ESG

Para pequenos comerciantes, social é área mais importante do ESG

Pesquisa do Comitê ESG da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) mostra ainda como comerciantes têm dificuldades em estratégia e prática social, ambiental e de governança

Pesquisa avalia aderência do comércio de São Paulo ao ESG  (Lucas Landau/File Photo/Reuters)

Pesquisa avalia aderência do comércio de São Paulo ao ESG (Lucas Landau/File Photo/Reuters)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 07h00.

Praticamente metade dos  pequenos e médios comerciantes (46%) considera o aspecto social do ESG – sigla para meio ambiente, social e governança – o quesito mais relevante para o seu negócio, mas quase um quarto apontou como barreira para adoção dos critérios ESG, a falta de conhecimento nas práticas possíveis e a necessidade de incentivos governamentais.

Os dados são da pesquisa inédita realizada pelo Comitê ESG da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). O estudo ouviu 100 empresas do comércio na capital paulista (90 com menos de 10 empregados e 10 com mais de 50). Com base nos resultados, o Comitê – que integra o Conselho de Sustentabilidade (CS) da Federação – estabelecerá estratégias para orientar os pequenos comerciantes nessa agenda.

Para os respondentes, além do social em primeiro lugar, os aspectos ambientais e de governança são importantes para 27%. Na avaliação da FecomercioSP, essa percepção pode refletir também os efeitos da pandemia de covid-19, durante a qual muitos desses negócios se esforçaram para não demitir, além de terem adotado medidas para o controle da disseminação do coronavírus entre funcionários e clientes.

A preocupação com o social aparece em ações adotadas em relação aos funcionários, aos clientes, à vizinhança e demais stakeholders. Em relação à qualidade de vida dos funcionários, 60% disseram que o impacto causado pela empresa é positivo. No que concerne à qualidade de vida dos clientes, 67% consideraram impactar de forma positiva. No que diz respeito à vizinhança, 43% também afirmaram ter impacto positivo.

Com relação às práticas adotadas para o bem-estar social, embora 53% tenham informado não ter nenhuma ação, entre os que adotam, 21% disseram fazer contribuições financeiras (exceto para causas políticas) e, a mesma porcentagem (21%), parcerias com organizações beneficentes ou participação em organizações comunitárias. Por fim, 11% apontaram como prática os investimentos na comunidade.

Os comerciantes citaram como principais barreiras para a adoção de práticas ESG no aspecto social, o desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (33%), a insuficiência de recursos financeiros (29%) e a necessidade de incentivos governamentais (24%).

Governança

Com relação à governança, quando avaliadas as ações para gestão de pessoas, 71% das empresas (sendo 69% nas com até 10 empregados e 90% nas demais) afirmaram terem trabalhadores formalizados, seja através de CLT ou contrato de trabalho.

Entre os comércios com mais de 50 funcionários, 70% têm garantias de oportunidades de contratação e desenvolvimento de carreira de forma isonômica a todas as pessoas.

No que diz respeito às práticas de diversidade e inclusão, todos os comércios com mais funcionários disseram adotar medidas que promovem o trabalho descente, tratando seus funcionários de forma respeitosa. Quando perguntadas sobre a adoção de medidas para impedir e reparar situações de assédio ou violações, 45% das empresas, sendo 42% das com até 10 empregados e, 70%, nas demais, afirmaram exercer ações nesse sentido.

A corrupção também é uma preocupação: 44% adotam medidas para prevenção e combate, e 63% têm a transparência como princípio. Em relação à diversidade na liderança, a pesquisa demonstra que 45% dos negócios são liderados por mulheres. E isto chega a 50% nas empresas com mais de 50 empregados.

Já as que não são exercidas por pessoas de grupos sub-representados são 29%. Enquanto por pessoas idosas, 17%; 10% por outros grupos sub-representados, como, por exemplo, LGBTQIA+ e 3% para o grupo racial ou étnico sub-representado.

Os resultados da pesquisa no aspecto da governança, apontam ainda, que as ações relacionadas à cooperação e/ou parcerias em prol de iniciativas sociais e ambientais ainda têm baixo engajamento (86% afirmaram não ter atitudes nesse sentido).

As empresas também avaliam pouco os seus fornecedores com critérios ESG. Os quesitos mais citados por elas são: localização na mesma comunidade ou região geográfica (22%), corrupção (21%), e programa de reciclagem (18%). Para melhorar, há também o desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (32%), insuficiência de recursos financeiros (26%) e, diferentemente dos aspectos ambiental e social, foi apontada a falta de conhecimento (25%).

“As empresas, de qualquer porte, tipo ou setor, precisam trilhar a jornada ESG em busca do desenvolvimento sustentável. É preciso que elas saibam que há benefícios práticos para os comerciantes que adotam essas medidas. O investimento em sustentabilidade é sinônimo de oportunidade, não só para atender um consumidor cada vez mais exigente com as marcas, mas para que as PMEs possam integrar cadeias de fornecedores de grandes companhias, que exigem adequações e conformidades de ESG”, diz Luiz Maia, coordenador do comitê ESG da FecomercioSP.

Ambiental

Em relação aos aspectos ambientais, as empresas com mais de 50 empregados estão mais atentas do que as com até 10 funcionários. No primeiro grupo, 70% monitoram a água, enquanto, no segundo, apenas 21%.

Para os resíduos sólidos, a diferença é de 50% para 16%. Na energia, de 70% para 28%, sendo que o monitoramento de consumo de não renovável é feito por apenas 10% das empresas do primeiro grupo, e nenhuma do outro.

Assim, com exceção do uso de lâmpadas LED (91%) e a gestão de resíduos sólidos (48% fazem a triagem dos recicláveis e 27%, a substituição de descartáveis), as empresas têm baixo desempenho na adoção de boas práticas ambientais.

Em relação às barreiras, assim como nos demais, as mais destacadas foram desconhecimento de parceiros aptos a colaborar (33%), insuficiência de recursos financeiros (30%) e necessidade de incentivos governamentais (27%).

A falta de percepção de que causam impactos ambientais, se confirma na avaliação das empresas sobre os efeitos gerados com suas operações: 97% declararam não produzir impactos em relação às mudanças climáticas; 95% à poluição do solo, escassez de recursos naturais e de água; 96% à poluição da água e 93% à poluição do ar. Como consequência desse desconhecimento, nenhuma monitora, também, as emissões de gases de efeito estufa.

“O que essa sondagem revela é que os pequenos comerciantes ainda não compreendem totalmente como atuar na agenda ESG. Especialmente, quando falamos do aspecto ambiental. Por isso é que são importantes as ações de orientação e divulgação – proposta do Comitê ESG, da FecomercioSP. Por outro lado, é interessante observar também que, apesar da pouca compreensão, o comércio – em sua maioria pequenas e médias empresas – já está adotando, espontaneamente, e mesmo com as limitações próprias das PMEs, ações para uma gestão mais responsável”, diz Maia.

 

 

 

Acompanhe tudo sobre:Comérciosao-pauloSustentabilidade

Mais de ESG

Dólar fecha em queda de 0,84% a R$ 6,0721 com atuação do BC e pacote fiscal

Alavancagem financeira: 3 pontos que o investidor precisa saber

Boletim Focus: o que é e como ler o relatório com as previsões do mercado

Entenda como funcionam os leilões do Banco Central no mercado de câmbio