Economia

Brasil será prejudicado por euforia dos mercados, diz Krugman

O Nobel de Economia em 2008 afirma que "os mercados estão perdendo o contato com a realidade" ao agir "como se o Brasil fosse se tornar uma superpotência no ano que vem"

Paul Krugman: É ruim para o Brasil ser a "cereja do bolo" (.)

Paul Krugman: É ruim para o Brasil ser a "cereja do bolo" (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

A euforia dos investidores internacionais com o mercado brasileiro de capitais pode retardar o crescimento do Brasil nos próximos anos, alertou nesta quarta-feira um dos economistas mais conhecidos da atualidade, o americano Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2008.

Durante a Expo Management em São Paulo, ele disse inclusive que estuda a possibilidade de se desfazer de investimentos pessoais que possui no Brasil, não porque o país esteja indo mal, mas, pelo contrário, porque o mundo todo acha que ele está indo bem.

O problema de tanto otimismo, segundo ele, é o impacto da entrada de capital sobre o câmbio. Com o real valorizado e a perspectiva de novos aportes de dólar nos próximos meses, ficará difícil para o Brasil manter o ritmo das exportações e, consequentemente, a expansão vigorosa da economia.

"Os mercados estão agindo como se o Brasil fosse se tornar uma superpotência já no ano que vem", disse ele. "Mais uma vez, os mercados estão perdendo o contato com a realidade."

Colunista do jornal New York Times, professor de economia e negócios internacionais na Universidade Princeton e autor de 20 livros sobre economia, Krugman afirmou que o Brasil ainda não provou ser um país de crescimento e negou que em breve o país se transformará num "supermercado financeiro". (Continua)

 

 


 

O economista disse ainda que além de pesar sobre a balança comercial, a valorização do real pode gerar algumas bolhas domésticas e elevar a dívida externa para níveis desconfortáveis. "A história sugere que é melhor não ser a cereja do bolo", disse ele, ao lembrar os casos do México e da Argetina nos anos 90, dois países que entraram fortemente no radar dos investidores e, em seguida, viram a crise se abater sobre suas economias.

Krugman amenizou, porém, a gravidade da situação brasileira em relação à desses países. "Não estamos falando de uma situação como a da Argentina para o Brasil, mas não é uma boa coisa", explicou.

Sucesso na crise
Apesar dos alertas quanto ao futuro da economia brasileira, Krugman elogiou bastante a resistência do país frente à crise. Para ele, a saúde das instituições financeiras e a capacidade de controlar a inflação foram essenciais para permitir que o país tivesse políticas anticíclicas.

"O Brasil foi capaz de agir como país desenvolvido", afirmou o economista. "É uma história feliz. Pela primeira vez na minha vida profissional eu vejo o Brasil entrar melhor (na crise)." (Continua)
 


Já a política americana de enfrentamento da recessão despertou uma opinião bem mais amarga de Krugman. Num reforço às críticas que costuma fazer em sua coluna do New York Times, ele disse que o governo Obama foi cauteloso demais na proporção do pacote de socorro à economia, em janeiro deste ano, e que agora dificilmente conseguirá aumentar os gastos públicos na medida necessária para retomar o crescimento nos Estados Unidos.

Para Krugman, os EUA devem crescer no máximo 2% em 2010 e a taxa de desemprego, na melhor das perspectivas, permanecerá no atual patamar de 10%. "O desemprego é o problema central para os Estados Unidos neste momento", afirmou.

A solução, segundo o economista, seria investir em programas de emprego público e créditos fiscais para empresas que investirem em geração de vagas. Porém, com a forte oposição do Partido Republicano a qualquer medida que represente mais gastos públicos, será quase impossível para Obama atuar dessa maneira.

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