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Em Diaoyutai, um fórum para debater a China (e o Brasil)

O Grupo Caixin organizou a sua décima conferência anual reunindo líderes políticos e empresariais da China e do resto do mundo

China: conferências anuais do grupo Caixin são espaços únicos para encontrar e debater com as lideranças políticas e privadas do país (Qilai Shen/In Pictures/Getty Images)
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felipegiacomelli

Publicado em 26 de novembro de 2019 às 08h47.

Uma das maneiras mais fascinantes de olhar a China é observar as suas contradições. Um país ascendendo ao status de grande potência global é a única nação que construiu uma muralha para o mundo não chegar a ela. Bastião do comunismo que tem talvez o capitalismo mais feroz do planeta. Fascinada por planejamento, mas cujas suas empresas têm como mantra a improvisação e a vertigem da opcionalidade.

Diaoyutai representa mais uma destas contradições. De condomínio do Estado que hoje hospeda muitos Chefes de Estado que visitam Pequim, já foi residência de Mao Zedong e sede do Gabinete responsável pela Revolução Cultural. E foi neste refúgio de calma no meio da agitada capital, onde Kissinger e o Premiê Zhou Enlai negociaram o começo da abertura da China ao mundo nos anos 70, que o Grupo Caixin organizou a sua décima conferência anual reunindo líderes políticos e empresariais da China e do resto do mundo.

O Caixin é o mais importante grupo de mídia privado da China, um misto de Bloomberg e Financial Times do país, liderado por Hu Shuli, a jornalista mais conhecida da China e detentora de inúmeros prêmios internacionais. As suas conferências anuais na China são espaços únicos para encontrar e debater com as lideranças políticas e privadas do país. Este ano o grande tema foi a globalização da China tendo como pano de fundo, obviamente, as tensões na sua relação com os EUA.

A grande conclusão aqui é que o quadro presente é o novo “normal”. A reeleição ou não de Trump não irá alterar a mudança que ocorreu no establishment norte-americano na sua relação com a China, numa inversão do que foram 40 anos de política de acomodação face ao desenvolvimento do país. De parceiro a rival -- parece uma mutação rápida, mas os sinais já estavam amarelos faz um tempo. Lawrence Summers e Robert Hormats, braço direito de Kissinger, trouxeram ao encontro do Caixin essa mensagem muito clara sobre o futuro das relações dos dois países.

Cenas dos próximos capítulos são esperadas nesta rivalidade complexa e obviamente isso cria oportunidades e desafios para outras regiões, nomeadamente para o nosso país. O Secretário do Governo Marcos Troyjo trouxe uma mensagem muito impactante de como o fechamento do Brasil ao mundo cobrou um preço muito elevado no dinamismo econômico do país nas últimas décadas (e de como isso acaba por ser uma lição para a atualidade do mundo).

Disse que hoje existe um empenho muito sério em tornar o Brasil um espaço de investimento único e atrativo na cena internacional. Neste ponto, apesar do enorme progresso das relações comerciais entre China e Brasil da última década, existe ainda um grande desafio de colocar o nosso país com destaque nos planos de investimento do setor privado chinês, nomeadamente no setor de tecnologia.

A globalização de muitas empresas chinesas deste setor ainda vive dominada pelo mercado doméstico e pelo quintal vizinho do Sudoeste asiático onde uma grande diáspora chinesa também favorece a contratação de quadros e uma compreensão mais imediata do contexto de investimento.

Mesmo no mundo globalizado de hoje, a distância geográfica ainda conta e por isso existe ainda um importante trabalho de “educar” os líderes empresariais chineses sobre o potencial do Brasil, fora da temática das commodities, e qual a forma adequada de abordar o nosso país.

Durante a conferência houve um debate muito franco sobre as lições da experiência das empresas no exterior, com foco nas dificuldades da cultura empresarial chinesa se adaptar fora do país. Em parte, isso advém de percorrer uma curva de aprendizado. Japoneses e Sul Coreanos tiveram exatamente as mesmas dificuldades com a diferença de que ambos estão no jogo global há 40 anos e a China há pouco mais de dez.

Por outro lado, os desafios de uma economia emergente como o Brasil são familiares para as empresas chinesas. Como na China, a tecnologia não está no Brasil apenas para melhorar uma solução off-line que funciona.

Ela está resolvendo problemas fundamentais do país que, em muitos casos, funcionavam de forma deficiente há décadas. Infraestrutura inteligente, acessibilidade financeira, saúde e educação são alguns dos setores onde a tecnologia acima de tudo procura reduzir custo e aumentar o acesso. E o sucesso de muitas empresas emergentes na China tem exatamente esse binômio como prioridade. E isso também é reduzir o custo Brasil.

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Uma das maneiras mais fascinantes de olhar a China é observar as suas contradições. Um país ascendendo ao status de grande potência global é a única nação que construiu uma muralha para o mundo não chegar a ela. Bastião do comunismo que tem talvez o capitalismo mais feroz do planeta. Fascinada por planejamento, mas cujas suas empresas têm como mantra a improvisação e a vertigem da opcionalidade.

Diaoyutai representa mais uma destas contradições. De condomínio do Estado que hoje hospeda muitos Chefes de Estado que visitam Pequim, já foi residência de Mao Zedong e sede do Gabinete responsável pela Revolução Cultural. E foi neste refúgio de calma no meio da agitada capital, onde Kissinger e o Premiê Zhou Enlai negociaram o começo da abertura da China ao mundo nos anos 70, que o Grupo Caixin organizou a sua décima conferência anual reunindo líderes políticos e empresariais da China e do resto do mundo.

O Caixin é o mais importante grupo de mídia privado da China, um misto de Bloomberg e Financial Times do país, liderado por Hu Shuli, a jornalista mais conhecida da China e detentora de inúmeros prêmios internacionais. As suas conferências anuais na China são espaços únicos para encontrar e debater com as lideranças políticas e privadas do país. Este ano o grande tema foi a globalização da China tendo como pano de fundo, obviamente, as tensões na sua relação com os EUA.

A grande conclusão aqui é que o quadro presente é o novo “normal”. A reeleição ou não de Trump não irá alterar a mudança que ocorreu no establishment norte-americano na sua relação com a China, numa inversão do que foram 40 anos de política de acomodação face ao desenvolvimento do país. De parceiro a rival -- parece uma mutação rápida, mas os sinais já estavam amarelos faz um tempo. Lawrence Summers e Robert Hormats, braço direito de Kissinger, trouxeram ao encontro do Caixin essa mensagem muito clara sobre o futuro das relações dos dois países.

Cenas dos próximos capítulos são esperadas nesta rivalidade complexa e obviamente isso cria oportunidades e desafios para outras regiões, nomeadamente para o nosso país. O Secretário do Governo Marcos Troyjo trouxe uma mensagem muito impactante de como o fechamento do Brasil ao mundo cobrou um preço muito elevado no dinamismo econômico do país nas últimas décadas (e de como isso acaba por ser uma lição para a atualidade do mundo).

Disse que hoje existe um empenho muito sério em tornar o Brasil um espaço de investimento único e atrativo na cena internacional. Neste ponto, apesar do enorme progresso das relações comerciais entre China e Brasil da última década, existe ainda um grande desafio de colocar o nosso país com destaque nos planos de investimento do setor privado chinês, nomeadamente no setor de tecnologia.

A globalização de muitas empresas chinesas deste setor ainda vive dominada pelo mercado doméstico e pelo quintal vizinho do Sudoeste asiático onde uma grande diáspora chinesa também favorece a contratação de quadros e uma compreensão mais imediata do contexto de investimento.

Mesmo no mundo globalizado de hoje, a distância geográfica ainda conta e por isso existe ainda um importante trabalho de “educar” os líderes empresariais chineses sobre o potencial do Brasil, fora da temática das commodities, e qual a forma adequada de abordar o nosso país.

Durante a conferência houve um debate muito franco sobre as lições da experiência das empresas no exterior, com foco nas dificuldades da cultura empresarial chinesa se adaptar fora do país. Em parte, isso advém de percorrer uma curva de aprendizado. Japoneses e Sul Coreanos tiveram exatamente as mesmas dificuldades com a diferença de que ambos estão no jogo global há 40 anos e a China há pouco mais de dez.

Por outro lado, os desafios de uma economia emergente como o Brasil são familiares para as empresas chinesas. Como na China, a tecnologia não está no Brasil apenas para melhorar uma solução off-line que funciona.

Ela está resolvendo problemas fundamentais do país que, em muitos casos, funcionavam de forma deficiente há décadas. Infraestrutura inteligente, acessibilidade financeira, saúde e educação são alguns dos setores onde a tecnologia acima de tudo procura reduzir custo e aumentar o acesso. E o sucesso de muitas empresas emergentes na China tem exatamente esse binômio como prioridade. E isso também é reduzir o custo Brasil.

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