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Incentivos fiscais pesam no bolso das famílias brasileiras

População arca com incentivos que geram desequilíbrios na economia

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Instituto Millenium

Publicado em 23 de julho de 2019 às, 10h13.

Quanto custam os incentivos fiscais no Brasil? Esta pergunta, caro leitor, poderia ser respondida de diversas formas, de acordo com o ângulo através do qual se observa essa prática já tão entranhada na cultura e no Estado brasileiros. Segundo dados do próprio Ministério da Fazenda, os governos Lula e Dilma gastaram R$ 3,5 trilhões em subsídios entre 2003 e 2016, montante que incluía uma série de empréstimos bilionários do Tesouro ao BNDES, a desoneração da folha de pagamentos de empresas e os programas Minha Casa Minha Vida, Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e de Sustentação do Investimento (PSI). Para se ter uma ideia, apenas o governo de Dilma Rousseff, de 2011 a 2015, gastou R$ 458 bilhões em desonerações, uma das políticas responsáveis pelo desequilíbrio fiscal das contas públicas. Para 2019, a previsão de gastos com incentivos fiscais é de R$ 376 bilhões, o que fatalmente tem um custo que, uma vez revisto, poderia ser uma vasta fonte de investimento público em saúde, educação e segurança.

Para entender como as desonerações fiscais nos afetam diretamente, é preciso fazer uma matemática simples: o mercado funciona a partir de trocas voluntárias, ou seja, uma pessoa opta por trocar seu capital por um produto de que outra pessoa dispõe. Acontece que, quando o Estado interfere oferecendo incentivos seletivamente a certa empresa, como acontece no Brasil nos setores automobilístico e de agricultura e agroindústria, o que ele faz, na prática, é criar uma imperfeição por dentro deste circuito de trocas voluntárias, tornando algumas empresas mais competitivas em relação a outras. Isto impede que haja competitividade real, criando um ambiente artificial de mercado que, via de regra, impede uma das premissas básicas do pensamento liberal - afinal, como o incentivo beneficia um setor em detrimento de outro, além de criar este desarranjo pontual, a longo prazo isso interfere também na inovação e na capacidade de investimentos no interior da própria cadeia produtiva.

Quando o estado passa a ser o motor de movimento do mercado, cria-se uma relação de dependência com importantes consequências. É este ponto, por exemplo, que nos coloca em uma posição baixíssima nos Rankings de Liberdade Econômica e faz com que a OCDE, em relatório emitido sobre a economia brasileira, alerte que não vê nenhuma evidência que possa comprovar a relação entre incentivos fiscais e produtividade ou investimentos em nosso país. A organização recomenda, inclusive, que alguns desses benefícios sejam reduzidos como alternativa para um reaquecimento econômico. Diante deste cenário, o que fazer? Basta nos colocarmos diante de alguns números para que se evidencie como uma política massiva de desonerações serve de obstáculo para as contas e investimentos públicos.

O BNDES, por exemplo, é um dos principais responsáveis pelos incentivos fiscais e desonerações de impostos no Brasil. Estudo do professor Marcos Bonomo, do Insper, estima que, em 2017, subsídios implícitos do BNDES passaram de R$ 222 milhões, a maioria deles através de crédito por uma taxa muito abaixo do mercado (TJLP), as vezes até abaixo da inflação, caracterizando-se como uma espécie de transferência de dinheiro dos impostos das pessoas pobres para empresas multimilionárias. O resultado desses empréstimos foram um rombo de R$ 279 milhões nos cofres públicos. Para o ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, estas distorções com subsídios, aliadas também às pedaladas fiscais, acabaram por produzir um passivo de pelo menos R$ 20 bilhões que precisaram ser devolvidos ao Tesouro Nacional. De lá pra cá, ou seja, desde 2017, houve uma queda de pelo menos R$ 10 bilhões deste déficit - o que, embora não seja ainda uma solução, demonstra que não há uma relação entre corte de subsídios e desaquecimento econômico.

Outro exemplo é o caso do Simples Nacional. Este sistema compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, criado em 2006 visando “simplificar" e reduzir as formas de pagamento das pequenas empresas, acaba por produzir também uma série de distorções, principalmente porque inclui benefícios para empresários que lucram até R$ 4,8 milhões por ano. Segundo Melina Rocha Lukic, uma das autoras de um estudo feito pela IPEA, em entrevista à Folha de São Paulo, caso esses incentivos sejam reduzidos, ou até eliminados, seria possível uma redução no Imposto de Renda para pessoas jurídicas. No total, seria possível economizar até R$ 74,8 bilhões.

Ainda, a Zona Franca de Manaus concentra, apenas nela, 10% das desonerações dadas a empresas, totalizando em torno de R$ 26 bilhões ao ano. Apesar de funcionar como um incentivo para uma área de isolamento geográfico, auditorias mostram que a política não é eficiente e as falhas na fiscalização permitem que até beneficiários do Bolsa Família estejam incluídos entre os contemplados. Estima-se que, no total, o governo deixe de arrecadar em torno de R$ 26 bilhões entre impostos - IPI, PIS e Cofins e Imposto de Importação. Embora o governo estude formas de reduzir os incentivos da Zona Franca de Manaus, há um grande empecilho em seu caminho: a decisão de 2018 do STF que incide sobre empresas fora da Zona aumenta em R$ 16 bilhões os incentivos para a Zona Franca. Trata-se de uma equação que precisa ser invertida.

Ao pensar sobre desonerações fiscais, antes de tudo é preciso ter em mente que grande parte da população não tem qualquer tipo de redução em seus impostos. É a população como um todo que arca com estes incentivos que geram desequilíbrios em nossa economia, gerando concentração de renda e monopólios que obstruem a nossa capacidade de crescimento. Uma política responsável no que diz respeito a incentivos fiscais, tanto no que se refere a uma gradual redução destas desonerações quanto a extinção de muitos desses privilégios, poderiam, a longo prazo, permitir uma redução geral de impostos para toda a população, possibilitando uma política de investimentos coerente com a função do Estado: prover saúde, educação e segurança, além de permitir e manter um mercado aquecido.

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