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Gavekal: Nas eleições de Taiwan, expectativa é de “reação contida” da China

Para firma de análise, mesmo a vitória do candidato favorável à independência da ilha não será suficiente para decisões mais 'agressivas’ de Pequim

Taiwan:  Lai Ching-te, candidato do DPP e atual vice-presidente, é o favorito na disputa, mas não é benquisto por Pequim (AFP/AFP)
Taiwan: Lai Ching-te, candidato do DPP e atual vice-presidente, é o favorito na disputa, mas não é benquisto por Pequim (AFP/AFP)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 11 de janeiro de 2024 às 14:57.

Última atualização em 11 de janeiro de 2024 às 15:14.

A eleição presidencial de Taiwan neste sábado, 13, vai colocar a ilha no centro das atenções do mundo. A possibilidade de um inédito terceiro mandato para o Partido Progressista Democrático (DPP, na sigla em inglês) desagrada o comando chinês e traz para o cenário a disputa entre China e Estados Unidos – mas com os olhos também para as eleições americanas em novembro.

Historicamente, tanto o DPP, favorável à independência, quanto o Kuomintang (KMT), pró-Pequim, não permaneceram no poder por mais de dois mandatos consecutivos. Três vitórias consecutivas do DPP poderiam convencer a China de que a ilha está se encaminhando irreversivelmente para a independência.

“A longo prazo, isso poderia levar Pequim a adotar uma política mais rígida em relação a Taiwan. No curto prazo, porém, a resposta deve ser mais contida”, acreditam Yanmei Xie e Tom Miller da Gavekal Research, casa de análises financeiras.
É justamente numa reação contida da China que os mercados estão apostando suas fichas. O principal índice de ações de Taiwan fechou 2023 em alta recorde, com um ganho de 27% ao longo do ano e investidores estrangeiros e domésticos entraram em peso. “As apostas estão corretas”, apontam os analistas.

A percepção é de que se o DPP ganhar outro mandato é improvável que as relações entre China e Taiwan se deteriorem muito mais e, se o KMT vencer, um clima mais calmo retornará, pelo menos por um tempo.

É verdade que Lai Ching-te, candidato do DPP e atual vice-presidente, não é uma figura tão querida em Pequim. É ainda mais mal-quisto do que a atual presidente Tsai Ing-wen, primeira mulher a ocupar o cargo.

No último debate presidencial, Lai afirmou que China e Taiwan não têm afiliação entre si, o que lhe rendeu uma reprimenda da China como um "destruidor obstinado da paz no estreito". Lai já se autodenominou um "trabalhador pragmático pela independência de Taiwan".

“A China ficará incomodada com uma vitória de Lai e pode reagir com uma demonstração de força militar. No entanto, a resposta imediata provavelmente será relativamente contida, para evitar perturbar a frágil calma em suas relações com os Estados Unidos”, argumentam Xie e Miller, da Gavekal.

Quando os presidentes Joe Biden e Xi Jinping se encontraram em novembro, concordaram em restaurar o diálogo militar, em grande parte para evitar que os mal-entendidos em torno de Taiwan se transformassem em um conflito quente, lembram os analistas.

O político do DPP também teve de se adaptar e “se conter” ao longo do tempo. A necessidade política o obrigou a enfatizar o pragmatismo e suavizar a retórica pela independência. Nove em cada 10 eleitores em Taiwan, independentemente de sua preferência final quanto ao status político da ilha, preferem manter a atual relação com a China.

Após três anos de isolamento por causa da covid-19 -- e de demonstrações de força da China em resposta à visita da presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, à ilha em agosto de 2022 --, há uma fadiga palpável da crise e um desejo de calma entre o povo taiwanês. Nesse cenário, Lai afirmou que manterá o ‘status quo’ no estreito e não declarará independência.

Há ainda o acirramento eleitoral. Se vencer, será uma vitória apertada, com menos de 50% dos votos, beneficiando-se de uma oposição dividida. Em 2022, nas eleições locais, o partido saiu derrotado pela insatisfação dos eleitores com sua gestão de questões cotidianas. A mesma insatisfação levará à perda de sua maioria no legislativo nacional no sábado, restringindo ainda mais a margem de manobra de Lai.

Assumindo que Lai, do DPP, vença e mantenha um perfil discreto, os maiores riscos este ano estão em Washington. “Muita coisa pode dar errado. Um candidato presidencial republicano pode decidir visitar Taiwan para obter credenciais de segurança nacional e retratar Joe Biden como fraco em relação à China. E se a eleição de novembro devolver Donald Trump à Casa Branca, a instabilidade retornará”, diz o relatório. Durante seu mandato, Trump alternou entre ameaçar abandonar a política de uma só China e de abandonar Taiwan.

Mas os analistas acreditam que um segundo mandato de Biden não estaria isento de armadilhas. Embora tenha concordado com uma estabilização temporária em torno de Taiwan, Pequim está cada vez mais convencida de que os americanos querem empurrar Taiwan em direção à independência. Segundo eles, a administração Biden concentrou-se mais na defesa de Taiwan do que na política da boa-praça com a China.

O risco de conflito, porém, segue baixo por “problemas domésticos” do alto escalão chinês. Nos últimos meses, Xi expulsou mais de uma dúzia de altos oficiais militares, incluindo um ministro da defesa, provavelmente por acusações de corrupção.

“Se a inteligência americana estiver correta de que as Forças de Mísseis da China se tornaram tão corruptas que alguns mísseis foram encontrados cheios de água em vez de combustível, levará algum tempo antes que Xi tenha confiança em sua capacidade de lançar com sucesso uma ação militar contra Taiwan”, concluem os analistas da Gavekal.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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