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Dois sucessos do Brasil: finanças e agricultura

O Brasil está para grãos como a Arábia Saudita está para o petróleo, e o sucesso do setor criou as bases para que o país esteja relativamente imune a crises

SOJA: o Brasil é um dos maiores produtores do grão do mundo. | REUTERS | Paulo Whitaker (Paulo Whitaker/Reuters)
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felipegiacomelli

Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 12h29.

Se há um lado de sucesso da economia brasileira desde o virar do século ele é sem dúvida o agronegócio . Neste êxito, os único fatores prováveis eram as condições naturais, nomeadamente a extensão de terra arável potencial e é claro o grande aumento da demanda global de grãos originado pelo crescimento da China.

Tudo o mais foi um conjunto de improbabilidades que deram certo, a começar por uma interação rara de sucesso no nosso país entre política pública e setor privado corporizada na Embrapa . Hoje o Brasil está para os grãos como a Arábia Saudita para o petróleo e o grande sucesso deste setor criou as bases para que o país esteja relativamente imune a crises de balança de pagamentos que tanto assolaram o Brasil no final do século XX.

O fato da grande expansão do agronegócio no Brasil ser relativamente recente foi muito favorável a incorporação de novas tecnologias ligadas à produção agrícola, num ciclo virtuoso quer de aumento de produção quer de melhoria de produtividade.

A crise financeira de 2008 que encolheu o balanço de muitos bancos europeus muito ativos no financiamento nas exportações de grãos brasileiros foi também contornada com sucesso. E o que falar das grandes limitações de infraestrutura do Brasil? Só de fato a grande eficiência na produção permitiria cobrir as ineficiências logísticas e permanecer competitivo à escala global em termos de custo.

Existem dois setores no Brasil que são de fato de classe mundial em termos de dimensão e inovação. O setor financeiro e o agrícola. Contudo, existem ainda dificuldades para que o último se afirme de fato como classe de investimento viável para investidores com viés financeiro.

Em primeiro lugar, é preciso notar que as experiências de investidores financeiros na criação de empresas de produção agrícola a nível global não foram positivas. Os fatores locais na produção são demasiado importantes e os ganhos de escala a nível global demasiado fugidios para daí extrair grandes benefícios. Por outro lado, no Brasil existe um desequilíbrio entre as melhorias ao nível da produção e ao nível corporativo que também torna desafiante um investimento maior em empresas do agronegócio no país.

É aqui, contudo, que o mercado capitais pode desempenhar um papel muito importante na melhoria da governança corporativa do setor à semelhança do que fez em outras partes da economia nos últimos anos. A crescente importância do mercado de capitais no financiamento de muitas empresas foi talvez o maior fator na melhoria generalizada da qualidade da informação financeira e contábil que tem ocorrido no Brasil nas últimas décadas.

Poucas agendas também têm tanto impacto na economia como a de acessibilidade financeira. Financiamento é uma componente essencial para fazer a ponte entre o curto e o longo prazo, permitindo aos diferentes agentes econômicos investirem em capacidade produtiva.

Enquanto o financiamento de longo prazo foi dominado por agentes públicos e a taxa de juro de mercado muito alta, a acessibilidade financeira foi muito comprometida e o agronegócio sofreu como poucos essa realidade. O predomínio da economia de troca na cadeia produtiva, a falta de liquidez dos ativos e as excessivas garantias de muitos empréstimos em muito impactaram a capacidade de investimento de muitos empresários do setor. Esta realidade, contudo, pode mudar rapidamente.

A melhoria das condições de financiamento da economia, as inovações tecnológicas ao nível do setor financeiro, o volume de dados relevantes hoje debitado pelo setor agrícola dada a introdução de tecnologia na produção e a conscientização dos agentes públicos na aprovação de medidas regulatórias para beneficiar um papel maior do mercado de capitais no setor, pode ajudar o agronegócio a mais um salto de patamar. Desafios existem como é óbvio. As limitações de infraestrutura continuam relevantes  bem como a agenda ambiental e a geopolítica complexa que enfrentamos. Mas este é um Brazil que tem tudo para continuar a prosperar.

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Se há um lado de sucesso da economia brasileira desde o virar do século ele é sem dúvida o agronegócio . Neste êxito, os único fatores prováveis eram as condições naturais, nomeadamente a extensão de terra arável potencial e é claro o grande aumento da demanda global de grãos originado pelo crescimento da China.

Tudo o mais foi um conjunto de improbabilidades que deram certo, a começar por uma interação rara de sucesso no nosso país entre política pública e setor privado corporizada na Embrapa . Hoje o Brasil está para os grãos como a Arábia Saudita para o petróleo e o grande sucesso deste setor criou as bases para que o país esteja relativamente imune a crises de balança de pagamentos que tanto assolaram o Brasil no final do século XX.

O fato da grande expansão do agronegócio no Brasil ser relativamente recente foi muito favorável a incorporação de novas tecnologias ligadas à produção agrícola, num ciclo virtuoso quer de aumento de produção quer de melhoria de produtividade.

A crise financeira de 2008 que encolheu o balanço de muitos bancos europeus muito ativos no financiamento nas exportações de grãos brasileiros foi também contornada com sucesso. E o que falar das grandes limitações de infraestrutura do Brasil? Só de fato a grande eficiência na produção permitiria cobrir as ineficiências logísticas e permanecer competitivo à escala global em termos de custo.

Existem dois setores no Brasil que são de fato de classe mundial em termos de dimensão e inovação. O setor financeiro e o agrícola. Contudo, existem ainda dificuldades para que o último se afirme de fato como classe de investimento viável para investidores com viés financeiro.

Em primeiro lugar, é preciso notar que as experiências de investidores financeiros na criação de empresas de produção agrícola a nível global não foram positivas. Os fatores locais na produção são demasiado importantes e os ganhos de escala a nível global demasiado fugidios para daí extrair grandes benefícios. Por outro lado, no Brasil existe um desequilíbrio entre as melhorias ao nível da produção e ao nível corporativo que também torna desafiante um investimento maior em empresas do agronegócio no país.

É aqui, contudo, que o mercado capitais pode desempenhar um papel muito importante na melhoria da governança corporativa do setor à semelhança do que fez em outras partes da economia nos últimos anos. A crescente importância do mercado de capitais no financiamento de muitas empresas foi talvez o maior fator na melhoria generalizada da qualidade da informação financeira e contábil que tem ocorrido no Brasil nas últimas décadas.

Poucas agendas também têm tanto impacto na economia como a de acessibilidade financeira. Financiamento é uma componente essencial para fazer a ponte entre o curto e o longo prazo, permitindo aos diferentes agentes econômicos investirem em capacidade produtiva.

Enquanto o financiamento de longo prazo foi dominado por agentes públicos e a taxa de juro de mercado muito alta, a acessibilidade financeira foi muito comprometida e o agronegócio sofreu como poucos essa realidade. O predomínio da economia de troca na cadeia produtiva, a falta de liquidez dos ativos e as excessivas garantias de muitos empréstimos em muito impactaram a capacidade de investimento de muitos empresários do setor. Esta realidade, contudo, pode mudar rapidamente.

A melhoria das condições de financiamento da economia, as inovações tecnológicas ao nível do setor financeiro, o volume de dados relevantes hoje debitado pelo setor agrícola dada a introdução de tecnologia na produção e a conscientização dos agentes públicos na aprovação de medidas regulatórias para beneficiar um papel maior do mercado de capitais no setor, pode ajudar o agronegócio a mais um salto de patamar. Desafios existem como é óbvio. As limitações de infraestrutura continuam relevantes  bem como a agenda ambiental e a geopolítica complexa que enfrentamos. Mas este é um Brazil que tem tudo para continuar a prosperar.

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