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Os números reais da Americanas: R$ 25 bi em fraudes

Em primeiro guidance após a RJ, nova administração já espera chegar a EBITDA positivo ao fim de 2025

 (Leandro Fonseca/Exame)
(Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 16 de novembro de 2023 às 10:23.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 17:23.

No começo de 2022, o então CEO Miguel Gutierrez classificou o ano anterior como “histórico” para a Americanas, com um lucro superior a R$ 500 milhões. As contas da empresa reapresentadas hoje – onze meses depois do estouro de um dos maiores escândalos da história corporativa do país – mostram um cenário bem diferente: prejuízo de R$ 6,2 bilhões ao fim de 2021. 

Nos balanços finalmente apresentados hoje, a nova administração da companhia aponta que o impacto das “fraudes das gestões anteriores” nos resultados chegou a R$ 25,2 bilhões, principalmente por conta das verbas de propaganda cooperada – em que os fornecedores dão desconto em troca de melhor exposição ou marketing de seus produtos –, juros não contabilizados e despesas contabilizadas como investimentos. 

O balanço de 2022, cuja divulgação foi atrasada diversas vezes, mostra uma empresa com patrimônio líquido negativo em R$ 26,7 bilhões – um número que já era negativo em R$ 12,6 bilhões um ano antes, segundo os números reapresentados. A Americanas terminou 2022 com um prejuízo líquido de R$ 12,9 bilhões e Ebitda negativo em R$ 6,2 bilhões.  

Com o passado agora pelo menos retratado de maneira fidedigna no papel, a nova administração está começando a olhar para o futuro. Pela primeira vez, a empresa deu um guidance para 2025. Se as negociações com os credores avançarem nos moldes que vem sendo discutidos, a companhia acredita que vai poder gerar um Ebitda de mais de R$ 2,2 bilhões (ou de R$ 1,5 bilhão depois do pagamento de aluguéis).  

Atualmente, a proposta da companhia envolve um aumento de capital de R$ 12 bilhões por parte do trio 3G – Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles – e uma capitalização de dívidas no mesmo montante por parte dos bancos. As dívidas que não forem convertidas devem sofrer um haircut de cerca de 70%. 

Os balanços reapresentados contaram com uma “abstenção” de opinião por parte da auditoria BDO, que foi contratada este ano para acompanhar o processo. No parecer, a firma ressalta que há diversas informações sobre as quais há incerteza relevante, principalmente por causa das distorções geradas pelas práticas fraudulentas no passado.   

Os números de 2021 traziam um desafio especialmente relevante, dado que naquele ano foi realizada a fusão entre a B2W (que concentra as operações digitais) e as Lojas Americanas – um movimento amplamente aguardado à época e que, na expectativa da companhia, poderia cacifá-la a uma listagem nos Estados Unidos.  

“A Americanas foi vítima de uma fraude sofisticada, baseada na manipulação dolosa de seus controles internos por parte de sua antiga gestão, o que tornou o refazimento das demonstrações financeiras extremamente desafiador, complexo e extenso, requerendo trabalho minucioso e rigoroso”, disse a empresa no release dos resultados.  

Além do tamanho do rombo nos dois anos anteriores, chama atenção uma baixa contábil de R$ 1,7 bilhão realizada em 2021 referente ao ágio contabilizado nas aquisições de BWU, Skoob, Submarino e Supermercado Now e no ativo intangível da B2W. 

No ano seguinte, houve uma baixa semelhante, de R$ 2,4 bilhões, envolvendo a Ame, a rede de hortifrutis Natural da Terra e a Uni.Co, dona das marcas Imaginarium e Puket. Essas últimas operações estavam à venda dentro da recuperação judicial, com expectativa de levantar pelo menos R$ 2 bilhões, mas o processo foi interrompido, diante de ofertas muito aquém deste valor. 

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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