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Porque empresas e negócios dependem mais da imaginação do que da razão

"A implicação prática de se supor que é a razão que domina os negócios é as empresas, no tempo, passarem a conceber-se como uma planilha"

 (nadia_bormotova/Getty Images)
(nadia_bormotova/Getty Images)
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Pyr Marcondes

Publicado em 15 de maio de 2021 às, 10h08.

Por Pyr Marcondes 

É consenso que negócio é razão. É não.

A falsa ideia decorre de que negócios e empresas são regidos por financials. Verdade. Mas só depois. Excell gere empresas, mas não gera empresas.

Todo e qualquer negócio e empresa que você e eu conhecemos nasceram antes de uma ideia. A razão só correu atrás depois.

A mais valiosa empresa do mundo Ocidental, a Apple, que dias atrás tinha seu market cap avaliado em US$ 2.2 trilhões, nasceu, como todos sabemos, numa garagem da casa da família Jobs em Palo Alto, Califórnia. Eram dois Steves, o Jobs e o Wozniak, um amontoado emaranhado de gadgets eletrônicos e uma ideia disruptiva na cabeça.

A Amazon, que disputa com a Apple o inalcançável posto de maior empresa do mundo ocidental, e que dias atrás tinha seu market cap em US$ 1.7 trilhões, nasceu num apertado galpão. Mais para uma salinha de depósito improvisada, em Seattle, Washington. Jeff Bezos, com apoio de sua esposa na época, MacKenzie Bezos, tinham, além do galpãozinho, da mesma forma, uma ideia disruptiva na cabeça.

A implicação prática de se supor que é a razão que domina os negócios é as empresas, no tempo, passarem a conceber-se como uma planilha. Negócios e empresas só superam-se no âmbito da sua própria re-imaginação. No mundo das startups, isso se chama pivot. No âmbito corporativo mais pesado, chama-se change management. Ambos desafios no âmbito das idéias, não da matemática.

Negócios e empresas deveriam erigir uma estátua institucional em Wall Street devotada à imaginação. Sem ela, nem a própria bolsa existiria, porque também ela nasceu antes na imaginação criativa dos que perceberam que a trama mercadológica das companhias precisava de uma instância que regesse seus capitais de forma estruturada, em que a troca de ativos fosse aberta às forças do capitalismo moderno.

Wall Street foi, antes de ser bolsa, uma ideia de ser bolsa.

Esse princípio ganha particular relevância em um mundo exponencial, em que os negócios que se congelam, morrem. Razão, nada mais é do que a concepção lógica do conhecido. A imaginação é o original feito alavanca e a inovação tornada ferramenta. Para empresas e negócios, é o sopro original de sua própria existência. E seu oxigênio de superação no decorrer da sua história. 

A obsolescência é uma inevitabilidade para um pedaço cada vez mais vulnerável de todas as indústrias. Ela é a rainha entronizada da razão determinista. A razão é burrinha. A imaginação, no mundo das empresas e negócios, é a inteligência criativa que opera o novo. E suas maravilhas.

Quer um exemplo inequívoco de tudo isso? A lista das maiores e mais relevantes empresas do mundo corporativo hoje (incluindo aí, claro, Apple e Amazon). Elas enterraram suas antecedentes por sua cruel capacidade de imaginar-se de tal forma diferenciadas, que tornaram centenas de anos de conquistas em páginas viradas da história. E serão, elas mesmas, obliteradas pela imaginação evolutiva de suas sucedâneas. Se comerem bola.

Jeff Bezos decretou que a Amazon estará morta em alguns anos. Será uma empresa trilionária, que terá perdido valor. Seu fôlego de superar-se a sua própria reimaginação terá se esgotado em si mesmo.

O grupo Dentsu Aegis, de propaganda, durante alguns anos, utilizou de uma tagline que eu adorava. Era assim … “uma empresa que planeja sua própria obsolescência”. Brilhante.

Acho até que eles não praticavam o que pregavam. Mas a ideia de que a obsolescência é o envelhecimento de sua própria concepção era inspiracionalmente renovadora. Isso, de novo, é imaginação. Não razão.

As boas ideias ... são elas que movem o mundo. Tudo no mundo. No ambiente dos negócios e das empresas isso não é, nem de longe, diferente. Ao contrário, como em todo o resto, é sua própria essência.

Quando você empresário, executivo, colaborador, empreendedor, deixar-se iludir exclusivamente pela razão no mundo corporativo, heads up: você estará nutrindo o início do seu fim. E de seu negócio.

Solte o Jobs e o Bezos que existem em você. 

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