Exame Logo

A diversidade de produtos é a verdadeira marca da sociobioeconomia da Amazônia

Nova linha de pimentas da JBS é um exemplo de como aproveitar ingredientes desconhecidos e gerar renda para quem mantém a floresta em pé

Swift acaba de lançar, em parceria com a SoulBrasil Cuisine, uma linha de molhos de pimenta preparados com ingredientes naturais da biodiversidade brasileira

Publicado em 14 de agosto de 2024 às 17h45.

Última atualização em 14 de agosto de 2024 às 18h11.

A marca de alimentos multinacional Swift acaba de lançar, em parceria com a SoulBrasil Cuisine, uma linha de molhos de pimenta preparados com ingredientes naturais da biodiversidade da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia. A Swift é uma marca da gigante de alimentos JBS. O arranjo foi articulado pelo Fundo JBS pela Amazônia a partir do projeto AMAZ Aceleradora de Impacto. A nova linha de produtos vai possibilitar que consumidores de todo o país conheçam combinações de pimenta fidalga com manga ubá, bode com goiaba e jiquitaia baniwa com açaí. Esses sabores únicos estão sendo popularizados por meio da união entre comunidades, um negócio de impacto e uma indústria de grande porte. O lançamento é um sinal de um movimento geral importante para a bioeconomia brasileira. É um momento de popularização de produtos.

O movimento é interessante por vários motivos. O primeiro é que cada vez mais produtos da biodiversidade — especialmente da Amazônia, que tem mais de 40 mil espécies vegetais só entre as já catalogadas — estão se tornando conhecidos. A mistura da pimenta da comunidade Baniwa com o açaí, fruto típico do Pará, é apenas uma entre as muitas possibilidades de combinações possíveis, que resultam em sabores diversos, cheios de personalidade e que agradam até aos paladares mais exigentes.

A gastronomia da Amazônia pode ajudar a preservar e a desenvolver a região, mas ainda é desconhecida na maior parte do país e do mundo. Por isso, a utilização desses ingredientes por marcas que vendem para todo o Brasil é positiva, porque é uma forma de popularizá-los. As pimentas da Swift, por exemplo, serão vendidas em lojas físicas em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, onde muitos consumidores ainda não conhecem esses sabores. E ainda tem as vendas online, que atenderão a outras regiões e até a outros países.

Além de comprar as matérias-primas das comunidades locais que as produzem, a SoulBrasil diz que vai destinar 10% do lucro obtido com os molhos de pimenta jiquitaia para o povo Baniwa, na Terra Indígena Alto Rio Negro, na fronteira da Colômbia com Venezuela. Ou seja, os novos produtos vão dar lucro a uma grande marca, mas também gerar renda para as mulheres de uma comunidade indígena.

Além de empoderá-las financeiramente, essa é uma forma de valorizar o conhecimento ancestral dessas comunidades que, com certeza, tem muitos outros produtos que nem imaginamos para nos apresentar. Nada mais justo que ganhem dinheiro com isso, o que também dá a essas pessoas mais poder para valorizar e preservar seus territórios, estilo de vida e cultura. É o verdadeiro conceito de sociobiodiversidade na prática.

Movimentos como esse abrem caminhos porque lembram aos consumidores e ao mercado que os biomas brasileiros ainda escondem muitos sabores e possibilidades. Além da demanda da Swift e da SoulBrasil, que projeta um incremento de cerca de 27% no seu faturamento, a concorrência também vai ficar de olho. Se os molhos feitos com esses ingredientes realmente caírem no gosto dos consumidores, outras marcas da indústria alimentícia vão passar também a busca por eles. E procurarão as comunidades que as produzem, pois também querem agregar esse valor social.

Temos muito ainda para explorar na maior floresta tropical do planeta. Isso é incrível porque a nova economia que queremos para a floresta, aquela que gera renda e lucro, mas com a floresta em pé e também para quem preserva e vive na região, é diversa. Não existe um só produto salvador. Não é o açaí, nem a castanha, nem o cacau, tampouco a pimenta da comunidade Baniwa. A cesta de produtos da floresta é cheia de sabores e cores  —  e a marca Amazônia, global e cada vez mais valorizada em todo o mundo, deve investir em todos eles. Quanto mais diversa for essa economia, mais resiliente ela será às mudanças do clima. Isso sem falar que é um movimento coerente com o tamanho da floresta, de seu potencial e com os povos que lá vivem. Nada de monocultura, a sociobioeconomia da floresta é cheia de possibilidades.

Veja também

A marca de alimentos multinacional Swift acaba de lançar, em parceria com a SoulBrasil Cuisine, uma linha de molhos de pimenta preparados com ingredientes naturais da biodiversidade da Mata Atlântica, do Cerrado e da Amazônia. A Swift é uma marca da gigante de alimentos JBS. O arranjo foi articulado pelo Fundo JBS pela Amazônia a partir do projeto AMAZ Aceleradora de Impacto. A nova linha de produtos vai possibilitar que consumidores de todo o país conheçam combinações de pimenta fidalga com manga ubá, bode com goiaba e jiquitaia baniwa com açaí. Esses sabores únicos estão sendo popularizados por meio da união entre comunidades, um negócio de impacto e uma indústria de grande porte. O lançamento é um sinal de um movimento geral importante para a bioeconomia brasileira. É um momento de popularização de produtos.

O movimento é interessante por vários motivos. O primeiro é que cada vez mais produtos da biodiversidade — especialmente da Amazônia, que tem mais de 40 mil espécies vegetais só entre as já catalogadas — estão se tornando conhecidos. A mistura da pimenta da comunidade Baniwa com o açaí, fruto típico do Pará, é apenas uma entre as muitas possibilidades de combinações possíveis, que resultam em sabores diversos, cheios de personalidade e que agradam até aos paladares mais exigentes.

A gastronomia da Amazônia pode ajudar a preservar e a desenvolver a região, mas ainda é desconhecida na maior parte do país e do mundo. Por isso, a utilização desses ingredientes por marcas que vendem para todo o Brasil é positiva, porque é uma forma de popularizá-los. As pimentas da Swift, por exemplo, serão vendidas em lojas físicas em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, onde muitos consumidores ainda não conhecem esses sabores. E ainda tem as vendas online, que atenderão a outras regiões e até a outros países.

Além de comprar as matérias-primas das comunidades locais que as produzem, a SoulBrasil diz que vai destinar 10% do lucro obtido com os molhos de pimenta jiquitaia para o povo Baniwa, na Terra Indígena Alto Rio Negro, na fronteira da Colômbia com Venezuela. Ou seja, os novos produtos vão dar lucro a uma grande marca, mas também gerar renda para as mulheres de uma comunidade indígena.

Além de empoderá-las financeiramente, essa é uma forma de valorizar o conhecimento ancestral dessas comunidades que, com certeza, tem muitos outros produtos que nem imaginamos para nos apresentar. Nada mais justo que ganhem dinheiro com isso, o que também dá a essas pessoas mais poder para valorizar e preservar seus territórios, estilo de vida e cultura. É o verdadeiro conceito de sociobiodiversidade na prática.

Movimentos como esse abrem caminhos porque lembram aos consumidores e ao mercado que os biomas brasileiros ainda escondem muitos sabores e possibilidades. Além da demanda da Swift e da SoulBrasil, que projeta um incremento de cerca de 27% no seu faturamento, a concorrência também vai ficar de olho. Se os molhos feitos com esses ingredientes realmente caírem no gosto dos consumidores, outras marcas da indústria alimentícia vão passar também a busca por eles. E procurarão as comunidades que as produzem, pois também querem agregar esse valor social.

Temos muito ainda para explorar na maior floresta tropical do planeta. Isso é incrível porque a nova economia que queremos para a floresta, aquela que gera renda e lucro, mas com a floresta em pé e também para quem preserva e vive na região, é diversa. Não existe um só produto salvador. Não é o açaí, nem a castanha, nem o cacau, tampouco a pimenta da comunidade Baniwa. A cesta de produtos da floresta é cheia de sabores e cores  —  e a marca Amazônia, global e cada vez mais valorizada em todo o mundo, deve investir em todos eles. Quanto mais diversa for essa economia, mais resiliente ela será às mudanças do clima. Isso sem falar que é um movimento coerente com o tamanho da floresta, de seu potencial e com os povos que lá vivem. Nada de monocultura, a sociobioeconomia da floresta é cheia de possibilidades.

Acompanhe tudo sobre:JBSAmazôniaMata AtlânticaIndígenasFlorestasEconomia verde

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se