Estudo genético busca impedir infecção alimentar por salmonela
Pesquisadores buscam quais são os genes importantes que permitem a sobrevivência de bactérias da espécie Salmonella em aves e, assim, contaminar humanos
Isabela Rovaroto
Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 11h36.
Um grupo de pesquisadores da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (FCAV-Unesp), em Jaboticabal, investiga genes importantes para a sobrevivência de bactérias da espécie Salmonella no trato entérico de aves. O objetivo é prevenir a infecção alimentar em seres humanos.
Existem mais de 2,6 mil sorotipos conhecidos de Salmonella. Alguns deles respondem por muitos casos de infecção em animais e em humanos. A presença de certos sorotipos em produtos de aves brasileiras já motivou a Europa a barrar contêineres exportados pelo país. A legislação europeia é bastante restritiva quanto à presença dessas bactérias.
“As salmonelas colonizam muito bem o trato digestório das aves e podem ou não causar doenças. Mesmo quando não afetam a galinha, podem infectar seres humanos que dela se alimentarem”, disse Angelo Berchieri Junior, professor da FCAV-Unesp, durante palestra na FAPESP Week London, evento ocorrido nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2019.
Berchieri é responsável por um Projeto Te mático apoiado pela FAPESP que vai testar o efeito da deleção dos genes ttrA e pduA em três sorotipos de salmonela: Salmonella Enteritidis, S. Typhimurium e S. Heidelberg.
“Escolhemos essas três porque são frequentemente encontradas em aves e podem causar infecção alimentar em humanos”, disse Berchieri.
O pesquisador explicou que, das três, S. Heidelberg é a menos comum em seres humanos. No entanto, foi encontrada em cargas brasileiras de aves que não foram aceitas na Europa. “Ela está disseminada no Brasil e pode comprometer as exportações brasileiras”, disse.
A legislação brasileira faz menção restritiva aos sorotipos Enteritidis e Typhimurium. Contudo, dependendo do país importador, outras salmonelas também não podem estar presentes nos produtos avícolas exportados.
Participam do projeto o pós-doutorando Mauro de Mesquita Souza Saraiva e a bióloga Gabriele Tostes Gricio, que tem bolsa de treinamento técnico.
Para testar quais genes tornam a bactéria resistente ao sistema imunológico das aves, os pesquisadores infectam um grupo de pintinhos com a bactéria selvagem (sem modificação genética) e outro com salmonelas que tiveram os genes ttrA ou pduA deletados.
Depois, comparam nos dois grupos a presença da bactéria nas fezes, no ceco (porção inicial do intestino grosso), no fígado e no baço.
Ao identificar os genes que permitem a sobrevivência da bactéria, o pesquisador é capaz de gerar versões mutantes, que podem ser usadas como vacina. Quando o sistema imune entrar em contato com uma variedade que não mata o animal, mas que se mantém viva por algum tempo no organismo, é criada uma memória imune. Caso o animal seja exposto à versão nociva da bactéria, suas defesas estarão prontas para atacá-la.
“Conhecer e combater os sorotipos que podem infectar aves é, portanto, fundamental para a saúde dos consumidores e também para a balança comercial brasileira”, disse Berchieri.