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Por que o venture capital atrai o interesse de grandes investidores?

Entre as empresas que recebem hoje os investimentos de fundos de venture capital teremos os futuros líderes de setores gigantescos da economia

Google Campus para startups em São Paulo: cresce o interesse de investidores pelo venture capital | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
Google Campus para startups em São Paulo: cresce o interesse de investidores pelo venture capital | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)
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Blog da Exame

Publicado em 23 de junho de 2021 às, 06h30.

Não é de hoje o interesse de gestores à frente de grandes carteiras pelo universo de venture capital. Modalidade comum em mercados mais desenvolvidos como o dos Estados Unidos ou mesmo da Europa, o investimento em startups é algo que tem atraído cada vez mais a atenção de investidores profissionais e também dos family offices.

A maturidade do ecossistema de inovação brasileiro, que no ano de 2020 alocou mais de US$ 3,5 bilhões em startups de tecnologia, um crescimento de 17% frente a 2019, segundo levantamento divulgado pelo Distrito Dataminer, somada a um cenário macroeconômico de juros baixos, e a transformação digital em praticamente todos os aspectos de nossas vidas, têm estimulado movimentos nessa direção.

Como players desse mercado há mais de uma década, temos acompanhado de perto a aproximação dos investidores junto às startups. Apesar dessa percepção empírica, sentíamos falta de dados de mercado que pudessem medir esse interesse.

E esse foi justamente o ponto de partida para a pesquisa "Percepções e atitudes no investimento de Venture Capital", que nós, da Astella Investimentos, realizamos ao lado do Instituto Ilumeo. Ao longo de dois meses, acionamos investidores individuais, multi e single family offices para entender como de fato enxergam esse mercado.

Entre os entrevistados, 78% declaram que consideram alterações em seus portfólios de investimento nos próximos 12 meses e que o venture capital (VC) é a classe de ativos com maior potencial de crescimento, uma vez que 48% deles pretendem ampliar seus investimentos em fundos de VC nesse período.

Ter quase a metade desses investidores direcionando sua atenção para o ecossistema de startups é algo que merece destaque. Até mesmo porque, atualmente, 60% dos investidores ouvidos têm até 5% do seu patrimônio comprometido com essa classe de ativos.

É ainda um percentual muito pequeno, o que nos mostra que existe um potencial imenso de crescimento, que deve ser impulsionado no curto prazo.  Como comparação, esse percentual de alocação nos Estados Unidos é de 10% em levantamento semelhante realizado pelo Silicon Valley Bank. Isso sem contar a base maior de investidores.

A busca por maior retorno é o principal motivador desse forte aumento de interesse pela classe de ativos, não apenas pela atual taxa de juros mais baixa mas principalmente pela visão de que a tecnologia é e continuará sendo ao longo dos próximos anos uma fonte de construção de valor sem igual.

O estudo mostrou o acesso a inovação e tecnologia (85%) como a principal razão apontada pelos investidores para a alocação em VC. Talvez a pandemia tenha um peso para essa escolha. Ao longo do último ano, foram inúmeros os paradigmas que caíram por terra e que acabaram por acelerar exponencialmente o movimento de digitalização em curso nas mais diversas indústrias. Esse cenário jogou holofotes sobre o setor de tecnologia e claramente fortaleceu o interesse dos investidores em negócios ligados à inovação.

Entre as empresas que recebem hoje os investimentos de fundos de venture capital, teremos os futuros líderes de setores gigantescos da economia, com empreendedores que estão transformando o futuro do país por meio da tecnologia.

Outro ponto que chama a atenção foi que, para 37% dos respondentes, trata-se também de uma oportunidade de fomentar a geração de novos empregos.

Nesse sentido, é sempre importante salientar que o  venture capital é uma classe de ativos intimamente ligada ao empreendedorismo, à geração de empregos e ao conceito de prosperidade compartilhada. Existe uma consciência clara nos empreendedores de que parte significativa do valor criado é reinvestido na economia digital e que muitos acabam se beneficiando do crescimento exponencial desses negócios, em um círculo virtuoso.

Com esse crescente interesse aliado a um ecossistema maduro de inovação no país, fundos com track record comprovado ao longo dos últimos anos, e muitas vezes com performance acima do top-quartile global, o mercado de venture capital vem conquistando uma base cada vez maior entre os investidores profissionais, ao mesmo tempo que novas oportunidades para investidores qualificados começam a se popularizar através de plataformas de crowdfunding e fundos de fundos.

Essa tendência deverá crescer ainda mais no mercado, tornando o investimento em empresas privadas de tecnologia uma realidade para um crescente número de investidores, que, alocando na classe de ativos, tem a possibilidade de construir valor, empregos e distribuição da prosperidade.

*Daniel Chalfon é sócio da Astella, uma gestora de fundos de investimento de venture capital com 12 anos de trajetória e que investe em empresas brasileiras de tecnologia ainda em seus estágios iniciais (Seed e Série A).