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América Latina, terra de oportunidades, por Cristina Junqueira, do Nubank

Com mais de US$ 36 bilhões investidos, América Latina já conta com 34 unicórnios e não deve demorar para chegar aos 100, diz cofundadora do Nubank

Região da Faria Lima, reduto de boa parte das empresas de tecnologia da capital paulista: Brasil abriga cerca de 18 mil startups, ou 77% do total, na região. Além disso, em 2021, o Brasil recebeu cerca de 70% do montante total investido na América Latina (Germano Lüders/EXAME/Exame)
Região da Faria Lima, reduto de boa parte das empresas de tecnologia da capital paulista: Brasil abriga cerca de 18 mil startups, ou 77% do total, na região. Além disso, em 2021, o Brasil recebeu cerca de 70% do montante total investido na América Latina (Germano Lüders/EXAME/Exame)
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Cristina Junqueira

Publicado em 11 de novembro de 2021 às, 13h41.

A América Latina está se posicionando como um pólo promissor de startups e inovação perante outras regiões do mundo. Entre 2017 e 2021, a região captou mais de US$ 36 bilhões em investimentos, resultando em 34 startups unicórnio — ou seja, empresas com valor de mercado superior a US$ 1 bilhão.

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Na coluna desta semana, Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, se aprofunda nos motivos que têm feito o capital estrangeiro ser cada vez mais comum na América Latina, além de contar mais sobre o nascimento dos unicórnios na região.

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“Unicórnios”

Existem mais de 870 unicórnios no mundo! E não estou falando sobre os seres mitológicos, mas sobre empresas que valem mais de US$ 1 bilhão. O termo “startup unicórnio” surgiu há menos de 10 anos, em 2013, quando existiam cerca de 39 dessas empresas que, na época, eram raras.

Hoje, segundo um levantamento da CB Insights, 887 startups se enquadram como “unicórnios”. Algumas, inclusive, se tornaram tão valiosas que outras nomenclaturas foram criadas, como “decacorn”, para as que valem mais de US$ 10 bilhões, e “hectocorn”, para aquelas que ultrapassam os US$ 100 bilhões.

E se, em 2013, o mundo contava somente com 39 unicórnios, na América Latina essas empresas eram mais raras ainda. Na verdade, começamos a ver startups muito valiosas na região por volta de 2015, mas foi só em 2018 que o mercado explodiu e 9 unicórnios surgiram por aqui — inclusive o Nubank.

A partir de então, essa foi uma tendência crescente. Nos últimos três anos, vimos outras 23 empresas latinoamericanas alcançarem o valor de mercado de US$ 1 bilhão. Só em 2021, inclusive, em plena pandemia, 13 delas chegaram a essa marca — e olha que o ano ainda nem acabou. Ou seja, o setor de tecnologia e inovação está em plena atividade e, na América Latina, é um dos queridinhos dos investidores.

Além disso, mais da metade dos unicórnios da região são originados no Brasil. Segundo um levantamento da plataforma de inteligência de dados Sling Hub, 60% dos unicórnios da região são brasileiros, 17% são argentinos e 11% mexicanos. Esse é um reflexo claro do tamanho da oportunidade de cada um desses mercados.

O Brasil, como o maior país da América Latina, tanto em território quanto em população, apresenta mais oportunidades e também possui um mercado mais dinâmico. Dessa forma, empresas que encontram um nicho e propõem uma solução relevante para um problema que afeta uma parcela relevante da população têm um grande potencial para escalar seu negócio.

Capital estrangeiro

Se pararmos para pensar, o boom dos unicórnios na América Latina também está bastante associado à chegada de investidores estrangeiros. Até pouco tempo, não existiam tantos investimentos assim na região — e, na verdade, essa parte está também muito atrelada à história do Nubank.

O David Vélez, meu sócio aqui no Nubank, trabalhou por muito tempo na Sequoia Capital, um dos maiores fundos de investimentos do mundo. Por anos, o David era focado em procurar bons investimentos na América Latina - como empresas inovadoras que estivessem propondo soluções diferentes, com potencial de crescimento e a possibilidade de virarem futuros unicórnios. Na época, contudo, ele não encontrou grandes oportunidades.

Ao mesmo tempo, a Sequoia era um dos poucos fundos que estava, de fato, interessado na América Latina. Os outros investidores tinham um foco muito maior em Estados Unidos, Ásia e Europa.

Por isso, quando fundamos o Nubank, tivemos que trabalhar também para educar os investidores estrangeiros que não estavam acostumados com o ecossistema da nossa região. E, com a chegada do capital internacional, outros empreendedores da América Latina puderam cada vez mais criar também as suas startups inovadoras, que promovessem uma melhora significativa na vida das pessoas.

Quanto mais empresas inovadoras, maior o volume de capital investido na região. Para contextualizar, estamos falando de mais de US$ 13 bilhões injetados na América Latina somente em 2021 e mais de US$ 36 bilhões nos últimos cinco anos. E quanto maior o investimento, mais empregos gerados, maior o desenvolvimento de tecnologias e, também, um crescimento mais acelerado das economias. Ou seja, foi criado um círculo virtuoso que tem desenvolvido até hoje o ecossistema de inovação da América Latina.

Brasil

Como já comentei, o Brasil é o maior país da América Latina. Por isso, é natural que seja responsável pela maior parte das startups e, consequentemente, dos investimentos e dos unicórnios. Hoje, o país abriga cerca de 18 mil startups, ou 77% do total, na região. Além disso, em 2021, o Brasil recebeu cerca de 70% do montante total investido na América Latina. E não para por aí: entre os 34 unicórnios da região, 20 são brasileiros.

Para dar uma ideia da dimensão dos aportes feitos aqui, segundo a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), o Brasil recebeu mais de R$ 33 bilhões em investimentos entre janeiro e setembro deste ano. O valor é o triplo, se comparado ao mesmo período de 2020.

Os números mostram o quão aquecido está o mercado e, claro, como ele está crescendo cada vez mais rápido. A ABStartups, inclusive, espera que alcancemos 100 unicórnios brasileiros dentro dos próximos cinco anos — ou seja, vamos quintuplicar a quantidade que temos hoje.

O mais bacana nisso tudo é ver a quantidade de startups sendo criadas para resolver problemas reais. Empresas que sabem solucionar dificuldades de forma criativa e inovadora têm potencial para escalar seu negócio internacionalmente — afinal, os problemas que passamos por aqui geralmente não são só nossos. Foi exatamente isso que aconteceu com o Nubank, por exemplo: começamos a operar no Brasil e vimos que outros países, como México e Colômbia, passam pelas mesmas situações, criando oportunidades também por lá.

Todo esse ecossistema provoca uma situação ganha-ganha. Mais pessoas têm suas necessidades resolvidas por novos serviços e tecnologia, a entrada de capital faz com que a economia gire, e mais empregos acabam sendo gerados. É um ciclo muito positivo de desenvolvimento!