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Compartilhar, criar e influenciar: a nova cara do varejo

Entretenimento é o novo engajamento: pessoas viram marcas e marcas viram pessoas

As redes sociais transformaram a forma como o varejo se relaciona com os consumidores. A partir de novos canais mais interativos, o entretenimento passou a estar totalmente interligado às compras. Por meio do Whatsapp, Instagram, Tiktok e Facebook, as pessoas passaram a criar e compartilhar conteúdo, gerando influência para o consumo de serviços e produtos. 

Segundo a Pesquisa de Influenciadores Digitais realizada pelo Instituto Qualibest, 50% das pessoas, compram produtos a partir das indicações de influenciadores. O influenciador digital passou a ser a principal fonte de tomada de decisão com alto índice de confiança. De acordo com o Relatório Influenciadores Digitais 2023 da Opinion Box e Influency.me, mais de 80% das pessoas saem satisfeitas com as compras indicadas pelos influenciadores e 85% delas comprariam novamente. 

Esse novo modelo de comunicação com o consumidor indica que marcas estão virando pessoas e pessoas estão se tornando marcas. Afinal, a partir das relações de longo prazo criadas com o público, um influenciador digital consegue facilmente criar produtos próprios. Um dos melhores exemplos de negócios que atingiram o sucesso criando uma forte marca atrelada a uma celebridade e o entretenimento foi o Tardezinha. O produto foi criado a partir do cantor Thiaguinho, que conseguiu faturar R$200 milhões em receita apenas com bilheteria e patrocínios, com cerca de 28 shows no Brasil. 

A partir do momento em que o Tardezinha conquistou uma alta influência, foram criadas outras fontes de receita, como uma cerveja da marca que teve mais de 20 milhões de unidades vendidas fora do ambiente do show. Logo em seguida, as pessoas passaram a desejar o produto em suas festas. Dessa forma, o Tardezinha foi licenciado para ser tema de festas de aniversário. Esse exemplo nos mostra como a influência do entretenimento se tornou um negócio lucrativo com diversidade de produtos e opcionalidade de receita. 

O entretenimento também está encontrando muito espaço a partir de conteúdos em vídeo que se tornam negócios valiosos. Na pandemia, o vídeo passou a ser o principal formato escolhido pelo consumidor, enquanto, neste ano, a tendência é chegar a 60% de preferência. Em vídeo e áudio, os podcasts passaram a ser produtos de destaque e observaram uma explosão nas suas audiências. Segundo o Data Reportal 2023, o Brasil é o país que mais consome podcasts no mundo, com 42,9% de usuários de internet, com idade entre 16 e 64 anos, que acompanham esse formato de conteúdo toda semana. Nos Estados Unidos, mais de 100 milhões de pessoas acessam podcasts todos os meses e quase 28 milhões de americanos consomem os conteúdos todos os dias. 

Todo esse cenário fez com que o Flow, um dos grandes podcasts brasileiros, se tornasse o programa desse gênero mais buscado do mundo no Google em 2022. Atualmente, o Podpah é o principal podcast brasileiro, com uma receita de R$25 milhões gerada no ano passado. No primeiro trimestre deste ano, o faturamento já chegou a quase R$20 milhões, demonstrando como o conteúdo se tornou uma marca de relevância que consegue expandir receita e crescer cada vez mais. 

A análise de um cenário em que a produção de conteúdo se torna um negócio valioso é importante. O varejo precisa estar atento a essas mudanças, afinal, o novo formato de comunicação está conseguindo influenciar a decisão de compra do consumidor em diversos temas. Além disso, os influenciadores tornaram-se uma importante ferramenta de parcerias para alavancar vendas e não estamos falando apenas das grandes celebridades da TV e internet. Cada vez mais o micro influenciador tem conseguido macro engajamento a partir de sua autenticidade e acessibilidade, que possibilita conexões mais profundas com seus seguidores, o que leva a um maior engajamento com seus conteúdos. 

Ao entender a relação da criação de conteúdo de influenciadores e marcas, é possível gerar novas formas de interação com os consumidores por meio de experiências únicas e divertidas, aliando o entretenimento às compras. Podemos citar exemplo como as Collabs (criação de produtos em colaboração com influenciadores e marcas que conhecem com profundidade a sua audiência e enxergam oportunidades de novos produtos em conjunto), como a Cimed Fini. Ou ainda influenciadores com suas próprias marcas, como a Virginia ou Boca Rosa. 

 A Internet transformou a forma como o varejo se comunica com seus clientes, mas as redes sociais causaram uma grande revolução, com novas formas de interação e criação de produtos que realmente impactam o consumidor e o seu dia a dia. Os grandes varejistas, com potencial de crescimento no mercado, precisam estar atentos a essas movimentações e investir em novas formas de impactar seu público, seja para criar um relacionamento mais próximo, conquistar fidelização ou impulsionar as vendas a partir de novas fontes de receita. 

O uso das redes sociais para o varejo é essencial e deve estar presente nas agendas dos empreendedores brasileiros como prioridade. O entretenimento e os negócios estão cada vez mais alinhados e representam o futuro do setor. 

*Bernardo Carneiro é Sócio-Diretor da Stone