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O poder do pedido – ou a força da cara de pau

Para Steve Jobs, pessoas que realizam têm a capacidade de pegar o telefone e ter a cara de pau de pedir alguma coisa

Steve Jobs: "Eu nunca encontrei alguém que não quisesse me ajudar se eu pedisse ajuda" (Kimberly White/Getty Images)
Steve Jobs: "Eu nunca encontrei alguém que não quisesse me ajudar se eu pedisse ajuda" (Kimberly White/Getty Images)

Muitos já viram um vídeo de Steve Jobs que circula nas redes sociais, contando uma história que também foi registrada na biografia escrita pelo jornalista Walter Isaacson. Nesta gravação, ele fala sobre o poder que um pedido pode ter (e a diferença que isso pode fazer em sua vida). “Eu nunca encontrei alguém que não quisesse me ajudar se eu pedisse ajuda”, diz Jobs. “Eu sempre liguei para as pessoas”.

Talvez você esteja matutando nessa hora: “Mas quem não ajudaria Steve Jobs?”. Um dos empresários mais geniais da história, ele seria atendido por qualquer pessoa do mundo, fã ou não da Apple e de outras iniciativas brilhantes, como a Pixar. Antes de mais nada, porém, leia o restante deste depoimento do criador do iPhone:

“Eu liguei para Bill Hewlett [o “H” da HP, empresa que fundou com David Packard] quando tinha doze anos de idade. Ele morava em Palo Alto e seu número ainda estava na lista telefônica. Ele atendeu o telefone e eu disse: ‘Oi, eu sou Steve Jobs, tenho doze anos, sou estudante do ensino fundamental e quero fazer um contador de frequências. Estava pensando se você não teria algumas peças sobrando que eu pudesse pegar’. Ele deu risada e me deu as peças para construir o contador de frequências e também me deu um emprego naquele verão na Hewlett-Packard, onde eu trabalhei na linha de produção. […] Eu nunca encontrei alguém que disse não ou desligasse o telefone quando ligava para pedir ajuda. Eu apenas perguntava”.

Para Jobs, o que separa as pessoas que sonham daquelas que realizam é a capacidade de agir, como pegar o telefone e ter a cara de pau de pedir alguma coisa. Obviamente, o discurso de quem faz esse tipo de coisa tem que ser tão ousado quanto a iniciativa em si. E, no caso da história contada por Jobs, o fato de ele ter apenas doze anos de idade fez boa parte do trabalho.

Ele manteve a audácia em seu caráter por muito tempo. Nos diários do artista plástico Andy Warhol, há uma passagem que descreve esse traço de personalidade do criador da Apple. Escrevi sobre isso em 17 de março de 2022. Vale a pena reler esse trecho:

A Netflix acaba de lançar uma minissérie sobre o artista Andy Warhol, baseada em seus diários. Uma determinada passagem fala sobre a noite de 9 de outubro de 1984. Era o aniversário do filho de John Lennon e de Yoko Ono, Sean, e Warhol tinha sido convidado, assim como o jornalista Walter Cronkite e o compositor John Cage. Lá pelas tantas, ele vê o aniversariante brincando com um computador da Apple ao lado de um rapaz que o ajudava a mexer na máquina.

Warhol estava acompanhado do também artista Keith Haring, que ficou encantado com o programa de ilustração do computador (na época, a maioria dos PCs não tinha interface gráfica). Intrigado, se aproximou e viu que era um Macintosh. Warhol disse para o rapaz ao lado de Sean Lennon: “Macintosh? Tem um cara que me liga toda semana querendo me dar um aparelho desses”.

O jovem, então, respondeu e estendeu a mão: “Sou eu mesmo. Muito prazer, Steve Jobs”.

Esse expediente, convenhamos, é imprescindível para qualquer empreendedor ou executivo que se preze. Portanto, vamos parafrasear o poeta Vinícius de Moraes em seu poema “Receita de Mulher”, de 1959: os tímidos que me perdoem, mas a desfaçatez é fundamental.