Site da ESPN ganha protagonismo, bate recorde histórico e explica estratégia de exclusividade da Disney
O Esporte Executivo explica a estratégia por trás da saída de Mauro Cezar da emissora. Canais pessoais dos contratados nas diversas mídias passam a ser concorrentes da emissora, que busca força além da TV.
Publicado em 5 de janeiro de 2021 às, 07h51.
Pelo quarto mês consecutivo o site da ESPN no Brasil alcançou recordes de audiência. Em dezembro de 2020, a marca alcançou os maiores números de sua história no ambiente digital, onde iniciou no longínquo ano 2000. No comparativo entre os meses de dezembro de 2019 e dezembro de 2020, o portal ESPN.com.br apresentou crescimento de 31% no número de usuários únicos segundo dados do Adobe Analytics, expandindo cada vez mais a atuação da empresa no online.
Os dados são trazidos porque, para muitos, ficou o dilema se a Disney/ESPN tem acertado ou errado ao pedir exclusividade em diversos canais de mídia para seus talentos no processo de renovação de contratos da equipe de narradores, comentaristas, apresentadores e repórteres. O último a sair do grupo foi Mauro Cezar Pereira, também colunista em mídia impressa e online, além de titular em seu canal próprio no YouTube.
Se por um lado a empresa renovou os vínculos com nomes conhecidos como João Guilherme, Nivaldo Prieto, Marcela Rafael, Paulo Calçade (de quem este que vos escreve é fã declarado) e Mário Marra, por outro não manteve em sua equipe nomes como Benjamin Back (fechado com o SBT, na TV Aberta) o próprio Mauro Cezar Pereira e outros, que chegaram a receber proposta pela renovação, mas optaram por deixar a ESPN justamente por não aceitarem a exclusividade multiplataforma prevista no novo contrato.
O fato é que desde a fusão com Fox Sports, o grupo Disney passou a investir em conteúdo próprio, com foco na transmissão de campeonatos de futebol mundo afora, como a Premier League, LaLiga, Libertadores da América, além de ligas mundialmente consagradas como a NBA, NFL, MotoGP, US Open e Australian Open de tênis. Juntas, ESPN e Fox Sports criaram um grupo capaz de brigar pela liderança na TV paga esportiva na concorrência com o SporTV.
E é justamente neste cenário de concorrência que o holofote se volta para o necessário crescimento no ambiente digital. O portal ESPN.com.br já é o segundo mais consumido da ESPN em todo o mundo, com números inferiores apenas ao da matriz norte-americana. Na somatória dos perfis nas redes sociais e canais do Youtube, o grupo acumula mais de 25 milhões de seguidores, espaço que, o Esporte Executivo apurou com a diretoria do canal, será cada vez mais utilizado com conteúdo exclusivo, complementar ao produzido para a TV.
Recentemente a Disney passou a ampliar a atuação de seus profissionais além do ambiente televisivo. Conhecidos nomes da TV esportiva, Gian Oddi e Leonardo Bertozzi passaram a escrever em blogs próprios hospedados dentro do portal da ESPN e o tradicional programa SportsCenter ganhou uma versão ‘Express’ no Instagram da ESPN Brasil apresentado por Luciano Amaral. Também nos perfis sociais de ESPN e Fox Sports, conteúdos exclusivos do futebol internacional passaram a ser produzidos por nomes como a correspondente da emissora na Inglaterra, Natalie Gedra, e os comentaristas Rodrigo Bueno e Mariana Spinelli. O quadro “Além da Bola’, atração de entrevistas apresentada por Eduardo de Meneses, também passou a ser exibido no Youtube da Fox Sports Brasil, assim como o ‘Na Quadra”, conteúdo focado em basquete produzido por Gustavo Hofman e Guilherme Giovannoni. Nos próximos meses novos conteúdos no ambiente digital devem ser anunciados nas plataformas digitais do grupo.
Após o lançamento do Disney+ no último mês de novembro, a gigante do entretenimento deixa claro seu objetivo em se consolidar como uma empresa de conteúdo multiplataforma, muito além de sua atuação nos canais de TV por assinatura. Dessa forma, a empresa dona dos canais ESPN e Fox Sports no Brasil pretende aproveitar ao máximo sua equipe de profissionais para atrair o público nos mais diversos pontos de contatos possíveis, seja a TV, o digital e o streaming.
E aqui, compartilhar seus talentos com outras emissoras, mídias e plataformas não faz sentido algum. Não é uma questão de certo ou errado para emissora ou talentos. É uma decisão de construção de conteúdo. A ESPN Brasil deixou de ser “apenas” uma TV. E não quer ter em seus próprios talentos concorrência. Quem comenta ou analisa esporte na emissora não tem um canal sobre veterinária no YouTube. A ESPN tem o direito de não querer ser canibalizada. E os profissionais o direito de não quererem ser multiplataformas para uma única marca. É uma nova e importante dança na construção do conteúdo esportivo. Ou ninguém percebeu que, nos últimos meses, Paulo Vinicius Coelho, o PVC, ao assinar com o Grupo Globo, aos poucos vem deixando no passado seus vínculo com outros grupos de mídia? Não faz sentido para as marcas maiores que seus talentos pulverizem seus conteúdos. Neste caso, emissoras e profissionais cedem um ao outro, reciprocamente, o quem trazem consigo de reputação e credibilidade. Quem absorve mais de quem? E ao se desconectarem, quem perde mais o que absorvia do outro?
Além disso, mesmo ainda sem data definida, o Star+, nova plataforma de streaming de entretenimento da Disney, chegará ao Brasil. Previsto para meados de 2021, trará o extenso portfólio de conteúdo e transmissões esportivas sob a marca ESPN, além de todos os filmes e séries de destaque da FOX. O novo aplicativo de streaming utilizará a marca Star, proprietária da Disney, uma vez que a empresa do Mickey não possui a propriedade definitiva sob a marca FOX, que precisará ser devolvida à matriz norte-americana pertencente ao empresário Rupert Murdoch. Apenas como esclarecimento, a FOX e o Fox Sports seguirão existindo como concorrentes da Disney nos Estados Unidos, razão pela qual a marca não poderá ser incorporada. No Brasil, a marca Fox Sports seguirá existindo com este nome (ao menos até 1º de janeiro de 2022), seguindo determinação do CADE.
Mauro Cezar, Benjamin e tantos outros deixam de ser profissionais do conglomerado para serem, acreditem, concorrentes dele. Jorge Nicola, enorme no YouTube, já sabe que também deverá tomar a difícil decisão quando da renovação de seu contrato. Para sorte dos dois lados, não vigora para esse cenário a máxima "se não pode vencer seu inimigo junte-se a ele". Primeiro porque não são inimigos, mas concorrentes. Segundo porque canais de YouTube e Redes Sociais simplesmente não se juntam, mas sim seus conteúdos. É o que a ESPN quer. É o que Benjamin e Mauro Cezar não quiseram. Segue a dança.