O que o Brasil pode aprender com as Coreias?
Diferenças econômicas entre os dois países reforçam: abertura comercial é essencial para o desenvolvimento!
Publicado em 12 de setembro de 2019 às, 13h31.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Coreia foi dividida em dois países. Em pouco tempo, ficou claro que, mais do que a cisão territorial, havia visões completamente antagônicas de democracia e de liberdades econômicas individuais. Em entrevista ao Instituto Millenium, o cientista de dados Vítor Wilher, que realizou um estudo sobre o assunto, falou sobre como as escolhas adotadas levaram as nações a resultados tão diferentes e o que o Brasil pode aprender com esta realidade. O alerta é claro: é preciso buscar a abertura econômica!
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“Após a divisão, quando se compara o gráfico do PIB per capita dos dois, a diferença é gritante: enquanto a Coreia do Sul tem uma tendência de alta ao longo do tempo, particularmente a partir da década de 1970, na Coreia do Norte, ou a renda se manteve estável ou caiu”, disse, citando que houve um descolamento visível entre as nações.
Wilher ressaltou que essa distinção entre o desenvolvimento se deu por conta dos modelos escolhidos pelas duas Coreias. “A Coreia do Sul teve um investimento maciço em educação, inovação, em abertura para o mundo. Enquanto isso, a Coreia do Norte foi para outro caminho: se fechou, adotou uma economia planificada, aos moldes do que a gente viu na União Soviética. A consequência foi o não crescimento, o não desenvolvimento”, afirmou.
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No modelo da Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, o Estado tem o controle sobre todas as atividades econômicas. “Para ficar um pouco mais nítido, a gente vê no nosso continente o que aconteceu na Venezuela: o Estado detém o controle sobre tudo ou quer controlar tudo, gerando uma grande ineficiência, porque não há como ter aumento de produtividade, trocas voluntárias”, disse.
Ao Millenium, Vítor Wilher ressaltou que, apesar de haver medidas para segmentos específicos, como a indústria, a Coreia do Sul adotou estímulo horizontais, que beneficiaram todas as atividades econômicas. “Uma das ações foi o incentivo às exportações. Quando uma empresa tem contato com o exterior, sofre concorrência de outros países e é incentivada a inovar, isso é preponderante para definir se aquele país vai ter uma taxa de inovação maior ou menor, gerando progresso”, disse.
O caso brasileiro: economia ainda é fechada
Mas, olhando para os dois exemplos, o Brasil está mais perto de qual das Coreias? Wilher alerta: a economia do nosso país ainda precisa se abrir. “É óbvio que a Coreia do Norte é uma espécie de limite, talvez seja a economia mais fechada do mundo, e o índice de abertura (exportações e importações divididas pelo PIB) comprova isso. No entanto, o Brasil não está muito distante”, afirmou.
Na visão de Wilher, isso se deu por conta de uma herança do modelo de substituição de importação, que vigorou entre 1930 e o início de 1980. Mesmo após encerrar esse ciclo, o país não conseguiu promover a abertura com a velocidade desejada. “Houve diversas tentativas, com redução de tarifas de importação, mas isso ainda não foi suficiente para melhorar a abertura econômica do Brasil. É basicamente por isso que há muito poucas empresas em diversos setores da economia. Em todos as áreas, há uma situação oligopolizada, com quatro ou cinco empresas detendo praticamente todo o share do mercado”.