Precisamos da criatividade dos designers para uma economia 100% reciclável
A edição deste ano do desafio global What Design Can Do vai premiar talentos brasileiros com as melhores iniciativas para redução do lixo e do desperdício
Maria Clara Dias
Publicado em 13 de abril de 2021 às 18h03.
Última atualização em 13 de abril de 2021 às 18h44.
Há alguns anos, tive a oportunidade de entrevistar Ailton Krenak, pensador indígena brilhante. Perguntei para ele por que não vemos no Brasil vestígios das grandes civilizações indígenas como existem as pirâmides incas, os templos astecas ou monumentos egípcios.. Por que não vemos os vestígios das cidades e lugares sagrados dos indígenas brasileiros, que estão aqui há pelo menos 15 mil anos?
A resposta de Krenak foi que os indígenas brasileiros têm outra forma de lidar com seu impacto no planeta. “Nós andamos com passos suaves sobre a Terra”, ele disse. Explicou que os índios têm uma relação respeitosa com o lugar onde vivem. Nascem, vivem e morrem sem deixar para trás nada que não possa ser decomposto naturalmente. Esse é um dos grandes aprendizados que precisamos adquirir, a partir da inspiração dos povos indígenas.
Precisamos da sabedoria dessas sociedades que, por arrogância, chamamos de “arcaicas”. Temos que aprender essa filosofia de andar suavemente sobre a terra e não deixar vestígios, deixar apenas o que pode ser absorvido e reciclado pela própria natureza. Isso representa um dos grandes desafios para a nossa sociedade industrial e sofisticada, considerada o suprassumo do conhecimento técnico. E atolada até o pescoço nos próprios dejetos.
Vivemos produzindo montanhas de lixo, entupindo os mares e terras. Além disso, também ocupamos áreas não mais disponíveis, pois há municípios que não mais suportam depósitos de lixo. Gastamos energia para produzir bens e produtos, metais, materiais que são descartados. Minerais e matéria orgânica extraídos: tudo vira lixo. Não podemos seguir nesse ritmo, ele é insustentável. Mas como sair disso? Migrar para uma sociedade lixo zero é para onde devemos caminhar. Isso, no entanto, exige uma inventividade muito grande dos nossos criativos, uma capacidade de inovação que já temos, mas que precisa ser estimulada, para pensar novas e revolucionárias formas de organizar nosso mundo físico. Um grande desafio para os designers.
É por isso que o What Design Can Do dedica a sua próxima edição a provocar os gênios criativos do mundo a inventar formas inovadoras que transformem nossa maneira de viver e reduzir o nosso desperdício. O What Design Can Do é uma plataforma internacional que estimula o uso do design como instrumento de mudança social e, para engajar a comunidade criativa a pensar em soluções para questões urgentes, lança desafios.
O No Waste Challenge é a edição atual do Desafio Para Ação Climática da plataforma, em parceria com a Fundação IKEA, e está com inscrições gratuitas abertas até o dia 20 de abril. A competição deste ano vai premiar, no Brasil, com 10 mil euros eaceleração com o Impact Hub,as melhores iniciativas para redução do lixo e do desperdício que possam ser aplicadas nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro.
O enfoque do desafio é de soluções que sejam estimulantes, viáveis e potencialmente escalonáveis. No Brasil, a busca é por projetos que atacamprincipalmentea desigualdade social e a poluição dos oceanos das duas maiores cidades do país. Para trabalhar o problema do lixo, vale apostar em soluções para qualquer ponto da cadeia produtiva. Desde a extração de recursos naturais até o consumo exagerado da sociedade. São ideias como os materiais de embalagem feitos a partir de mandioca, biodegradáveis e compostáveis, desenvolvidos pelo Já Fui Mandioca.
Esses designers, arquitetos, empreendedores e demais criativos, além de inventar soluções para a destinação do lixo, também vão dar como presente para a humanidade uma maneira diferente de olhar a terra. Para mudar um serviço, um produto, precisa alterar a forma como ele é utilizado, o que aumenta a nossa inteligência e nos desafia a pensar. O resultado são mudanças na forma como nos organizamos, geralmente para melhor. O presente colateral que a gente vai ganhar com esse esforço de criatividade é o aumento da inteligência coletiva.. Quem sabe a gente pode chegar um pouco mais perto da sabedoria de pensadores indígenas como Ailton Krenak.
*Com Larissa Magalhães
Há alguns anos, tive a oportunidade de entrevistar Ailton Krenak, pensador indígena brilhante. Perguntei para ele por que não vemos no Brasil vestígios das grandes civilizações indígenas como existem as pirâmides incas, os templos astecas ou monumentos egípcios.. Por que não vemos os vestígios das cidades e lugares sagrados dos indígenas brasileiros, que estão aqui há pelo menos 15 mil anos?
A resposta de Krenak foi que os indígenas brasileiros têm outra forma de lidar com seu impacto no planeta. “Nós andamos com passos suaves sobre a Terra”, ele disse. Explicou que os índios têm uma relação respeitosa com o lugar onde vivem. Nascem, vivem e morrem sem deixar para trás nada que não possa ser decomposto naturalmente. Esse é um dos grandes aprendizados que precisamos adquirir, a partir da inspiração dos povos indígenas.
Precisamos da sabedoria dessas sociedades que, por arrogância, chamamos de “arcaicas”. Temos que aprender essa filosofia de andar suavemente sobre a terra e não deixar vestígios, deixar apenas o que pode ser absorvido e reciclado pela própria natureza. Isso representa um dos grandes desafios para a nossa sociedade industrial e sofisticada, considerada o suprassumo do conhecimento técnico. E atolada até o pescoço nos próprios dejetos.
Vivemos produzindo montanhas de lixo, entupindo os mares e terras. Além disso, também ocupamos áreas não mais disponíveis, pois há municípios que não mais suportam depósitos de lixo. Gastamos energia para produzir bens e produtos, metais, materiais que são descartados. Minerais e matéria orgânica extraídos: tudo vira lixo. Não podemos seguir nesse ritmo, ele é insustentável. Mas como sair disso? Migrar para uma sociedade lixo zero é para onde devemos caminhar. Isso, no entanto, exige uma inventividade muito grande dos nossos criativos, uma capacidade de inovação que já temos, mas que precisa ser estimulada, para pensar novas e revolucionárias formas de organizar nosso mundo físico. Um grande desafio para os designers.
É por isso que o What Design Can Do dedica a sua próxima edição a provocar os gênios criativos do mundo a inventar formas inovadoras que transformem nossa maneira de viver e reduzir o nosso desperdício. O What Design Can Do é uma plataforma internacional que estimula o uso do design como instrumento de mudança social e, para engajar a comunidade criativa a pensar em soluções para questões urgentes, lança desafios.
O No Waste Challenge é a edição atual do Desafio Para Ação Climática da plataforma, em parceria com a Fundação IKEA, e está com inscrições gratuitas abertas até o dia 20 de abril. A competição deste ano vai premiar, no Brasil, com 10 mil euros eaceleração com o Impact Hub,as melhores iniciativas para redução do lixo e do desperdício que possam ser aplicadas nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro.
O enfoque do desafio é de soluções que sejam estimulantes, viáveis e potencialmente escalonáveis. No Brasil, a busca é por projetos que atacamprincipalmentea desigualdade social e a poluição dos oceanos das duas maiores cidades do país. Para trabalhar o problema do lixo, vale apostar em soluções para qualquer ponto da cadeia produtiva. Desde a extração de recursos naturais até o consumo exagerado da sociedade. São ideias como os materiais de embalagem feitos a partir de mandioca, biodegradáveis e compostáveis, desenvolvidos pelo Já Fui Mandioca.
Esses designers, arquitetos, empreendedores e demais criativos, além de inventar soluções para a destinação do lixo, também vão dar como presente para a humanidade uma maneira diferente de olhar a terra. Para mudar um serviço, um produto, precisa alterar a forma como ele é utilizado, o que aumenta a nossa inteligência e nos desafia a pensar. O resultado são mudanças na forma como nos organizamos, geralmente para melhor. O presente colateral que a gente vai ganhar com esse esforço de criatividade é o aumento da inteligência coletiva.. Quem sabe a gente pode chegar um pouco mais perto da sabedoria de pensadores indígenas como Ailton Krenak.
*Com Larissa Magalhães