Economia

As promessas (reais e surreais) dos presidenciáveis

Recuperar a rodovia BR-101 Nordeste: R$ 1 bilhão. Eliminar três mil pontos críticos nas rodovias: R$ 1,2 bilhão. Reformar 5 000 pontes: R$ 1,25 bilhão. Ler os programas de governo dos presidenciáveis: não tem preço. As propostas dos quatro principais candidatos à Presidência oscilam de críticas ao governo Fernando Henrique a declarações universais de boas […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h23.

Recuperar a rodovia BR-101 Nordeste: R$ 1 bilhão. Eliminar três mil pontos críticos nas rodovias: R$ 1,2 bilhão. Reformar 5 000 pontes: R$ 1,25 bilhão. Ler os programas de governo dos presidenciáveis: não tem preço.

As propostas dos quatro principais candidatos à Presidência oscilam de críticas ao governo Fernando Henrique a declarações universais de boas intenções para tirar o Brasil do atoleiro social. Não importa a ideologia: tanto quem defende a economia de mercado quanto os que pretendem implantar o socialismo nos próximos quatro anos prometem um Brasil dos sonhos já em 2006, um país com muito dinheiro, exportando, com emprego a cada esquina. Pobres menos pobres, com direito a casa, educação de qualidade, saúde e segurança.

O efeito das frases

Lula, do PT, assina a carta de introdução ao seu plano de governo com a promessa de muito trabalho: "Com os pés no chão e os olhos no futuro, vamos arregaçar as mangas desde o primeiro instante e realizar um novo contrato social que coloque o país nos trilhos do desenvolvimento".

José Serra, do PSDB, encerra seu programa evocando os valores da nação brasileira: "Uma nação não é apenas um território desenhado num mapa, uma bandeira que se hasteia de vez em quando, um hino que se canta desajeitadamente, uma língua que todos entendem. Uma nação é sobretudo um povo que se une em torno de um projeto histórico, ao mesmo tempo generoso e viável, e com garra e entusiasmo persevera no projeto que escolheu, supera os obstáculos e avança".

Ciro Gomes (PPS) logo na primeira página do programa escreve: "O Brasil é hoje um caldeirão de energia e de engenho. (...) O turismo unifica o país. Engaja os brasileiros na defesa das maravilhas naturais do Brasil. (...) A democratização da economia de mercado, por meio da coordenação estratégica pluralista, descentralizada, participativa e experimental entre o Estado e a iniciativa privada, tem como contrapartida a radicalização da concorrência na economia privada".

Anthony Garotinho (PSB) propõe a troca do capitalismo pelo socialismo: "Que Brasil é esse com que nós, socialistas, sonhamos e que desejamos ajudar a construir? É um Brasil que rompe com seu passado de concentração do poder, da propriedade e da riqueza; que condena e combate a discriminação e a exclusão social; que afirma sua soberania e a defesa de seus interesses nos fóruns internacionais; que trilha os caminhos do desenvolvimento com justiça social, isto é, um desenvolvimento que tenha como objetivo a inclusão social, instrumento da igualdade de oportunidades, da cidadania e da democracia; que utiliza seus recursos naturais de forma soberana e sustentável; que democratiza o Estado, valoriza e respeita a cidadania; que garante direitos e oferece oportunidades iguais a todos os brasileiros; e que busca a integração econômica. (...) Nós, socialistas, amamos nosso país e nosso povo. Do país, conhecemos o enorme potencial; e, no povo, apreciamos as excepcionais qualidades".

Economia na teoria

A teoria dos programas dos presidenciáveis prevê que tudo dará certo, sem atropelos, sem considerar o risco do imponderável. O Brasil voltará a crescer cerca de 4,5% ao ano já a partir de 2003, com geração de empregos suficiente para absorver cerca de 1,5 milhão de jovens que ingressam no mercado de trabalho todos os anos e, de quebra, ainda empregar parte dos atuais desempregados, aumento real do salário mínimo para até R$ 280, tudo isso sem se descuidar do equilíbrio fiscal e da volta da inflação. A sinuca de bico do governo Fernando Henrique _ o sacrifício do crescimento econômico para garantir a austeridade fiscal e estabilidade da moeda _ parece desaparecer nos próximos quatro anos. Eis uma amostra do que dizem sobre economia:

  • José Serra: "O Governo José Serra fechará a equação fiscal com uma taxa de crescimento elevada da produção, que permita arrecadar mais sem novos ou maiores impostos, e com melhora contínua da qualidade dos gastos. Será dado um choque de eficiência e eficácia na administração pública".
  • Ciro Gomes: "Os compromissos com a estabilidade da moeda, com a responsabilidade fiscal (...), com o respeito às leis e aos contratos firmados e com a abertura criteriosa da economia brasileira para o mundo precisam ser reafirmados. (...) Retomar o crescimento econômico é condição para a solução de todos os problemas brasileiros. Não basta, porém, voltar a crescer; é preciso mudar o modelo econômico ruinoso e injusto que o Brasil adotou".
  • Lula: "Nosso governo vai criar um ambiente de estabilidade, com inflação sob controle e sólidos fundamentos macroeconômicos. (...) O Brasil já demonstrou, historicamente, uma vocação para crescer em torno de 7% ao ano. É essa vocação que o nosso governo vai resgatar, trabalhando dia e noite para que o País transite da âncora fiscal para o motor do desenvolvimento. O Brasil precisa navegar no mar aberto do crescimento. Ou será que estamos proibidos de buscar o porto seguro da prosperidade econômica e social?"
  • Garotinho: "O Brasil tem todas as condições de voltar a crescer rapidamente e de se transformar, em duas décadas, numa das grandes potências econômicas do mundo. (...) [Nosso compromisso] expressa a decisão de eliminar a tirania do capital financeiro e superar nossa condição de sociedade periférica. (...) Quando anuncio para maio de 2003 o aumento do salário-mínimo para R$ 280, os reacionários de sempre dizem que o Brasil vai quebrar, como os escravocratas diziam que a abolição da escravidão iria levar a agricultura à falência".

    Robin Hood

    Além de reverter o rumo do crescimento econômico, todo candidato tem um pouco de Robin Hood. Se tudo o que está no papel se transformar em realidade em apenas quatro anos, o Brasil terá um dos melhores sistemas de ensino do mundo. Com qualidade e sem injustiças. Eis o que eles afirmam sobre algumas questões sociais e de relações internacionais:

  • José Serra: "A ausência de uma criança da escola, a recusa de atendimento a uma mulher grávida, ou a falta de ajuda financeira a um idoso não serão toleradas".
  • Lula: "Nosso governo terá como meta promover a educação infantil a um novo estatuto, de modo que todas as crianças tenham os meios para sua formação intelectual igualmente assegurada".
  • Garotinho: "A maior urgência consiste em acabar com o analfabetismo (absoluto e funcional, ou seja, também entre aqueles que têm menos de quatro anos de escolaridade). Nenhum recurso será poupado para eliminar de nosso panorama social esse flagelo que impede o exercício da cidadania por parte de milhões de brasileiros".
  • Ciro Gomes: "O Brasil tratará o estreitamento de suas relações com a Argentina como prioridade nacional, aceitando sacrifícios, ainda que unilaterais, para fortalecer um vínculo cujo valor transcende qualquer interesse momentâneo. Atuará com vigor em todo o mundo em defesa dos interesses argentinos, de acordo com a vontade dos argentinos e de seu governo".

    Pois é.

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