China deve dar pontapé para maiores reformas em 20 anos
Flexibilidade na migração interna e liberalização financeira são algumas das medidas que podem ser delineadas após encontro da cúpula do Partido Comunista
João Pedro Caleiro
Publicado em 11 de novembro de 2013 às 18h50.
São Paulo - O mundo está acompanhando com atenção a Plenária do Partido Comunista Chinês, que começou no último sábado e será finalizada amanhã. A reunião de 1978 entrou para a história como o marco do início da abertura chinesa.
Desta vez, a expectativa é que o encontro do presidente Xi Jinping com sua cúpula mais próxima traga as mais importantes reformas no país desde 1992.
Os líderes terão que navegar o paradoxo de liberalizar ainda mais a economia sem abrir mão do controle político (o que está fora de questão).
No longo prazo, o objetivo é fazer com que a China caminhe de um modelo dependente de exportações e investimento para um que seja mais baseado no consumo interno de seus 1,3 bilhão de habitantes.
Urbanização
Um dos focos deve ser o hukou, sistema de controle da migração interna. Um chinês que mora atualmente no campo não pode simplesmente decidir se mudar para uma cidade - e se o fizer, estará excluído de serviços básicos de educação e saúde.
Como a urbanização é um dos motores do crescimento do país, especialistas aguardam uma eliminação gradual desse sistema, o que traria mais dinamismo e menos distorções no mercado imobiliário .
Sem uma expansão equivalente dos serviços sociais, porém, pode haver ressentimento com os recém-chegado e uma sobrecarga em escolas e hospitais.
Oportunidade e resistência
Há uma visão generalizada de que a China vive uma bolha imobiliária, e um dos razões para isso é que faltam oportunidades de investimento em outros setores.
A resolução desse problema passa por uma maior liberalização do mercado financeiro, que poderia acontecer gradualmente através de medidas como a garantia de depósitos bancários e um menor controle de capitais.
Acredita-se que Xi e seus colegas podem ampliar a autonomia também no campo, dando títulos de posse aos fazendeiros e permitindo a livre compra e venda de terrenos. Isso tornaria a produção de alimentos mais eficiente e colocaria mais dinheiro na conta das famílias.
Esse tipo de mudança, porém, incomodaria os governos locais, que dependem do arrendamento para levantar recursos. Esse esquema levou a uma explosão da dívida e de projetos duvidosos, problemas que também devem ser alvo de medidas.
Apesar da resistência, as poderosas companhias estatais também não devem escapar de reformas. Especialistas acreditam que o governo chinês pode derrubar as barreiras de entrada de alguns mercados para estimular a competição e forçar uma melhoria de serviços.
Por enquanto, tudo não passa de especulação. Como a China não tem imprensa independente ou uma sociedade civil organizada, as contradições do país e as pressões dos grupos organizados acabam sendo negociadas dentro de uma estrutura notória pela falta de transparência.
Após a conclusão do encontro, a imprensa estatal chinesa deve divulgar linhas gerais do que ficou decidido. Medidas concretas e específicas, no entanto, só devem ser detalhadas e implementadas ao longos dos próximos meses e anos.
São Paulo - O mundo está acompanhando com atenção a Plenária do Partido Comunista Chinês, que começou no último sábado e será finalizada amanhã. A reunião de 1978 entrou para a história como o marco do início da abertura chinesa.
Desta vez, a expectativa é que o encontro do presidente Xi Jinping com sua cúpula mais próxima traga as mais importantes reformas no país desde 1992.
Os líderes terão que navegar o paradoxo de liberalizar ainda mais a economia sem abrir mão do controle político (o que está fora de questão).
No longo prazo, o objetivo é fazer com que a China caminhe de um modelo dependente de exportações e investimento para um que seja mais baseado no consumo interno de seus 1,3 bilhão de habitantes.
Urbanização
Um dos focos deve ser o hukou, sistema de controle da migração interna. Um chinês que mora atualmente no campo não pode simplesmente decidir se mudar para uma cidade - e se o fizer, estará excluído de serviços básicos de educação e saúde.
Como a urbanização é um dos motores do crescimento do país, especialistas aguardam uma eliminação gradual desse sistema, o que traria mais dinamismo e menos distorções no mercado imobiliário .
Sem uma expansão equivalente dos serviços sociais, porém, pode haver ressentimento com os recém-chegado e uma sobrecarga em escolas e hospitais.
Oportunidade e resistência
Há uma visão generalizada de que a China vive uma bolha imobiliária, e um dos razões para isso é que faltam oportunidades de investimento em outros setores.
A resolução desse problema passa por uma maior liberalização do mercado financeiro, que poderia acontecer gradualmente através de medidas como a garantia de depósitos bancários e um menor controle de capitais.
Acredita-se que Xi e seus colegas podem ampliar a autonomia também no campo, dando títulos de posse aos fazendeiros e permitindo a livre compra e venda de terrenos. Isso tornaria a produção de alimentos mais eficiente e colocaria mais dinheiro na conta das famílias.
Esse tipo de mudança, porém, incomodaria os governos locais, que dependem do arrendamento para levantar recursos. Esse esquema levou a uma explosão da dívida e de projetos duvidosos, problemas que também devem ser alvo de medidas.
Apesar da resistência, as poderosas companhias estatais também não devem escapar de reformas. Especialistas acreditam que o governo chinês pode derrubar as barreiras de entrada de alguns mercados para estimular a competição e forçar uma melhoria de serviços.
Por enquanto, tudo não passa de especulação. Como a China não tem imprensa independente ou uma sociedade civil organizada, as contradições do país e as pressões dos grupos organizados acabam sendo negociadas dentro de uma estrutura notória pela falta de transparência.
Após a conclusão do encontro, a imprensa estatal chinesa deve divulgar linhas gerais do que ficou decidido. Medidas concretas e específicas, no entanto, só devem ser detalhadas e implementadas ao longos dos próximos meses e anos.