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Penido fala sobre disputa na Usiminas

  O engenheiro Paulo Penido é presidente do conselho de administração da Usiminas desde 2012. No fim de setembro, virou protagonista na queda do presidente e de dois vice–presidentes da empresa ao dar o voto de minerva a favor da demissão em uma reunião do conselho. O motivo: auditorias revelaram o recebimento de bônus irregulares. As demissões escancararam um racha entre os controladores — a Ternium e a Nippon Steel & […] Leia mais

PL

Primeiro Lugar

Publicado em 9 de outubro de 2014 às 18h45.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2017 às 08h17.

 

PAULO PENIDO: “Minha responsabilidade é seguir a lei”

O engenheiro Paulo Penido é presidente do conselho de administração da Usiminas desde 2012. No fim de setembro, virou protagonista na queda do presidente e de dois vice–presidentes da empresa ao dar o voto de minerva a favor da demissão em uma reunião do conselho. O motivo: auditorias revelaram o recebimento de bônus irregulares. As demissões escancararam um racha entre os controladores — a Ternium e a Nippon Steel & Sumitomo. Penido recebeu EXAME na sede da Usiminas, em Belo Horizonte, Minas Gerais, para a seguinte entrevista exclusiva.

Seu voto determinou a demissão de três altos executivos. O que motivou a decisão?
Os executivos receberam dinheiro de forma irregular, sem aprovação. Se você é expatriado, cruzeirense, atleticano, corintiano, palmeirense, são-paulino, pagamento não autorizado é pagamento não autorizado. O valor total é por volta de 1 milhão de reais. Ainda que fosse 1 000 reais. Não estou lidando com a materialidade do valor. Estou lidando com uma coisa que se chama ética. A lei diz que é vedado tomar empréstimos ou recursos da empresa. ‘Peguei só um pouquinho, depois devolvo.’ Não tem essa. É um assunto que impacta a relação de confiança.

Os executivos alegam que devolveram o dinheiro recebido.
Se fosse correto, teriam devolvido? Eles devolveram uma parte (496 465 de 925 114 reais, segundo auditoria da E&Y) porque estavam errados. Mas eu me pergunto: por que não devolveram tudo?

A Ternium afirma que o caso teria sido resolvido de outra forma se, meses antes, tivesse sido aceita uma proposta da Nippon de alternância na presidência…
A alternância na empresa não tem nada a ver com esse caso. Essa discussão vem acontecendo há muito tempo. Com ou sem negociação, a destituição teria acontecido.

A Ternium também diz que o conselho deu um “golpe” e infringiu o acordo de acionistas.
O acordo é regido pela lei brasileira. Eles falam que temos de seguir o acordo, e não a lei. Minha responsabilidade, como conselheiro, é seguir a lei. Já pensou se o presidente da Usiminas não segue a lei?

O senhor presta consultorias para a Nippon na América Latina. Houve influência dos japoneses em seu voto de minerva?
Eu voto de acordo com meus princípios. Minhas consultorias para a Nippon sobre outros assuntos não influenciam meu voto. Os caras da Tenium também seriam votos comprados? Não. Cada um tem sua responsabilidade no conselho.

Como solucionar esse conflito?
Existem diversas alternativas — desde “desculpa, desculpa, beijinho, beijinho” até sair para o pau. Não é meu papel especular. Tudo é possível se você sentar à mesa.

E como fica a empresa com dois sócios com interesses distintos?
Ninguém tem dúvida de que a Usiminas é uma empresa forte, com 50 anos de história. Estamos passando por uma turbulência, mas não vamos mudar de curso. Vamos seguir nosso caminho.

(Entrevista publicada na edição 1075 de EXAME, que chegou às bancas na manhã desta quinta-feira)