empresas americanas para desenvolver o dirigível brasileiro. "Compramos e aperfeiçoamos, por isso há empresas do Canadá e do Alaska (EUA) querendo fazer parcerias conosco", diz Paulo Caleffi. O grupo ainda não definiu preços de comercialização das aeronaves, mas, segundo o executivo, a de maior porte será produzida a um custo de US$ 20 milhões - o que ele diz ser metade do valor gasto do exterior. Já o dirigível de menor porte tem custo estimado de produção de US$ 12 milhões. O Brasil será o quinto País a produzir dirigíveis tripulados, após EUA, Alemanha, Inglaterra e China.