Softbank avalia startup de IoT em mais de US$ 1 bi. Ponto para a Valid
Companhia brasileira tinha 6% da startup Cubic, focada em IoT para o setor automotivo
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 07:00.
Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 16:08.
O Softbank anunciou hoje a aquisição de 51% da Cubic, uma startup irlandesa de internet das coisas com foco no setor automotivo e de transporte, por 473 milhões de euros. A investida é irlandesa, mas o valuation de mais de US$ 1 bi foi uma boa notícia para uma empresa brasileira.
A Valid vendeu uma participação de 4% na startup por cerca de R$ 171 milhões ao câmbio atual, numa operação que vai contribuir para sua estratégia de foco nas operações locais e preservação de caixa. A companhia já tinha anunciado um desinvestimento por parte de uma subsidiária espanhola na semana passada, mas não havia informado qual o ativo.
Especialista no mercado de identificação, a Valid produz mais de 80% dos RGs e de 60% das cartas de habilitação no país, além de atuar na fabricação de chips para celular e cartões de crédito. A empresa entrou na Cubic em 2017, numa aposta no avanço do mercado de internet das coisas e possíveis sinergias com a vertical de mobile, focada em telecom e no setor bancário, com chips para ambos.
De lá para cá, no entanto, muita coisa mudou. Desde que assumiu a empresa em 2020, o CEO Ivan Murais fez uma mudança de rota, numa estratégia de simplificar a companhia, com foco principalmente na operação nacional e na redução do endividamento. O indicador de alavancagem (dívida líquida/Ebitda) saiu de 3,6 vezes para 0,2 vez nos três meses encerrados em setembro. Agora, a empresa passa a ser caixa líquido.
“Hoje, a Cubic está em uma nova fase de crescimento, disposta a entrar no mercado asiático e atender montadoras de veículos elétricos. Para isso, precisava de um sócio local, por isso abrimos espaço para o Softbank", diz Murias. A Valid segue com uma participação residual de 2% na empresa.
Hoje, a Valid é a terceira maior produtora de chips do mundo, detendo 10% do mercado de eSIM (um tipo de chip digital) e vendeu, no terceiro trimestre, cerca de 300 milhões de chips a empresas no mundo todo. Desse total, 450 mil chips forma vendidos justamente para a Cubic, que atende montadoras como a Volkswagen e Audi.
“A gente percebe que o chip tem diferentes aplicações: carros, cidades inteligentes, wearables, se complementam à tese da nossa vertical de mobile”, diz o CEO.
Ainda assim, não se trata da divisão mais promissora para a empresa ao longo dos próximos anos. Hoje, a vertical é a menor em receita, entre as três áreas de negócios da Valid e foi a única a crescer um dígito, 5,5%, nos nove primeiros meses de 2023, chegando a R$ 460,9 milhões.
Além dessa unidade de negócio, a Valid tem outras duas: Pagamentos, em que oferece soluções para pagamentos e transações digitais financeiras, com receita de R$ 624,2 milhões no mesmo período (crescimento de 25,3%) e a de soluções de Identificação, a menina dos olhos da companhia, cujo principal destaque é a emissão de documentos. Essa divisão gerou R$ 537 milhões em receita no mesmo período, aumento de 15,3% em relação a 2022.
A Valid tem uma posição consolidada no setor público com essa última vertical, mas, desde o início do ano, tem feito esforços para adquirir musculatura também no setor privado.
Em maio, anunciou a aquisição da FlexDoc, startup especializada em automação de processos e validação de usuários de forma digital, cujo principal cliente é a Caixa Econômica Federal — trazendo, portanto, um importante cliente de largada dentro do setor bancário.
Hoje, nas contas da Valid, o segmento de onboarding digital – que inclui soluções de biometria, por exemplo – só no sistema financeiro vale R$ 700 milhões no Brasil. “Buscamos ter uma posição relevante, de 20% a 30% desse mercado”, disse Murias.
O turnaround da empresa vem dando frutos. Hoje a Valid vale R$ 1,7 bilhão na B3, com uma valorização superior a 100% nas ações ao longo do ano.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.