Bolívia quer negociar com governo brasileiro, e não com a Petrobras
Ministro boliviano de Hidrocarbonetos afirma que, após acordo, governos orientarão suas companhias petrolíferas
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h36.
A reprovação pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Petrobras não serviu apenas para expor as divergências entre Lula e Sérgio Gabrielli, que dirige a estatal. O mais recente efeito das declarações dadas por Lula no encontro de presidentes de Puerto Iguazú, na semana passada, é o enfraquecimento do poder de negociação da Petrobras junto ao governo boliviano. Nesta quarta-feira (10/5), o ministro de Hidrocarbonetos do país, Andrés Soliz, afirmou que as conversas sobre a nacionalização do setor energético ocorrerão sobretudo no nível governamental.
Segundo Soliz, caberá aos governos de Brasil e Bolívia fechar um acordo sobre a questão e, depois, orientarem suas companhias petrolíferas. A intenção de tratar o assunto no plano político, e não econômico, fica evidente com a declaração do ministro boliviano de que esta é a melhor forma para que a negociação não siga um rumo "estritamente comercial".
A força da Petrobras nas negociações foi praticamente implodida por Lula, quando desautorizou publicamente as declarações de Gabrielli. Ao contrário do presidente da petrolífera, Lula aceitou renegociar o preço do gás boliviano e disse que a estatal continuaria investindo no país.
Nesta terça-feira (9/5), o presidente da Petrobras na Bolívia, José Fernando Freitas, manifestou dúvidas sobre se a companhia será capaz de garantir o abastecimento futuro de combustíveis no país, devido ao impacto do Decreto 27 801, que nacionalizou o setor petrolífero. A empresa opera as duas maiores refinarias da Bolívia, com capacidade conjunta de 40 000 barris diários de petróleo e gás natural liqüefeito. Essa produção supre toda a demanda de gasolina comum e premium do país, 100% do querosene para aviação e 70% do óleo diesel.
"Atualmente, as duas refinarias funcionam normalmente, sob a administração da Petrobras. O volume de processamento não diminuiu", disse Freitas à Agência Boliviana de Informação, órgão oficial de comunicação do governo daquele país. O executivo, porém, afirmou que não "colocará as mãos no fogo" pela continuidade do abastecimento, pois "há dúvidas" sobre os efeitos que a nacionalização trará para a empresa.