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Sem propósito, investimentos não tem o menor propósito

Só há um sentido para os investimentos: que eles estejam comprometidos, direta ou indiretamente, com uma agenda de tranformações

Painel de cotações na B3 (Germano Lüders/Exame)
Painel de cotações na B3 (Germano Lüders/Exame)

Só há um sentido para os investimentos: que eles estejam comprometidos, direta ou indiretamente, em propósito, com uma agenda que leve em conta os desafios de alto impacto hoje enfrentados pelas sociedades na Terra.

Esses compromissos são hoje largamente conhecidos e idealmente não deveria haver capital de investimento que pudesse estar fora desse conjunto de demandas sociais, econômicas e ambientais do mundo contemporâneo.

A sigla ESG (em inglês, Environmental, Social and Governance) surgiu para tentar aglutinar esses desafios num universo mais claramente delimitado, e com nomenclatura conceitual comum a todos.

As tendências de grande escala que moldam o mundo dos investimentos em ESG são bem conhecidas neste momento: o risco da mudança climática e o caminho para o net zero (emissão zero de gás carbônico), a crescente ameaça existencial de perda de biodiversidade, desigualdades sociais, regulamentação e, ultimamente, debate e controvérsia sobre o que exatamente ESG deveria ser.

Segundo indicadores do MSCI (Morgan Stanley Capital International), há cenários de preocupação no horizonte próximo. O MSCI publica índices das principais ações de todo o mundo. O foco principal é auferir o desempenho das Bolsas de Valores. Estes índices são usados como referências para vários fundos de investimentos de diversos países.

Segundo eles, número maior investidores em boards de grupos de investimento votaram contra as estratégias de clima corporativo em 2022 em comparação com 2021. “Descobrimos que os investidores tendiam a votar contra os planos climáticos em 2022, quando a trajetória de emissões da empresa estava desalinhada com as metas globais de temperatura”.

A turbulência recente nos mercados de energia e o foco na segurança energética podem mudar alguns comportamentos na votação futura de desses investidores, mas 2023 é um ano importante para observarmos seu comportamento

Companies’ emissions trajectories and 2022 say-on-climate vote results

Analysis covers all 43 constituents of the MSCI ACWI IMI that held management-sponsored say-on-climate votes in 2022 to date. The percentage of votes against accounts for votes in favor and votes withheld/abstained. Data as of Nov. 9, 2022. Source: MSCI ESG Research and company disclosures

No entanto, apesar dessa tendência que parece mais imediatista do que de largo prazo, projeções apontam para que investimentos que estejam engajados com esses compromissos da agenda ESG cresçam nos próximos anos em todas as regiões geográficas do mundo, com destaque para a Europa e EUA. Veja gráfico abaixo.

(Reprodução)

Há também otimismo no mundo dos investimentos financeiros, como mostra o gráfico abaixo.

  1. Environmental, social, and governance (ESG) considerations now take a critical role in how PE funds are making investments.

(Reprodução)

O estudo do MSCI reúne uma série de depoimentos de investidores e analistas globais sobre o tema. Abaixo, alguns deles.

Abe Yokell, co-fundador e sócio-gerente da Congruent Ventures

“O investimento em tecnologia climática emergirá como um porto seguro relativamente previsível para empreendedores, refugiados de tecnologia e investidores. Os impactos inevitáveis das mudanças climáticas, juntamente com a Lei de Redução da Inflação recentemente aprovada nos EUA, criarão as condições/precedentes para uma longa ´corrida de touros` no cenário da tecnologia climática”.

Claude Grunitzky, CEO, The Equity Alliance

“O capital de risco sempre foi um jogo para os brancos, mas as coisas estão começando a mudar. Estou vendo tantos sinais que confirmam o que eu já suspeitava: apesar dos desafios de captação de recursos que enfrentamos, os fundos geridos por mulheres e pessoas de cor estão começando a superar os fundos liderados por homens brancos."

Erin Harkless Moore, Diretora de Investimentos, Pivotal Ventures

“Não temos dúvidas de que fundadoras e fundos liderados por mulheres se mostrarão resilientes, e mais investidores irão apostar na diversidade como uma jogada inteligente em 2023. Para encurtar a história, se você não está apoiando as mulheres, está perdendo. Os dados mostram que as empresas fundadas por mulheres continuam a vencer o mercado mais amplo, saindo mais rapidamente, com valores mais altos para os investidores. Dada a crise econômica e a incerteza, muitos investidores podem racionalizar seus portfólios de fundos e cortar aportes em 2023; no entanto, se inclinarão para os negócios emergentes e promissores nos setores em fintech, saúde, futuro do trabalho e sustentabilidade.”

Esses cenários nos colocam diante do compromisso de que cada investidor deve se engajar em sua própria agenda de compromissos e que ela tenha aderência a agenda geral das sociedades contemporâneas e do Planeta.

Sem propósito, investimentos hoje ficam sem qualquer propósito.

(*) Obrigado Dani Benoit pela orientação e fontes.