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Josef Rubin: conhecimento é ter acesso à informação, aprendizado é colocar em prática

Neste Papo de Tubarões falo com CEOs e founders de grandes empresas e de pequenas startups

Josef Rubin (Josef Rubin/Reprodução)
Josef Rubin (Josef Rubin/Reprodução)

Neste Papo de Tubarões falo com CEOs e founders de grandes empresas e de pequenas startups. É muito bom ouvir sobre as diferenças entre o pequeno e o grande. Sabe qual é? Nenhuma. Todo empreendedor começa com um sonho, trabalha com disciplina, dedicação e, um dia, sem saber como nem quando, o negócio cresce e escala. É isso o que fazemos aqui: conhecer pessoas, porque atrás de grandes negócios sempre existem grandes pessoas. Queremos saber o que elas fazem, o que pensam, qual a sua história, quando aconteceu o clique da ideia e descobriram que iriam se dedicar a isso o resto da vida. Assim funciona o Papo de Tubarões. 

Em 2024 continuaremos a conversar com vocês, empreendedores, inovadores, pessoas de talento que buscam um país e um mundo melhor, que mostram que precisamos aprender, buscar, evoluir e acreditar para conquistar o que sonhamos. Que o próximo ano traga muita paz, prosperidade e novas águas para todos os tubarões, pequenos ou grandes, acreditam em si e na capacidade que todos temos de criar, crescer e construir um mundo melhor para todos.

Estamos encerrando 2023 com um tubarão sensacional, o Josef Rubin, da Conquer, que criou um negócio revolucionário numa área que é o futuro do Brasil: Educação.

Antes de começar, me conte, quem é Josef?

Sou cofundador da Conquer, uma escola de negócios da nova economia, que tem sete anos, mais de 4,7 milhões de alunos e vem revolucionando o ensino no Brasil. Desenvolvi minha carreira principalmente em multinacionais, onde fui crescendo como executivo, até o momento em que estava bem, era expatriado do Grupo Boticário na Colômbia, onde morava há dois anos. Eu havia começado a operação do zero e estava sendo sondado pela empresa para ir para outro país. 

Numa passagem pelo Brasil, dois amigos que também estavam bem em termos de carreira me questionaram sobre o que eu mais me orgulhava entre tudo que havia realizado e se tinha aprendido isso na faculdade, na pós ou no MBA. Eu respondi que uma ou outra coisa, mas tinha aprendido mesmo na prática, errando, acertando, trabalhando muito. E foi assim que tivemos a ideia de abrir uma escola para ensinar tudo aquilo que gostaríamos de ter aprendido em aula, mas não aprendemos. Foi daí que nasceu a Conquer, à qual venho me dedicando nos últimos sete anos. Estamos apenas começando, mas já causamos um grande impacto no país.

Acho que o seu é um trabalho muito sério, que mostra a verdade do que é empreender. Porque não existe atalho, ninguém fica rico de um dia para o outro como muitas vezes anunciam pelo marketing digital.

Estar onde estamos em apenas sete anos é fora da curva. Se analisarmos alguns gráficos, 60% das empresas no Brasil fecham em até cinco anos.  Para cada case de sucesso, quantas falhas existiram? O empreendedorismo é uma grande oportunidade, mas nem todos conseguem sucesso.

Precisa ter disciplina, resiliência, resistência, determinação, algumas skills muito importantes para empreender e ter sucesso. Eu sempre falo que essas skills nascem no esporte, onde temos sempre que fazer de novo, acertar e errar, modelar o acerto e continuar.

Porque trabalho com Educação, muita gente com filhos pequenos me questiona sobre qual o tipo de educação empreendedora eu indicaria para essas crianças. Já pesquisei muito sobre isso e acredito que o esporte é o melhor ensino empreendedor e de vida que uma criança pode ter. Ela vai aprender a dar importância ao treino, ao trabalho em equipe. Mesmo que seja um esporte individual, vai aprender a falhar, a errar, ter frustrações, a correr atrás para conseguir fazer tudo de novo, ou seja, coisas básicas para que as pessoas possam crescer.

Empreender dói e treinar também dói. Esse aprendizado é fundamental para quem quer ter sucesso. Mas eu também digo que existe uma diferença muito tênue entre a resistência, a resiliência e a teimosia. Às vezes a gente se apaixona por uma ideia e quer fazer dar certo de qualquer jeito. Às vezes dá, às vezes não. E aí?

Fiz, com meu time, um estudo da grade e das ementas dos 100 maiores MBAs do mundo e verificamos que 100% deles têm aula de planejamento estratégico enquanto menos de 5% têm aula de execução. Só que é ao longo da execução que o negócio acontece, que você ajusta sua estratégia, melhora a gestão. Tem que ter barriga no balcão. Essa foi uma característica muito forte da Conquer desde o começo: oferecer aulas de execução, de produtividade, de gestão do tempo e como lidar com o dia a dia de um negócio. 

Há uma diferença entre conhecimento e aprendizado: conhecimento é ter acesso a uma informação, aprendizado é colocar em prática, errando ou acertando. É assim que se aprende, pondo a mão na massa, não tem segredo.

A estratégia é grande parte da vitória na guerra que é o mercado em geral. Acredito que 60% do tempo do líder da operação, do empreendedor, deve ser dedicado à estratégia. Depois vai planejar e ver como fazer.  Você concorda?

Sim. Nós criamos a empresa porque havia uma oportunidade de mercado gigantesca: as pessoas aprendem um monte de coisas que não vão utilizar e não aprendem o fundamental. Fomos para o exterior, frequentamos várias iniciativas super inovadoras de Educação e criamos nossa metodologia de ensino. Criamos uma sede bonita em Curitiba, que foi a nossa primeira, mas nada de vir alunos. Sim, porque uma coisa é ter um produto muito bom, outra é saber vender. 

Então começamos a desenhar a estratégia de como ir atrás desses primeiros alunos e entendemos que eles estavam no LinkedIn, onde se encontram profissionais que querem crescer no mercado de trabalho e perceberam que o ensino de habilidades na faculdade, na pós, não foi suficiente. Nossa estratégia foi enviar um convite para uma aula de degustação, via mensagens pelo LinkedIn, para 10 mil pessoas. Dessas, 400 vieram para a aula degustação e 36 viraram nossos alunos. E aí a roda começou a girar: começamos com 36 e hoje temos quase 5 milhões de alunos. 

Nós mantivemos essa estratégia de aula degustação até hoje: a Conquer faz uma ou duas liberações de curso completo por ano, de forma 100% gratuita. Isso porque confio tanto no meu produto, que sei que a pessoa vai terminar esse curso e se matricular para outros. Essa tem sido a estratégia de crescimento da Conquer desde o comecinho: só mudou de escala.

Você tem algum outro produto além dos cursos, aproveitando esse canal?

Temos três produtos principais: um é o Conquer Plus, uma assinatura com valor bem acessível de uma plataforma tipo Netflix, em que o aluno tem acesso a mais de 85 cursos e a um aplicativo que é um dos melhores de Educação do Brasil. Também temos pós-graduações com selo do MEC, mas que têm, principalmente, o selo do mercado: são totalmente fora da curva, com professores que vivem o que ensinam, metodologia bem fácil, bem mão na massa. Por fim, temos as imersões presenciais, com aulas de gestão, inovação, empreendedorismo e por aí vai. Nós sempre dizemos que em casa de ferreiro o espeto tem que ser de ferro: nossos professores são referência naquilo que ensinam. Eles não ensinam só o que fazer,  mas o como. 

Acho muito importante que as pessoas estudem, porque muitas abrem negócio sem conhecimento, sem saber pelo menos pouco de técnica antes de ir para a prática. Por isso sempre falo: se preparem para poderem empreender.

Se preparem e continuem: é o que chamamos de lifelong learning, aprendizado ao longo da vida. Antes a pessoa terminava a faculdade aos 23 anos, em média, e daí não queria estudar mais.  Na jornada empreendedora, mesmo se o negócio der certo, o empreendedor precisa continuar estudando o tempo todo, para poder fazer esse negócio crescer, para escalar, para saber liderar, para aprender a delegar para outras pessoas.

Há pouco tempo tive uma reunião com uma agência de marketing porque queríamos fazer um rebranding da Conquer e atualizar a marca depois desses sete anos. Só que antes dessa reunião fiz um curso de branding para me atualizar e entender o que eles estavam falando. Como alguém que está começando não dedica um pouco de tempo para estudar e se atualizar?

O mundo está mudando muito rápido, o que era ontem, hoje não é mais. Não dá para ficar parado no tempo:  quem não se atualiza joga dinheiro fora em coisas que já não dão resultado.

E tem mais: o digital permite acesso a conhecimentos que não tínhamos lá atrás, aos melhores professores, com custos muito menores e até mesmo sem sair de casa. A acessibilidade do ensino digital é uma revolução silenciosa na Educação.

Nós incluímos uma gameficação no aplicativo do Conquer Plus para que os assinantes façam os cursos, vençam desafios, ganhem pontos num ranking e, então, oferecemos prêmios aos melhores colocados. Esse ranking é zerado todos os meses e a pontuação começa de novo. Como é uma coisa leve, de entretenimento, torna o aprendizado mais gostoso e, hoje, a taxa de pessoas que acessam o aplicativo todos os dias é de 50% entre os nossos milhares de assinantes. 

Qual o futuro da Conquer?

Ela ainda é muito pequena para aquilo que oferece: um produto muito bom com uma alta taxa de retorno para investimento feito pelos alunos. Nós queremos levar a Conquer para mais pessoas e por isso nos juntamos há dois anos ao Flávio Augusto, da Wiser Educação, o maior grupo de Edtech da América Latina, que faz um excelente trabalho em desenvolvimento de canais de venda e expansão. Hoje nosso objetivo é acelerar e crescer muito naquilo que fazemos muito bem e poucas pessoas conhecem. 

O ensino tradicional, principalmente o infantil, vem sendo o mesmo desde a época da Revolução Industrial, ao contrário de todas as coisas que evoluíram muito numa velocidade absurda. Então temos muito o que fazer.

O futuro vai ser?

Vai ser ensino adaptativo, que é uma das maiores tendências em Educação. A pessoa estuda, a máquina de Inteligência Artificial vai entendendo o seu nível de aprendizado em determinados assuntos e passa a enviar conteúdos personalizados para aquilo que ela precisa. O ensino tende a ser mais individualizado, em vez de ser um único tipo para todo mundo como o tradicionalista, pelo qual o aluno tem que ser bom em tudo. Por isso faço uma analogia: não se pode julgar um tubarão pela habilidade que ele tem de subir em árvores. 

A vida pessoal ou do empreendedor não é uma questão de marcar X: existem vários caminhos a seguir e não necessariamente certos ou errados. Alguns vão dar errado, mas podem existir outros três que vão dar muito certo. Pessoas diferentes vão ter caminhos diferentes, mas por enquanto somos medidos pela questão de marcar X, pela resposta certa ou errada. E como falar que estamos formando nossas crianças para exercerem profissões que a gente nem sabe que irão existir?

Como preparar as crianças que provavelmente irão se aposentar em 2080, 2100?

Estamos preparando nossas crianças para coisas que não vão utilizar e nem são importantes para hoje. Imagine para 2100! O ensino tem que ir para o lado das soft skills, saber como se comunicar bem, ter inteligência emocional, saber gerir bem seu próprio tempo: habilidades humanas para usar a tecnologia como cada um quiser. É o que o esporte ensina: resistência, resiliência.

Sua escola tem a missão de mudar a vida dos alunos. Vocês medem os resultados, têm algum day after para eles, continuam apoiando, ou eles terminam o curso e é isso?

Nosso propósito é revolucionar a Educação para formar os profissionais que fazem a diferença no país. Mas saindo da frase bonita, qual é verdadeiramente nosso propósito como Educação: colocar dinheiro no bolso das pessoas, dar independência financeira, ajudar a crescer na carreira, a ser promovido ou conseguir fazer uma  transição profissional. É um investimento de tempo e de dinheiro. As faculdades americanas fazem uma coisa que não é feita no Brasil: medem o ROI, o retorno de investimento. Por isso, rodamos uma pesquisa em parceria com o Datacenso e descobrimos que 611 milhões para os nossos alunos. 

Acho que é preciso revolucionar a Educação para uma linha que não seja estudar por estudar ou para ter um diploma, mas para conseguir, com esse ensino, gerar valor para a sociedade de alguma forma e ter mais dinheiro no próprio bolso. Por isso, não invisto no aluno depois: eu o deixo pronto, desenvolvo nele habilidades que antes não tinha para que possa seguir sozinho.

Qual sua mensagem para nossos tubarões?

É aquela que já mencionei. Conhecimento é ter acesso à informação, aprendizado é colocar em prática. Então busquem, cada vez mais, experiências de aprendizado na prática.