Honda e Nissan negociam megafusão para mudar de rota e enfrentar concorrência
Acordo pode criar a terceira maior montadora do mundo, mas desafios tecnológicos, ofensiva chinesa e históricos de fusões no setor deixam dúvidas no ar
Publicado em 23 de dezembro de 2024 às 09:34.
Última atualização em 23 de dezembro de 2024 às 11:20.
As japonesas Honda e Nissan assinaram nesta segunda-feira, 23, um acordo para dar início formal às negociações para a fusão das duas empresas. Uma união que vinha sendo ensaiada desde o começo de 2024 e que pretende colocar as japonesas em pé de igualdade com a concorrência – se não for tarde demais.
A eletrificação da frota está fazendo o setor automotivo passar por uma transformação significativa e, também, cara. Nesse novo cenário, novos jogadores entraram em campo ganhando força, como a Tesla do bilionário Elon Musk, mas as adversárias mais duras para as tradicionais montadoras tem sido as chinesas, como BYD e GWM, que têm inunando o mundo com seus veículos.
"A ascensão das montadoras chinesas e de novos concorrentes mudou bastante a indústria automobilística", disse o CEO da Honda, Toshihiro Mibe, durante a coletiva de imprensa desta segunda-feira, 23. "Precisamos desenvolver capacidades para competir com eles até 2030, caso contrário, seremos derrotados."
Honda e Nissan, respectivamente a segunda e terceira maiores montadoras do Japão, se uniriam a um número crescente de gigantes automotivos tradicionais, como General Motors e Volkswagen, que estão fortalecendo alianças para compartilhar os altos custos de desenvolvimento de veículos de nova geração.
Também marcaria a maior transformação na indústria automotiva global desde a fusão da Fiat Chrysler Automobiles com a PSA em 2021, que resultou na criação da Stellantis, em um acordo de US$ 52 bilhões.
Isso porque, se o negócio for fechado, a empresa combinada será a terceira maior montadora do mundo em número de vendas: Nissan vende cerca de 3 milhões de veículos anualmente e a Honda, 4 milhões, num faturamento combinado que chegaria a US$ 191 bilhões.
Nos próximos seis meses as empresas irão discutir a combinação de suas operações sob uma holding. A meta inicial é concluir as negociações até junho de 2025, com um plano para concluir a fusão em agosto de 2026. Espera-se que a Mitsubishi, da qual a Nissan é a principal acionista, entre no negócio até o final de janeiro de 2025.
Concluída a fusão, apenas as ações da nova companhia seriam negociadas em Bolsa. Considerando o valor de mercado atual, a fusão valeria mais de US$ 50 bilhões.
O anúncio vem num momento onde ambas empresas japonesas buscam um melhor posicionamento no mercado, especialmente a respeito da transição energética para os híbridos e elétricos.
Apesar da ampliação de escala, as montadoras japonesas precisarão provar que sua parceria acelera o desenvolvimento de novos veículos, diz Tang Jin, pesquisador sênior do Mizuho Bank ao New York Times. Caso contrário, a fusão pode acabar sendo apenas “uma reunião de empresas fracas”.
Fusões no setor automotivo têm um histórico misto. O grupo DaimlerChrysler se separou após nove anos. Já a Stellantis, viveu recentemente a renúncio de seu CEO, Carlos Tavares, após pressões para o crescimento do negócio.
No ano passado, Nissan e sua parceira de longa data, Renault, começaram a desfazer sua aliança. Pouco depois, Honda e GM abandonaram um plano para desenvolver veículos elétricos mais acessíveis.
A Nissan ainda trava batalhas legais com o empresário franco-brasileiro de origem libanesa, Carlos Ghosn, que comandou a Aliança Renault-Nissan. Acusado de corrupção e após executivos da montadora terem organizado sua prisão, Ghosn organizou uma fuga cinematográfica para o Líbano. Segundo ele, uma união com a Honda mostra que a Nissan está no "modo pânico".
Conversas antigas
Em março, Honda e Nissan já haviam iniciado uma colaboração em pesquisa para eletrificação e desenvolvimento de software, expandindo a parceria para incluir a Mitsubishi. A parte de software é outra em que as empresas querem chegar mais perto dos concorrentes.
A fusão viria num momento desafiador especialmente para a Nissan, que anunciou recentemente o corte de 9 mil empregos e uma redução de 20% em sua capacidade global de produção após quedas expressivas nas vendas na China e nos Estados Unidos.
A Honda, com um valor de mercado de mais de US$ 40 bilhões (quatro vezes maior que a da Nissan), deverá assumir a liderança na nova holding, indicando a maioria dos membros do conselho, segundo a NHK.
Entre as formas de integração discutidas estão o fornecimento de veículos híbridos da Honda para a Nissan e o uso compartilhado de fábricas, como a unidade da Nissan no Reino Unido.
As ações da Nissan fecharam em alta de 1.58%, enquanto os papéis da Honda avançaram 3.82%, ambos na bolsa de Tóquio.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado
Luiz Anversa
Repórter colaboradorCom mais de 15 anos de mercado, passou por Jornalistas&Cia, RedeTV e Yahoo, sendo redator, repórter e editor. Tem experiência na área econômica com big techs, inteligência artificial e branded content