Ciência

Fungos, bituca de cigarro e até pipoca viram produtos sustentáveis

Busca por materiais alternativos, reaproveitados ou com baixo impacto no ambiente, já tem boas soluções escaláveis para o mercado

Chinelos da marca Charlotta Amans, feitos de micélio (CharlottaAmans/Divulgação)

Chinelos da marca Charlotta Amans, feitos de micélio (CharlottaAmans/Divulgação)

EXAME Solutions
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Publicado em 27 de junho de 2023 às 15h27.

Diante da crise climática, a busca por matérias-primas de fonte renovável, de baixa emissão de carbono e que contribuam para solucionar os desafios ambientais é urgente. Por isso, pesquisadores e empreendedores do mundo todo estão empenhados em desenvolver novos materiais, mais sustentáveis.

Exemplos bem-sucedidos não faltam, em diversos setores. Mas alguns chamam a atenção pelo ingrediente muitas vezes impensado pela maioria – você já imaginou, por exemplo, ter uma jaqueta de cogumelo ou uma parede preenchida com pipoca? 

Fungos servem de base até para a construção civil

A empresa americana de biomateriais Ecovative é especialista em usar o micélio, a parte vegetativa dos fungos (ramificações fibrosas dos cogumelos), para desenvolver uma porção de coisas: espuma, couro ecológico para roupas, sapatos e estofados, bacon vegetal, esponjas de maquiagem, chinelos, isolante térmico, miolo de portas, embalagens, entre outras. 

Até o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) já teve um pavilhão todo construído com tijolos derivados de cogumelos da companhia. 

A linha de embalagens Mushroom, por exemplo, são uma alternativa ecológica ao isopor, usando quantidades mínimas de recursos e zero produtos químicos artificiais. Feitas com dois ingredientes simples – cânhamo e micélio –, depois de usadas podem ser quebradas e espalhadas numa caixa de compostagem caseira ou diretamente no solo do jardim, onde a umidade e os micróbios farão o serviço. 

Tijolo de bitucas de cigarro

Cerca de 4,5 trilhões de pontas de cigarro, recheadas de componentes químicos, são descartadas no meio ambiente todos os anos, segundo a OMS e a ONG Stop, poluindo oceanos, rios, calçadas, parques, solo e praias. 

Para ajudar a lidar com o problema, pesquisadores do Royal Melbourne Institute of Technology (RMIT), na Austrália, desenvolveram um tijolo “verde”, que usa esse resíduo como matéria-prima misturada à argila. 

O resultado são tijolos com as mesmas características estruturais dos convencionais, só que mais leves, com melhor isolamento (ou seja, menos gastos com aquecimento e resfriamento doméstico) e que usam 10% menos energia para serem produzidos, além de darem fim às indesejadas bitucas.

Os criadores comprovaram ainda que, se apenas 2,5% da produção mundial de tijolos incorporasse 1% de bitucas, compensaria a produção total de cigarros a cada ano.

Pipoca para isolamento térmico

Um bom isolamento térmico reduz custos de aquecimento e resfriamento das edificações, o que significa menos emissão de CO2. Se for feito com material sustentável então, os ganhos para o meio ambiente são ainda maiores. 

Pensando nisso, um grupo de pesquisa da Universidade de Göttingen, na Alemanha, conseguiu desenvolver placas isolantes feitas de uma matéria-prima diferente: pipoca! 

Eficiente, com ótimas propriedades de isolamento térmico, repelentes e de proteção contra incêndio, o grande benefício do material é ser uma alternativa vegetal e sustentável aos derivados de petróleo usados na indústria hoje. 

Os painéis de pipoca isolante já têm contrato de licença para uso comercial, tanto do processo de fabricação quanto dos produtos. "Esse novo processo, baseado no da indústria de plásticos, permite a produção em escala industrial", explicou o chefe do grupo de pesquisa, professor Alireza Kharazipour. "Isso garante que os materiais de isolamento natural não sejam mais apenas produtos de nicho".

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