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Da Redação
Publicado em 11 de novembro de 2009 às 19h37.
SÃO PAULO (Reuters) - O apagão que atingiu o Brasil na noite da terça-feira ressalta a necessidade de fortes investimentos para garantir que a infraestrutura do país acompanhe seu robusto crescimento, mas não sinaliza riscos sistêmicos que possam abater a economia.
O blecaute causou problemas que se espalharam desde a interrupção do sistema de transporte público a emergências de hospitais, revelando desafios que acometem a nação cujas indústrias em expansão e a rápida recuperação da crise global a colocam em destaque em Wall Street.
Mas especialistas descrevem as cinco horas de apagão na terça-feira como um incidente isolado, similar aos que ocorreram em países como Estados Unidos, e não como uma repetição dos problemas que obrigaram o Brasil a racionar energia oito anos atrás.
"O Brasil não tem problemas com fornecimento de eletricidade. O sistema é confiável, mas ele é sujeito a esse tipo de problema", disse Cesar de Barros Pinto, da Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica (Abrate).
"É muito similar a quando cai um avião. Ninguém quer, ninguém deseja, todo mundo faz tudo para evitar, mas de vez em quando o avião cai", complementou.
O país, que sediará uma Copa do Mundo e uma Olimpíada nos próximos sete anos, tem feito avanços no setor elétrico desde a crise de 2001-2002, época do racionamento de energia elétrica provocado por anos sem investimento em geração.
O blecaute de terça-feira, diferentemente, foi provocado por falhas em linhas de transmissão que ligam o Brasil à usina de Itaipu, localizada na fronteira com o Paraguai e que fornece quase 20 por cento da energia brasileira.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta quarta-feira que o problema tenha sido causado por falta de investimento e pediu que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, explicasse a causa da pane, que, segundo autoridades do governo, parece ter sido provocada por condições severas de tempo.
CONTROLE PREJUDICADO
Analistas disseram que blecautes ocasionais são inevitáveis, mas ainda foi surpresa o fato de um problema de transmissão no Sudeste do Brasil ter afetado Estados a milhares de quilômetros ao norte e deixado quase metade do país às escuras.
"Tem que melhorar a gestão do setor elétrico, não se pode minimizar o problema", afirmou Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, gigante estatal do setor.
"Há problemas na gestão de acidentes. Temos que ter um sistema protetor."
O Brasil, maior país da América Latina e sua maior economia, sempre enfrentou enormes desafios no que se refere à distribuição de energia ao longo de seu vasto território, que exige uma extensa rede de linhas de transmissão localizadas em áreas frequentemente isoladas.
"Problemas vão ocorrer sempre, mas não devem ter reflexo em dez Estados", disse Otavio Santoro, diretor-executivo da empresa de consultoria Indeco Energia.
"O ministro de Energia precisa melhorar a coordenação para isolar esses problemas."
Ele afirmou que planos para um grande número de projetos de nova geração, entre eles a polêmica represa de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, provavelmente darão maior estabilidade ao sistema.
(Com reportagem adicional de Denise Luna, no Rio de Janeiro)