Desconto hiperbólico: entenda esse viés cognitivo
"Quem não prefere um prêmio hoje em vez de um prêmio, mesmo que um pouco maior, semana que vem?"
Publicado em 24 de agosto de 2022 às, 13h55.
Por Guilherme Pini, do BTG Pactual Advisors
Este nome estranho, na verdade, é simples de entender: temos o viés cognitivo de preferir benefícios imediatos a ganhos no futuro. Seres humanos têm dificuldade em projetar esse bem-estar mais adiante em detrimento de um comportamento mais austero hoje. Quem não prefere um prêmio hoje em vez de um prêmio, mesmo que um pouco maior, semana que vem?
O que é o desconto hiperbólico?
A tendência é a pessoa preferir a gratificação imediata a esperar pelo ganho futuro – ainda que o resultado deste seja maior que aquele que pode ser obtido no momento presente.
Um experimento clássico que demonstra esse comportamento é o Teste do Marshmallow. Esse experimento consiste em deixar um marshmallow ao alcance de uma criança, junto a uma promessa.
Se, durante determinado período, a criança conseguir se controlar e não comer o marshmallow, ela ganhará um segundo doce. Nesse caso, é possível notar que, mesmo sabendo que há a chance de ter o dobro de marshmallow, muitas crianças optam por comê-lo imediatamente.
O nome do fenômeno está relacionado à taxa de desconto das recompensas futuras que as pessoas aplicam. Essa taxa tende a diminuir conforme o tempo aumenta, criando uma função exponencial ou hiperbólica. Esse comportamento foi nomeado pelo psicólogo Richard Herrnstein.
Como ele se apresenta nos investimentos?
Primeiramente, a capacidade de investir pode se tornar menor por causa da priorização das recompensas imediatas.
Nesse caso, em vez de economizar, o investidor pode fazer compras por impulso, por exemplo. Como consequência, há menos recursos disponíveis para investir nas alternativas do mercado financeiro.
Além disso, o investidor pode ter mais dificuldade para construir e adotar uma estratégia de longo prazo. Logo, a incidência desse comportamento tende a diminuir o potencial de resultado dos investimentos, já que eles podem ficar mais limitados ao curto e médio prazo.
Uma forma de compreender melhor esse tipo de viés comportamental é usar uma situação hipotética. Pense que um determinado investimento de renda fixa oferece 10% de retorno em um ano. Então, se o investidor aplicar R$ 10 mil, poderá receber R$ 11 mil após 12 meses.
Porém, por causa dos juros compostos, o retorno se torna ainda maior nos anos seguintes. Em 2 anos, o valor recebido seria de R$ 12,1 mil.
Desconsiderando outros elementos para tomar essa decisão – como os impostos ou taxas operacionais –, seria mais interessante esperar 2 anos, já que o retorno seria maior do que no investimento por apenas 1 ano.
Porém, os investidores que são orientados pelo desconto hiperbólico provavelmente escolherão resgatar o investimento após o primeiro ano.
Quais são os riscos desse viés para o investidor?
Foco excessivo no curto e no médio prazo
Como você viu, sob o efeito desse viés, o investidor pode se mostrar mais disposto a investir com foco no curto e no médio prazo. Afinal, a expectativa é receber o retorno visando a gratificação imediata ou mais rápida.
Não realização de aportes frequentes
Como a intenção do investidor que se baseia no desconto hiperbólico é obter recompensas imediatas, a estratégia de aportes recorrentes fica em risco. Com isso, a composição e diversificação da carteira é prejudicada. É o que acontece com quem não investe para a aposentadoria e, com o passar dos anos, não alcança o patrimônio necessário para manter o padrão de vida, por exemplo.
Maior exposição à volatilidade
Como o investidor que sofre os impactos desse viés cognitivo tende a focar no curto e médio prazo, a carteira dele apresenta exposição maior à volatilidade. Assim, o portfólio pode se tornar mais arriscado e até desalinhado com o nível de tolerância ao risco do investidor.
Como ajudar seu cliente a identificar e evitar esse viés?
É importante ajudá-lo a enxergar o poder do tempo no planejamento financeiro e nos investimentos. Nesse sentido, pode ser útil fazer simulações para mostrar como os juros compostos podem gerar retornos maiores em períodos estendidos.
Também é possível auxiliá-lo a identificar a importância de analisar os desempenhos imediatos de maneira realista, e não apenas focando na gratificação imediata. Assim, o investidor poderá entender a necessidade de focar em prazos maiores e investimentos de longo prazo.
Quer continuar aprendendo e aplicando os conhecimentos em seu cotidiano? Acompanhe minha coluna exclusiva, Palavra do Advisor.